Política

PSDB, PTB e PSD sempre andaram juntos, alerta Éverton Diego

O candidato do PSol, Éverton Diego, abre a série de entrevistas com os postulantes ao cargo de prefeito de Teresina.

Sexta - 02/09/2016 às 13:09



Foto: Paulo Pincel Professor Éverton Diego, candidato do PSol a prefeito de Teresina
Professor Éverton Diego, candidato do PSol a prefeito de Teresina

O candidato do PSol, Éverton Diego, abre a série de entrevistas com os postulantes ao cargo de prefeito de Teresina. O professor foi entrevistado pelos repórteres Paulo Pincel e Roberto Araújo, na sede do portal, no bairro São João, zona Sudeste de Teresina, na tarde de quarta-feira (31/8), uma data histórica, marcada pela cassação da Presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff.

Em um dos trechos da entrevista, o candidato do PSol lembrou a proximidade entre os candidatos que aparecem na frente nas pesquisas de opinião. Éverton Diego lembra que, até ontem, o PSDB teve o PSD como vice-prefeito, com Roney Lustosa; e até ontem era aliado do PTB, tanto que o então vice-prefeito de Teresina, Elmano Ferrer, hoje senador, assumiu a prefeitura quando o prefeito Silvio Mendes decidiu se lançar candidato ao governo, renunciado ao cargo em 31 de março de 2010.

O candidato falou sobre vários assuntos, inclusive o afastamento de Dilma, o papel político da esquerda, o ínfimo tempo de propaganda que tem para mostrar suas propostas, os debates e o contato com o eleitor e o projeto de governo do PSol para Teresina.

Éverton Diego Soares Ribeiro Santos é professor do Instituto Federal do Piauí, mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí e filiado ao PSol desde 2014.  

Além de oficializar a candidatura de Éverton Diego a prefeito e da professora (da rede municipal) Luciana Monteiro, como candidata a vice-prefeita, o PSol registrou dez candidatos a vereador da capital, sendo quatro mulheres.

Éverton Diego é professor do IFPIÉverton Diego é professor do IFPI
Entrevista com o candidato do PSOL, Éverton Diego. 

Piauihoje: O que levou o professor Éverton Diego a querer ser o prefeito de Teresina?

Everton: Pessoalmente, eu posso dizer o que me levou a entrar na vida política foi justamente a indignação diante dos problemas que a sociedade enfrenta e que eu, como morador da zona Sul de Teresina, como estudante que atravessava a cidade num sistema de transporte ruim, que não teve acesso a saúde de qualidade, todos esses problemas me motivaram a procurar, agir como transformador da sociedade, e aí a minha formação de professor contribuiu muito com o despertar dessa consciência crítica. Agora, o que nos traz a essa candidatura especificamente são as discussões do PSol, do partido. O PSol debate e amadurece muito para fazer uma escolha, então apostou no meu nome como um bom representante parar as bandeiras que o PSol defende que tem para apresentar pra Teresina, então eu fui escolhido pra ser esse porta voz disso que é um projeto coletivo, não é um projeto que sai da minha cabeça, ou de uma cabeça isoladamente, mas é debatido e faz parte daquilo que o PSol acredita que é um projeto para a sociedade brasileira como um todo.

Quais são as suas propostas aqui pra Teresina?

A nossa proposta central, aquilo que o PSol vem apontado a nível de Brasil na centralidade como programa de governo é a questão da gestão participativa e democrática. Como é que isso pode funcionar? Porque muita gente questiona que isso vai burocratizar a gestão do município, deixar mais lento. Na gestão participativa a gente vai criar instrumentos pra que a população participe efetivamente da administração. Que tipo de instrumentos? Conselhos populares, congresso municipal anual, esses conselhos elegerão os representantes que vão para esse congresso e nesse congresso será discutido todos os temas do interesse público, ou seja, tudo aquilo que diz respeito à gestão do município. Desde o planejamento, passando pela integralidade do orçamento que hoje, apenas uma pequena parcela do orçamento é destinada à discussão da sociedade. Então, a integralidade do orçamento, a eleição de prioridades de ação pra área de saúde, pra área de educação, pra área de desenvolvimento urbano, tudo isso deve ser decidido com a participação ativa da população, não a prefeitura decidir pra depois a população resolver se aprova ou não aprova. Essa é a centralidade do nosso plano de governo. A gestão democrática. De início, a gente tem algumas propostas também pra apresentar como soluções de problemas específicos. Por exemplo, para o problema da saúde de Teresina, nós entendemos que é urgente descentralizar o atendimento de urgência e emergência, tirar essa responsabilidade somente do HUT e colocar nos hospitais dos bairros, aparelhar melhor esses hospitais dos bairros pra poder receber e pelo menos os casos de mais baixa complexidade, de fratura, de alguma coisa, e não exija uma aparelhagem tão complexa. E humanizar a saúde, capacitar esses profissionais para atenderem a população de maneira humanizada, de maneira que leve em consideração que é um ser humano que chega pra ser atendido, uma coisa que é muito difícil inclusive pela demanda maior do que aquilo que o sistema pode suportar.

