Como construir um Natal sem desigualdades? Para responder a essa pergunta, é necessário avaliar o país com visão sistêmica e relembrar os movimentos vividos. Nasci no Brasil rural, sem escolas, em um país marcado pela baixa escolaridade e pela renda familiar insuficiente. Em 1960, apenas 20% dos jovens de até 15 anos frequentavam a escola por até quatro anos.
Construir a equidade é emergir de águas profundas e escuras, visto que a educação é o farol para o mercado de trabalho, a mobilização social e a participação política.
Vivemos o auge da desigualdade em 1989, quando a renda dos 5% mais ricos era 79 vezes maior do que a dos 5% mais pobres. Em 2012, essa diferença caiu para 36 vezes.
Precisamos de uma mudança cultural e do envolvimento de todos os setores da sociedade. É necessária a participação ativa da sociedade civil em projetos que impulsionem o desenvolvimento nos eixos responsáveis pelas desigualdades: educação, renda, participação política, políticas públicas, demografia e mercado de trabalho.
No campo educacional, em 2010, alcançamos 70% dos jovens completando oito anos de estudos, em comparação com apenas 10% em 1960. No entanto, o ingresso em massa de jovens no ensino médio, sem as condições adequadas, deslocou os problemas: registramos alto ingresso e baixo índice de conclusão. Esse é o gargalo que precisa ser superado.
Assistimos ao Brasil rural tornar-se urbano, com o consequente inchaço das cidades e o surgimento de moradias inadequadas, falta de água potável, baixa renda e ausência de esgoto sanitário — vetores que alimentam a desigualdade.
Projetos sociais, com apoio da sociedade civil, tentam romper esse ciclo vicioso, promovendo a transformação das crianças e aproximando socialmente os irmãos distantes.
O projeto Flor de Mandacaru, liderado pela Fundação Mandacaru e sob a direção da professora Catarina Santos, desenvolve atividades para atenuar as barreiras do apartheid social. Somos parceiros em muitos momentos.
No sábado, 21/12/2024, no polo Dandara dos Cocais, localizado na comunidade do conglomerado Santa Maria da Codipe, esforços coletivos tentam viabilizar vidas com o mínimo de dignidade, apesar da insalubridade constante.
Diante de tantos desafios, seguimos construindo os caminhos da esperança para um Natal sem desigualdades. Trabalhamos com solidez, compromisso e ética no desenvolvimento de pessoas. Que o Cristo renascido em cada um de nós neste Natal permita a equidade e a justiça social.
Feliz Natal.
(*) Benjamim Pessoa Vale é médico, MBA em gestão empresarial e empreendedor social