Saúde

FERRAMENTA TERAPÊUTICA

Mãe relata melhora do filho autista com uso da maconha medicinal, mas alto custo preocupa

Depois de tentar diversos medicamentos convencionais, Leda encontrou esperança na cannabis medicinal, que proporcionou qualidade de vida ao seu filho

Alinny Maria

Terça - 03/06/2025 às 15:30



Foto: Montagem/Freepik A cannabis medicinal é uma grande aliada no tratamento do autismo
A cannabis medicinal é uma grande aliada no tratamento do autismo

A teresinense Leda Pessoa tem enfrentado uma batalha silenciosa para garantir o bem-estar do filho de seis anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A grande aliada nessa luta tem sido a cannabis medicinal, mais especificamente o canabidiol (CBD), substância derivada da planta de maconha e bastante utilizada como tratamento para diversas condições neurológicas.

Leda conta que o filho foi diagnosticado autista com 1 ano e 11 meses de idade. Atualmente ele está no nível II de suporte. Com o passar dos anos, ele também recebeu diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Apraxia de Fala. 

O filho de Leda também faz diversas terapias com o objetivo de desenvolver habilidades, melhorar a comunicação, aumentar a autonomia, promover a interação social, entre outros objetivos. No entanto, somente as terapias não eram suficientes para tratar as comorbidades do autismo. O menino tinha comportamentos que interferiam bastante no seu desenvolvimento como hiperatividade, agressividade, irritabilidade, distúrbios de sono, etc.

Por anos, o filho fez uso de medicamentos convencionais. Sem perceber muita melhora e em busca de melhor qualidade de vida, Leda passou a pesquisar sobre o canabidiol depois de ouvir relatos de outras mães de filhos autistas. 

"Eu tomei a iniciativa de perguntar para o médico se não seria interessante essa medicação para meu filho. O médico prescreveu a medicação, mas partiu de mim", comenta. 

Logo que passou a utilizar a medicação, Leda notou uma melhora significativa no filho. Segundo ela, o canabidiol transformou o comportamento da criança. 

“Ele fica mais focado, as estereotipias diminuíram, o sono tem mais qualidade, a agressividade também diminuiu”, conta Leda, ao destacar os efeitos positivos observados desde o início do tratamento contínuo, há cerca de um ano. 

“Ele é outra criança depois do canabidiol. Antes vivia realmente no mundinho dele. Hoje, apesar de ainda precisar de apoio para socialização, ele já interage, já conversa", completa. 

Outro avanço importante foi na linguagem: “a fala melhorou bastante, o vocabulário. Nenhuma medicação tradicional deu certo pra ele. Como os sintomas continuavam muito fortes, o canabidiol foi a solução.”

Apesar dos benefícios, o tratamento esbarra em um obstáculo financeiro significativo. 

“O ponto negativo realmente é o valor. É muito caro um vidrinho pequeno. Vai quase 35% do meu orçamento mensal só com o canabidiol, e isso acaba fazendo falta para outras coisas que ele precisa.”

Além do custo elevado, Leda também enfrenta dificuldade para encontrar o medicamento.

 “Sempre falo com o representante para saber onde tem e onde encontro mais barato. Mas parece que o preço é tabelado. Em todo lugar vai ser o mesmo preço.”

Ela alerta ainda para a importância da continuidade no tratamento. “Se eu interromper, é certo que meu filho vai regredir. Esse é meu medo.” 

Segundo o médico que acompanha o garoto, hoje ele com “o melhor tratamento do mundo para os sintomas que tem”.

Diante do impacto positivo do canabidiol na vida do filho, Leda acredita que é preciso ampliar o acesso ao medicamento. 

“Seria muito interessante se houvesse uma forma de encontrar esse medicamento com um valor mais acessível. Até porque não é o único gasto que tenho. Tem outras medicações caras, fralda, escola e tudo que ele precisa.”

A história de Leda com o filho revela não só os avanços proporcionados pela cannabis medicinal, mas também os desafios enfrentados por muitas famílias brasileiras que buscam garantir qualidade de vida para seus filhos neurodivergentes.

Em entrevista ao podcast Conexão Cultura, a enfermeira e especialista em cannabis medicinal, Jamila Rocha, falou sobre os mitos, a história e os avanços científicos relacionados ao uso terapêutico da planta.

Durante a conversa, Jamila destacou que no Brasil a cannabis é considerada o último recurso no tratamento do autismo, enquanto que em países como Israel, por exemplo, é a primeira opção. 

"Infelizmente aqui no Brasil a gente ainda vê muito atrasos, a cannabis como última opção. E não pode ser assim! Cannabis é uma ferramenta terapêutica que pode auxiliar no tratamento de maneira incrível. Ela pode começar desde o primeiro dia do seu diagnóstico".

Jamila Rocha em conversa com o professor Gilson Cland / Foto: Pedro Sávio

Segundo Jamila Rocha, são diversas patologias que podem ser tratadas com cannabis, desde desde problemas neurológicos, problemas musculares, dor crônica e até tratamento dermatológico. Além disso, ela ainda é poderosa no tratamento de condições como autismo, TDH, dor crônica, fibromialgia e Alzheimer.

Ela lembra que as pessoas buscam a cannabis como última alternativa, depois de não conseguirem melhora com uso de medicamentos convencionais.

"As pessoas chegam muitas vezes esgotadas, que já foram para todas as possibilidades possível e estão vendo ali a última alternativa". 

Por fim, a especialista disse que o tratamento é caro, o que acaba afastando as pessoas dessa alternativa. 

"É um tratamento caro dentro da nossa sociedade. A gente tenta diversas possibilidades, como criar associações para trazer um custo mais baixo para esse paciente, mas infelizmente, até o custo de produção ainda é muito alto... algumas indústrias farmacêuticas já têm esse produto, mas quando você vai olhar o preço, o produto de 30 ml custa R$ 2.500. E o produto que tem na farmácia não é produzido dentro do Brasil".

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