Para a educação?

Na educação, é necessário ampliar o currículo das escolas que hoje é voltado apenas para atender o IDEB, não possibilita o pleno desenvolvimento dos estudantes, então a gente defende um currículo da escola que tanto propicie que ela entre em contato com todo o leque do conhecimento humano, mas também com artes, com cultura, com esporte, pra que a escola seja um espaço de desenvolvimento das plenas capacidades do indivíduo. Todo talento que a alguém tiver, que a escola pública seja espaço para que ela consiga desenvolver.

Transporte...

E pra área do transporte coletivo, outra questão central da cidade, é urgente e necessário. Primeiro, já que a prefeitura já tem contato firmado com as empresas que compõem o Setut, fiscalizar esses contratos, se estão sendo cumpridos, se tem as quantidades de ônibus que está no contrato, se passam no horário, auditar a planilha de contas apresentadas por eles, porque as planilhas só apresentam os custos, não apresentam as receitas, então como você pode justificar um aumento de passagens, por exemplo, se você apresenta “olha eu tenho muitos custos”, “sim, mas e que receitas você tem?”, a planilha não apresenta. Então, fiscalizar esse contrato com o Setut, exigir que seja cumprido a rigor é o primeiro ponto, refazer a integração que tem sido feita, uma desintegração, na verdade, é o que tem sido feita, do sistema de transporte coletivo. Porque vai dificultar o acesso do usuário ao sistema de integração, no momento em que ele necessitará se deslocar até os terminais para fazer a integração. A gente defende, como já existem em várias capitais do Brasil, a integração feita integralmente na bilhetagem eletrônica e em qualquer ponto de ônibus. Você pega um ônibus, passa o bilhete, e aí você pode descer em qualquer outro e pegar um outro ônibus que vai descontar do mesmo bilhete. E ainda evita que haja um gasto excessivo na construção desses terminais que a prefeitura tá construindo agora.

... e a segurança pública?

Para a área da segurança, primeiro a gente entende que segurança não se resolve num curto prazo. A prefeitura poderia ter resolvido a questão da segurança porque já está no poder em longo prazo, então, poderia ter resolvido. Mas pra gente, tudo bem, a gente tem a urgência da segurança, e isso passa pela efetivação da guarda municipal de Teresina, efetivação de uma guarda cidadã, de uma guarda que esteja lá ao lado da comunidade, não pra reprimir a comunidade, não pra contribuir com o encarceramento da população pobre de Teresina mas sim pra que seja uma parceira, que faça um patrulhamento com parceria com a comunidade, então esse é o primeiro ponto da segurança. Agora, Teresina é uma cidade violenta não só por falta de polícia. Teresina é uma cidade violenta porque é uma cidade injusta e desigual. Então é colaborar para a igualdade, pro desenvolvimento saudável da nossa sociedade, através da educação, do esporte, do lazer, da distribuição de renda, da melhoria do emprego, da qualidade de vida. Tudo isso, essa questão da segurança passa por todo o conjunto da administração. Uma administração, por exemplo, que dê prioridade para o pequeno e médio empreendedor e produtor, quando for fazer contratos da prefeitura, seja na compra da merenda escolar, ou no material da limpeza da escola e do hospital, que compre nos pequenos comerciantes, compre no bairro onde fica localizado o hospital. Quando você faz isso, você movimenta a economia local, você gera renda, gera emprego, e ainda barateia o custo do serviço para a prefeitura, melhora a qualidade de vida, melhora o poder aquisitivo da população. Quando a gente defende também uma passagem de ônibus, um transporte coletivo a um custo honesto, a um custo justo, isso também impacta no orçamento das famílias, e impacta no poder aquisitivo, então todas essas medidas são interligadas para gerar uma sociedade mais equilibrada, mais humana e fraterna.

