No Brasil, o marco do fim da escravidão dista há mais de cem anos. Abre-se as gargalheiras, as golilhas, as correntes, as manilhas e os libambos. Libertam-se corpos e as mentes?
O poder público constituído, as instituições e os nossos representantes foram incapazes de planejar e executar instrumentos para solucionar os gargalos que impedem o desenvolvimento e a liberdade. A pleite humana já liberta. Inicia-se doravante a escravidão contemporânea.
A escravidão contemporânea sustentada pela desqualificação, o sentimento de servidão e as correntes mentais que permearam e permeiam na nossa sociedade, sejam em mocambos rurais ou em senzalas urbanas, proliferando o trabalho escravo e a violência. Em guetos, onde se morre de fome um pouco a cada dia, de bala antes dos 20 e de doenças previníveis em cada estação, parafraseando o poeta João Cabral de Melo Neto.
Ser vivo hoje é sempre uma oportunidade, oportunidade de vida, de luta, de reconhecer-se como ser humano, e sermos agentes do desvio da rota para o abismo, evitando o suicídio coletivo. A sociedade contemporânea necessita olhar pela consciência, entender o saber do sentir, mas pelo vazio de sentimento busca a compensação no consumismo.
Vivemos numa sociedade consumista. Construir desenvolvimento e liberdades faz-se necessário conhecimento.
A educação foi negada a essa massa livre das correntes e libambos, tornando-a incapaz de libertar as correntes mentais, continuando em um corpo há muito sequestrado. Sem a tomada de consciência continuaremos submersos e inertes, a mudança de atitude tão necessário para desbloquear as artérias capazes de construir um processo de lucidez continuará com o engodo da história que nos foi ensinada.
Viva a liberdade e não a escravidão.
*Benjamim Pessoa Vale - Médico, MBA em Gestão Empresarial e Empreendedor Social.