O Brasil alcançou a marca de 6,5 milhões de casos prováveis de dengue em 2024, conforme dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, cobrindo o período de 1º de janeiro a 7 de outubro. O coeficiente de incidência é alarmante: 3.221,7 por 100 mil habitantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que qualquer taxa superior a 300 casos por 100 mil habitantes já configura uma epidemia. Até o momento, 5.536 mortes foram confirmadas, com outros 1.591 óbitos sob investigação.
Os números revelam um crescimento de 400% em relação ao mesmo período de 2023, quando o país registrou 1,3 milhão de casos prováveis e 1.179 mortes por dengue ao longo de todo o ano, segundo a Folha de S. Paulo. A despeito da alta taxa de incidência, houve uma leve redução nas infecções a partir da 16ª semana epidemiológica, que se iniciou em 14 de abril, com oscilações moderadas até o final de agosto.
O estado de São Paulo concentra 32,3% dos casos de dengue no país, com 2,1 milhões de infecções e 1.786 mortes registradas, enquanto outros 831 óbitos seguem em investigação. Na capital paulista, foram contabilizados 639.066 casos e 365 mortes até o momento, com 476 mortes ainda em análise. Mesmo diante desse cenário, a Prefeitura de São Paulo revogou a emergência de dengue em 7 de outubro, indicando um possível controle da situação.
Desafios para 2025 e novas tecnologias no combate à dengue
Em entrevista, o infectologista Antonio Carlos Bandeira, membro do Comitê de Arbovirose da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma que o pico da dengue deverá ocorrer entre março e abril de 2025, com uma queda gradual a partir de maio. "Neste ano, ficamos durante muitos meses com um platô alto. Não dá para prever se isso voltará a acontecer no país", explicou. Bandeira destaca que o combate à dengue exige ações integradas, como o uso de larvicidas e cuidados ambientais, mas alerta que apenas isso não será suficiente.
Ele aponta a tecnologia dos mosquitos transgênicos como uma das alternativas para frear a proliferação do Aedes aegypti e pede o envolvimento do setor privado na implementação de novas medidas. “Transformar isso em um produto de escala precisa chamar as empresas privadas, porque o governo não tem dinheiro para resolver tudo sozinho”, disse. Para o especialista, a vacinação contra a dengue também deve ser uma prioridade, com a inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunizações.
Já a médica Andyane Tetila, presidente da Sociedade de Infectologia de Mato Grosso do Sul, alerta para as condições climáticas que favorecem a proliferação do mosquito. Segundo ela, o forte calor e as chuvas típicas desta época do ano aumentam os riscos, exigindo ações preventivas mais incisivas e a implementação de novas tecnologias, como o método Wolbachia, para reduzir a replicação dos mosquitos.
Impactos da gestão anterior e a preparação do SUS
O presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, Carlos Magno Fortaleza, critica a gestão do governo Jair Bolsonaro (PL), apontando o desmonte das políticas de controle de doenças como um dos fatores que contribuíram para a explosão dos casos de dengue nos últimos anos. Segundo ele, a desmontagem da "inteligência epidemiológica" comprometeu o sistema de vigilância e controle de doenças do país, deixando o Sistema Único de Saúde (SUS) fragilizado.
Fortaleza afirma que, apesar da mudança de governo, as práticas de individualismo e falta de cooperação, herdadas do bolsonarismo, permanecem nas administrações municipais, dificultando o enfrentamento eficaz da epidemia. O especialista também alerta que a baixa cobertura vacinal coloca o Brasil em uma posição vulnerável, embora a imunidade populacional adquirida pela infecção possa ser um fator atenuante no futuro.
A expectativa, no entanto, é que novas vacinas, como a desenvolvida pelo Instituto Butantan, possam ser aceleradas e integradas ao calendário nacional, trazendo uma ferramenta essencial para a prevenção de surtos como o que o Brasil enfrenta em 2024.
Fonte: Brasil 247