O candidato Éverton Diego na sede do Piauihoje.comO candidato Éverton Diego na sede do Piauihoje.com

           

Como reverter essa hegemonia tucana da capital? O que fazer para tirar o PSDB dessa situação cômoda, de mais de 30 anos de mandato na cidade?

Eu posso dizer que a nossa parte a gente faz. A gente vem com um plano de governo bem elaborado, um plano de governo aberto para discussão da população e que tem como principal característica justamente trazer a população para o mandato, para governar com a gente no que a gente chama de gestão participativa. A gente tem um plano de governo adequado, a gente tá nas ruas e nas lutas da sociedade, a gente tá todo dia agora nesse período de campanha nas ruas, nas praças, nos bairros, convidando a população, tentando despertar a ideia de que você ainda tem uma opção e que pode instalar um projeto diferente em Teresina. Agora, a gente não pode, não somos nós do Psol que vamos dizer se Teresina deve ou não continuar com o PSDB. A gente se põe como opção, a gente aponta os problemas e defeitos desse modelo de gestão, mostra um modelo de gestão nova, mas quem vai decidir se essa hegemonia de mais de 30 anos deve ficar no Piauí e em Teresina, é a população que é soberana.

E a esquerda? Há tempo, Teresina vê a esquerda se revezando nessa tentativa de chegar, de marcar uma posição nas eleições. As esquerdas divididas são mais fáceis de serem vencidas. Como fazer para mudar isso? Não tem como unir essas esquerdas num projeto maior de poder?

A nossa intenção é sempre a de unificar a esquerda, tanto é que a gente tá sempre aberto ao diálogo, a gente chama sempre os outros partidos de esquerda para o diálogo, agora a gente tem que respeitar as diferenças. Por exemplo, tem partido de esquerda que não acredita no processo eleitoral e que usa o processo eleitoral só como espaço de divulgação das ideias, a gente respeita e entende, mas a gente entende diferente, a gente entende que o espaço institucional também deve ser ocupado pela esquerda e que a gente pode sim fazer um trabalho efetivamente transformador na sociedade a partir de um espaço institucional. Então, como há pontos de vista divergentes dentro da esquerda, e a gente respeita e compreende essas divergências, então existem as esquerdas, esquerda é muito plural porque tradicionalmente tem essa característica de aceitar o pensamento divergente, o contraditório, e é por isso que há tantos partidos de esquerda, no Brasil, no Piauí e em Teresina.

A gente assistiu a esse acontecimento, que atenta contra a democracia, que mancha a história política do país, que foi a cassação de mais um presidente da República, agora a petista Dilma Rousseff. Como o PSol acompanhou esse processo e como viu esse desfecho?

O Psol, desde o primeiro momento, votou contra a abertura desse processo de impeachment, que tem uma roupagem de um processo democrático, mas que na verdade nós compreendemos como um atentado aquilo que foi dito nas urnas pela população brasileira. Considerando que não há e não houve, inclusive ninguém comprovou a tese de que houve crime de responsabilidade por parte da presidente da república, o que era a única justificativa para o impeachment, nós do PSol não reconhecemos esse processo como legítimo e sim afirmamos que houve um golpe parlamentar no Brasil em 2016, consolidado hoje.

Agora, também do ponto de vista daqueles com quem nos preocupamos, que é a classe trabalhadora, que é a população brasileira em geral, do ponto de vista da população faz pouca diferença se é Michel Temer ou se é governo do PT, porque fomos oposição ao governo do PT, seremos oposição a esse governo Temer, que chamamos de ilegítimo, porque as medidas são as mesmas.

Há uma continuidade no projeto no governo Temer e no governo Dilma. O mesmo projeto que nós condenamos e lutamos contra ele. Pra nós, o que resta é chamar o despertar da consciência da população de que é preciso combater essas medidas, de que não é o interesse da população que prevalece, seja no congresso, seja no palácio do planalto com a presidência da república.

Como o Psol pretende enfrentar a máquina da prefeitura, o poder aquisitivo dos outros candidatos, com tão pouco tempo na TV e no rádio? Como levar a mensagem do PSol aos eleitores e quais seriam as bandeiras de luta que você elegeria para, nesse pouco tempo de propaganda, tentar reverter essa situação?

