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DIREITOS HUMANOS

Pessoas trans enfrentam rejeições em busca de vagas formais de emprego

No Dia da Visibilidade Trans, Bruna Valeska conta suas dificuldades

Da Redação

Quarta - 29/01/2025 às 09:30



Foto: Arquivo/MDHC Bandeira Trans
Bandeira Trans

Há um ano e dois meses, Bruna Valeska foi demitida de uma loja de cosméticos onde trabalhava. Segundo ela, a razão principal foi a transfobia da pessoa responsável pela gestão do estabelecimento. Até hoje, Bruna não recebeu os valores da rescisão do contrato de trabalho e não conseguiu voltar ao mercado de trabalho formal.

“Me chamaram para trabalhar na empresa prometendo um bom salário e até uma bolsa de estudos para eu terminar a faculdade de Química. Mas depois de apenas quatro meses, fui mandada embora”, conta Bruna. “Isso é comum. Muitas empresas contratam pessoas transexuais temporariamente para parecerem inclusivas, mas sem interesse em mantê-las.”

Hoje, 29 de janeiro, no Dia Nacional da Visibilidade Trans, a história de Bruna representa a luta de muitas pessoas trans que enfrentam preconceito e dificuldades para conseguir um emprego formal. Além do preconceito no trabalho, Bruna enfrentou outras situações difíceis, como ser rejeitada e expulsa de casa pela família, abandonar a universidade pública por falta de apoio e, sem condições financeiras, acabar morando na rua por um tempo.

Apesar de todas essas adversidades, Bruna não desistiu de buscar uma qualificação profissional. Seu primeiro emprego foi como auxiliar de cozinha por meio de um projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro. Depois disso, ela conseguiu outros empregos e acumulou cinco anos de experiência registrada em sua carteira de trabalho. Porém, ela ainda sente que as pessoas trans não têm as mesmas oportunidades que os outros funcionários.

“Existem muitas empresas que dizem ser inclusivas, mas exigem mais das pessoas trans. Elas escolhem quem contratar com base em beleza, indicação e formação, enquanto outros colegas fazem o mesmo trabalho, mas não são cobrados da mesma forma”, explica Bruna. “Não temos as mesmas chances de crescimento. Criar uma vaga específica para trans não adianta se as outras pessoas na mesma função recebem salários maiores.”

Enquanto busca oportunidades de trabalho pela internet, Bruna está estudando estética e beleza e espera encontrar uma vaga no mercado de trabalho formal que reconheça seu potencial e experiência.

Bruna compartilhou que seu maior sonho é voltar a trabalhar. Ela disse que ficou muito decepcionada com a demissão da última empresa, pois abriu mão de muitas coisas para trabalhar lá. E ela sabe que muitas pessoas trans passam por isso: contratos temporários, sem a chance de crescer profissionalmente. “A sociedade tem muitas pessoas trans com mais de 35 anos que merecem uma oportunidade de continuar no mercado de trabalho e se requalificar”, disse Bruna.

Bruna Valeska fala das rejeições que enfrenta em busca de vagas formais de emprego - Foto Bruna Valeska/Arquivo pessoal

Iniciativas para ajudar pessoas trans

Uma iniciativa importante que busca combater o preconceito e ajudar pessoas transexuais a conseguir emprego é a Roda de Empregabilidade, que acontece hoje (29) em Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, promovida pelo Instituto Rede Incluir. Mais de 100 vagas serão oferecidas, incluindo oportunidades para auxiliar de comércio, vendedor, caixa, eletricista e mecânico de refrigeração. O evento também oferece orientação profissional e preparação para entrevistas.

Nélio Georgini, coordenador de Diversidade e Inclusão do Instituto Rede Incluir, destaca que esse evento é apenas o começo. Ele afirma que, para as pessoas trans, não basta ter uma vaga de emprego; é necessário reconhecimento profissional e dignidade.

“O mundo ainda pensa de forma binária, dividindo tudo em preto ou branco, homem ou mulher. Quem foge dessa ideia é muitas vezes rejeitado, e o mercado de trabalho sempre foi fechado para as pessoas trans. Elas enfrentam várias dificuldades, incluindo o acesso a políticas públicas”, explica Nélio.

Ele também alerta que, com a chegada de figuras políticas como Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, algumas empresas globais começaram a revisar e até eliminar suas políticas de diversidade e inclusão. Nélio espera que as empresas brasileiras adotem um caminho diferente e se tornem mais inclusivas com profissionais transexuais.

“Agora é a hora das empresas se posicionarem. Não basta apoiar a causa trans quando há um apelo popular. É nas dificuldades que precisamos de apoio real, para garantir a dignidade das pessoas trans, independentemente do contexto político”, finaliza Nélio.

Fonte: Agência Brasil

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