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PIB DO PIAUI 2017: UM CRESCIMENTO CHINÊS?

É um crescimento espetacular diante das baixas taxas de crescimento do PIB que vêm perseguindo o Brasil e os estados, há quatro anos. Mas, algumas qualificações precisam ser feitas

Antonio José Medeiros

Terça - 26/11/2019 às 10:38



Foto: Imagem ilustrativa/Google Crescimento do PIB
Crescimento do PIB

Na terceira semana de novembro, como acontece todo ano, o IBGE e a CEPRO anunciaram o PIB do Piauí de 2017, bem como o PIB de todos os estados da Federação naquele ano. Na terceira semana de dezembro, será anunciado o PIB dos Municípios do Piauí e de todos os 5.670 municípios brasileiros.

            É uma conquista da contabilidade pública nacional: calcular o PIB do país, dos estados e dos municípios com a mesma metodologia, permitindo, portanto, análises comparativas. A série assim compatibilizada vem de 2002; são 16 anos! Dá para se fazer boas análises da evolução histórica. O IBGE tem publicado a cada ano o Boletim das Contas Regionais que resgata o resultado do último ano e a série histórica. Longa vida ao IBGE e à CEPRO, agora como Superintendência da SEPLAN, mas desempenhando as mesmas funções.

            A repercussão tem sido pequena, em todo o Brasil. É que a conclusão do cálculo e o anúncio é feita dois anos após o ano-base. Ora, os Órgãos estaduais equivalentes à CEPRO estão propondo ao IBGE uma metodologia comum de estimativa trimestral dos PIBs estaduais do ano em curso.

Quando Presidente da CEPRO, propus que fôssemos antecipando em dois meses a cada ano o cálculo do PIB estadual e dos municípios, de modo que o PIB nacional fosse divulgado até julho do ano subsequente (como já é feito) e o dos estados e municípios até dezembro, também do ano subsequente. Como se trabalha com registros de dados e se dispõe de bons programas de computador, isso é possível. Fica mais uma vez a sugestão.

Mas vamos direto ao PIB do Piauí e dos demais estados. O Brasil cresceu 1,3% em 2017, depois da queda de -3,5% tanto em 2015 como em 2016. O Piauí cresceu 7,7%, depois da queda de -1,1% em 2015 e -6,3% em 2016. Foi o segundo estado do país que mais cresceu, ficando atrás apenas de Mato Grosso que cresceu 12,1%. Foi o estado do Nordeste que mais cresceu, seguido do Maranhão que cresceu 5,3%, logo depois de Rondônia que cresceu 5,4%.

É um crescimento espetacular diante das baixas taxas de crescimento do PIB que vêm perseguindo o Brasil e os estados, há quatro anos. Mas, algumas qualificações precisam ser feitas.

A alta taxa parece chinesa, mas não é. A China mantém um ritmo de crescimento constante, há 40 anos, semelhante embora ao do Brasil entre 1930 e 1980, embora mais consistente, pois não conheceu nenhuma fase de recessão. O crescimento do Piauí em 2017 parece mais com o Brasil em 2010. Sob o impacto da crise mundial de 2008, o Brasil teve uma queda de -2,9% em 2009; as medidas anticíclicas do governo Lula retomaram o crescimento em 2010 com uma taxa de 7,5%. De fato, o crescimento foi de 4,6% (uma das maiores em 10 anos), pois, 2,9% foi recuperação da queda do ano anterior.

A mesma coisa no Piauí em 2017: 6,3% do crescimento de 2017 é recuperação dos -6,3% de 2016; o crescimento real foi de 1,4%, um pouco acima do crescimento nacional.

A análise dos setores que contribuíram para esse grande crescimento é mais esclarecedora. O grande crescimento veio quase exclusivamente da retomada do agronegócio. A agropecuária cresceu 130,3%, repondo a grande quebra da safra de soja e milho em 2016 pela estiagem no Cerrado. A soja cresceu 211,9% e os demais grãos (milho, feijão, arroz e fava) cresceram 142%, com peso especial do milho. Tanto assim, que a agropecuária que representou 5,1% do PIB em 2016 passou a representar 9,4% em 2017.

O setor industrial, no Piauí, cresceu 2,0% em 2017. E aqui registramos um fenômeno interessante. O subsetor Construção Civil, refletindo a crise nacional, decresceu -9,8%. Mas o setor Eletricidade e Gás, Água e Esgoto cresceu 14%. Pela primeira vez, começa a ter peso considerável no PIB do Piauí a produção de energia eólica; a energia solar deve aparecer nos anos de 2018 ou 2019. Antes, só Guadalupe e um pouco Parnaíba e Ilha Grande pontuavam em valores significativos em energia. Em dezembro, saberemos a localização municipal desse aumento da produção; provavelmente municípios do Vale do Itaim. O setor industrial continuou representando 12% do PIB piauiense.

 O setor de serviços cresceu também 2,0% e, com o crescimento do peso da agropecuária, passou a representar 78,5% do PIB em 2017, quando representava 82,2% em 2016. O destaque aqui é para os subsetores Alojamento e Alimentação e Informação e Comunicação que cresceram 10%.

 O PIB de 2017 já começa a sinalizar a redução da adição de valor do subsetor Administração Pública e Seguridade Social, com o corte nos programas sociais e nas transferências federais. O subsetor cresceu 1,5% e seu peso na composição do PIB caiu de 34% para 33,1%.

Considerando toda a série histórica 2002-2017, o Piauí voltou a ser o terceiro estado com a maior variação acumulada do PIB, com 86,1%, seguindo Mato Grosso (11,2% em 16 anos) e Tocantins (109,8%). Isso fez com que o PIB piauiense que, em 2002, representava 0,5% do PIB brasileiro passasse a representar 0,7%. O Ceará, por exemplo, acumulou apenas 52,9% de crescimento em 16 anos, bem verdade que acima do Brasil que só acumulou 42,% no mesmo período.

Um período razoável de crescimento acima da média nacional tem impacto sobre as condições de vida do povo. É o que veremos com a análise da evolução do PIB per capita, na próxima semana.

Antônio José Medeiros

Antônio José Medeiros

É sociólogo, professor aposentado da UFPI. Licenciado em Filosofia pela UFPI e Mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP. Foi professor em escolas estaduais de nível médio do Piauí, em 1968 e 1971 e na UERJ e Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, em 1973 e 1974. Trabalhou como técnico sênior na CEPRO/SEPLAN-PI e coordenou o Setor de Educação do Polonordeste na SEDUC-PI, de 1978 a 1980. Professor concursado da UFPI, onde trabalhou de 1981 a 2007.
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