Contra a máquina, a gente tem um trunfo que acredita e se apega. O trunfo é o da consciência limpa de trabalhar por aquilo que a gente acredita. O Psol se mantém fiel aquilo que defende como ideais, e é esse o nosso combustível para enfrentar essa condição adversa. Porque a gente sabe que a legislação eleitoral é injusta, quando, por exemplo, no tempo de tv, disponibiliza 8, 13 ,14 segundos para alguns candidatos, e 5 minutos e 6 segundos para outro candidato, e 2 minutos para outro candidato, então a gente sabe que o processo fica injusto. A gente teve uma minirreforma eleitoral, o que a gente chama de contrarreforma eleitoral, porque tornou esse processo ainda mais injusto, principalmente para os partidos da esquerda, e a gente combate todo esse processo, mas a gente continua firme na luta. Se a gente tem 14 segundos, nesses 14 segundos nós vamos apresentar nossas propostas pra população, nos debates que formos convidados, porque a legislação ainda permite que as emissoras convidem, nos debates estaremos lá pra discutir, pra mostrar as soluções pros problemas da cidade, para levantar os problemas, porque muitas vezes fica oculto. A gente sabe que o jogo eleitoral é injusto, que o processo eleitoral é injusto, mas a gente enfrenta de cabeça erguida como a gente enfrenta todas as lutas do dia a dia. Pra nós que somos de esquerda, nunca houve tarefa fácil. Lutar contra o poder instituído, quando a gente faz os movimentos sociais e as lutas na rua, já é uma missão difícil. Então, lutar contra o poder instituído no processo eleitoral e no processo institucional continua sendo uma missão difícil, mas uma missão que a gente encara e não abre mão...

Coordenação de campanha do PSolCoordenação de campanha do PSol

Os adversários são fortes e muito próximos. O prefeito, um ex-aliado do prefeito, um jornalista, amigo do prefeito...

“De um partido que era aliado do prefeito, que é aliado do govenador do estado...”

São três candidatos que até bem pouco comungavam do mesmo espaço político. Como o candidato vê essa proximidade?

Esse é um dos principais pontos que a gente tenta despertar na consciência da população, que embora haja propostas revolucionárias pra cidade, todo mundo aponte que vai resolver os problemas de Teresina, a gente se avaliar os três candidatos mais bem colocados nas pesquisas, os três que tem mais tempo de tv, mais visibilidade, os três candidatos representam o mesmo projeto.

Como você colocou, um já é prefeito da cidade pela terceira vez, tá com 22 partidos, já deve tá com a prefeitura toda loteada, se for reeleito. As secretarias vão ter que contemplar todos esses partidos porque a gente sabe que é assim que eles fazem política, apesar de que isso pra gente nem é política, é politicagem. O outro é de um partido que tinha a vice-prefeitura, que estava na prefeitura até janeiro, rompeu para poder disputar a eleição, e que tem mandato, que faz parte nacionalmente, do mesmo grupo do PSDB, que é o partido do prefeito, que estão juntos inclusive no governo federal. O outro (PTB) representa o partido que foi vice do PSDB em Teresina por muito tempo, que assumiu a prefeitura (com Elmano Ferrer, em 2010) quando o PSDB saiu, quando o Silvio Mendes saiu para disputar o governo. Então todos eles representam o mesmo projeto que já tá em curso em Teresina desde a redemocratização. Esse projeto do PSBD que é um projeto que apresenta diversas falhas que a gente vem apontando, por exemplo, a relação promíscua da prefeitura com as empresas de transporte urbano, a falta de transparência nas contas do município, que a gente denuncia e que já são apontadas por diversas instituições, por exemplo o caos na saúde pública de Teresina e o descaso da prefeitura para com esse problema, o descaso da prefeitura para com o problema de educação, que gera uma sociedade violenta como a nossa, então assim, esse projeto é um projeto defasado, do nosso ponto de vista, esgotado e ineficaz. O que a gente tenta mostrar pra população é que não adianta só não reeleger o atua prefeito, substituir o atual prefeito pelos representantes do mesmo projeto, representantes da continuidade, que são esses candidatos.

Fonte: Paulo Pincel/Roberto Araújo

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