
A relação entre o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandin OIG, fundador do Jogo do Tigrinho, pode ser investigada pela Polícia Federal, segundo revelou a Revista Piauí nesta quinta-feira (17). A representação com o pedido de investigação teria sido entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) no fim de maio e encaminhada ao gabinete da ministra Carmen Lúcia, em caráter sigiloso.
O pedido ocorreu poucos dias antes do encerramento da CPI das Bets, no Senado, que apurava o envolvimento de empresários do setor de apostas em operações suspeitas. Na época, Ciro Nogueira era integrante da comissão que investigava o próprio Fernandinho.
Em 22 de maio, o senador piauiense e ex-ministro de Bolsonaro, embarcou no jato particular do empresário e os dois chegaram a se hospedar juntos em uma embarcação de luxo no Principado de Mônaco, destino conhecido por abrigar milionários europeus. A CPI terminou em junho sem aprovar o relatório final, que recomendava investigar Fernandinho e outras 15 pessoas — o que gerou críticas de que o caso “acabou em pizza”.
Fernandinho é fundador da One Internet Group, conglomerado de tecnologia e apostas que, segundo ele mesmo declarou, fatura oficialmente cerca de R$ 200 milhões por ano. Mas documentos da CPI, como Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) do Coaf, levantam suspeitas: entre dezembro de 2023 e setembro de 2024, ele transferiu R$ 625 mil para Victor Linhares de Paiva, ex-assessor de Ciro Nogueira. Paiva, por sua vez, repassou R$ 35 mil para a conta pessoal do senador.
Questionado, Ciro justificou o repasse como “reembolso de uma reserva de hotel em Capri, na Itália” e afirmou que os R$ 625 mil se referiam à venda de um relógio de luxo da marca Richard Mille, negociado diretamente entre o empresário e seu ex-assessor.
Outra operação também levanta dúvidas: em 2022, Fernandinho comprou três apartamentos em um prédio no bairro São Cristóvão, em Teresina, cada um avaliado em cerca de R$ 500 mil. Um dos sócios da incorporadora responsável pelo edifício é a empresa Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis, que pertence à família do senador. Ele negou qualquer envolvimento: “Nunca ouvi falar dessa compra! Quem administra a empresa é meu irmão”, disse.
Ainda segundo o Coaf, o patrimônio de Fernandinho saltou de R$ 36 milhões, em 2022, para R$ 143 milhões, em 2023 — um crescimento de quase 300%, sem justificativa clara para a origem dos recursos.
Fernandinho também teria buscado influência política durante a CPI das Bets. Ele e Victor Linhares visitaram o lobista Silvio de Assis, investigado por corrupção e lavagem de dinheiro, para tentar aproximação com a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI. O empresário ainda procurou a deputada Renata Abreu, presidente do Podemos, e o secretário-geral do partido, Luiz França. Não há, contudo, registros de pedidos ilícitos nesses contatos.
Com essas conexões, tanto o empresário quanto o senador agora estão no radar da Polícia Federal. A investigação tentará esclarecer se houve favorecimento político ou operações financeiras irregulares.
Fonte: Revista Piauí