Censura

Governo Federal pode ter vetado atrações nacionais para evento no Piauí

Cultura Negra Estaiada na Ponte acontece neste sábado, em Teresina, a partir das 16h


Cultura Negra Estaiada na Ponte

Cultura Negra Estaiada na Ponte Foto: Dilvugação

Atrações nacionais cotadas para abrilhantar a sétima edição do Cultura Negra Estaiada na Ponte podem ter sido vetadas por orientação federal. A organização do evento que será realizado neste sábado (24), em Teresina, tentou parceria com uma instituição federal para custear o cachê dos artistas, porém sem sucesso.

“[Os artistas] não eram bem vistos pelo Governo até porque são da região Nordeste, os que indicamos eram da Bahia e o presidente, o Bolsonaro, colocou que todos foram oposição [à sua candidatura em 2018], segundo as informações que nós temos, então o evento vai acontecer com o brilho da nossa atração local, Lene Groove”, revela o Professor Antônio Cruz, liderança das comunidades de Terreiro, pesquisador afro-brasileiro e umbandista.

Em sete anos de realização, este seria o primeiro a contar com show artístico nacional. Entre os nomes pensados para a festa estavam o de Margareth Menezes e Leci Brandão. Pai Rondinele de Oxum, vice coordenador Nacional do Centro Nacional De Africanidade e Resistência Afro Brasileira (CENARAB), diz não acreditar que houve um veto aos artistas escolhidos pela organização, mas confirma uma dificuldade no diálogo com instâncias federais.

“Não vou afirmar que seja uma espécie de censura, mas temos percebido que no processo dessa nova gestão de Governo Federal há um retrocesso muito grande a partir do momento que a gente não consegue avançar no debate que se trata da promoção da igualdade racial, então não posso afirmar nem quero entender que seja isso, mas dentro dos moldes que se encontra o governo hoje é impossível manter diálogo, as vezes tentamos, mas no formato de hoje percebemos que há [uma política] muito mais de exclusão que inclusão”, disse.

Casos Semelhantes 

No início deste mês, a artista Linn da Quebrada publicou em sua conta no Twitter que seu show programado para a Parada LGBT de João Pessoa deste ano foi cancelado pela organização. Conforme a artista, a organização do evento teria sido “orientada” a cancelar a atração.

No final de Julho, o rapper BNegão, conhecido por integrar o grupo Planet Hemp, teve o show interrompido por policiais na cidade de Bonito, em Mato Grosso do Sul, onde coros vindo do público rechaçaram o presidente Jair Bolsonaro durante todos os shows do Festival de Inverno que ocorreu no município.

O episódio mais recente envolve a banda Teto Preto. Segundo a vocalista, Laura Diaz, o grupo teria uma apresentação em Brasília, durante o festival Picnik, em frente ao Memorial dos Povos Indígenas, mantido pelo Governo Federal. Embora se trate de um evento privado, restrições foram colocadas à performance da banda, que traz na nudez um dos elementos do show.

“A organização do festival falou que alguém da diretoria do Memorial entrou em contato com eles, porque tomaram conhecimento do conteúdo do show do Teto Preto e deixaram claro que não poderia acontecer de maneira alguma, nenhum tipo de discurso ou menção política. E, além disso, tinha a questão da nudez, que não poderia haver de jeito nenhum”.

Cultura Negra Estaiada na Ponte

A concentração para o início do evento está marcada para 16h, no Parque Nova Potycabana, zona Leste da capital. “A concentração vai contar com apresentações dos Grupos Afro de Teresina, depois teremos um momento em que os pais e mães de santo farão um ‘padê’ para Exu e teremos o presente para as Yabás (Orixás ligadas ao ponto de força natural das águas) entregue ali no rio, em seguida avançaremos com um cortejo até a Ponte Estaiada, pela Avenida Raul Lopes.

Debaixo da Ponte Estaiada acontecerá uma grande ‘gira’. “Para a gira teremos a participação de todos os terreiros presentes, ou seja, um momento de entoarmos os nossos tambores e cânticos, momento de saudar nossa ancestralidade, pedir força, luz e proteção e mais resistência”, explica pai Rondinele.

Liberdade Religiosa

De acordo com o organizador, o evento deste ano traz uma mensagem especial para toda a sociedade. “O Cultura Negra Estaiada na Ponte está em sua sétima edição com o tema Liberdade Religiosa, até porque o Piauí é o quarto que mais violenta as comunidades tradicionais de terreiro, então esse é o momento de reflexão e de discutirmos com os poderes públicos estratégias de como lidar com essas violações dos direitos humanos”, contou.

Pesquisa

Uma novidade deste ano é que um grupo de estudantes fará uma pesquisa dentro do evento a respeito dos casos de intolerância religiosa no Estado. “Provocamos o Governo do Estado, através do governador Wellington Dias, no sentido de pensarmos uma Política de Segurança Pública para as Comunidades de Terreiro. O governador pediu dados e informações de quem são as pessoas que foram vítimas de violência, que sofreram intolerância religiosa, sobre quem foram as pessoas assassinadas, quais foram os terreiros depredados, onde estão, o que fizeram, então o questionário da pesquisa vai apontar parte desses dados”, informou Rondinele.

Prefeitura

O gerente de Serviços da Fundação Cultural Monsenhor Chaves (FMC), Edcélio Leite, explicou de que forma a Prefeitura de Teresina vai apoiar o evento. “Nós somos os responsáveis pela infraestrutura, palco, som, luz, trio elétrico para o desfile dos grupos Afro, banheiros químicos. Existe uma lei que foi aprovada sete anos atrás e que criou o Cultura Negra, que é uma forma de manifestação e reivindicação dos direitos de quem cultua as religiões de matriz africana, com isso, a prefeitura, no que ela pode disponibiliza e ajuda sempre”, pontuou.

Lei Estadual

O deputado estadual do PT, Franzé Silva, aprovou na semana um projeto de lei instituindo o Cultura Negra Estaiada na Ponte como um evento oficial do calendário de comemorações do Governo do Estado. O PL já foi assinado pelo Governador do Estado.

Público esperado

A expectativa da organização quanto ao público é de que oito mil pessoas, entre pais, mães e filhos de santo, simpatizantes da causa, políticos e sociedade em geral, compareçam a caminhada e à festa na Ponte Estaiada. “Acredito que esse ano será uma das nossas maiores caminhadas, entre as caminhadas das religiões de matriz africana realizadas no Brasil, a do Piauí é a terceira maior atualmente.

Fonte: Valciãn Calixto

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