Saúde

Puberdade. Um monte de problemas, todos normais

As mudanças que ocorrem nessa fase da vida são excepcionais. Mas se trata de uma fase normal. Será possível atenuar os seus efeitos mais perturbadores?

Sexta - 07/10/2016 às 11:10



Foto: Reprodução Puberdade
Puberdade

Por: Pauline Léna – Le Figaro

“A puberdade é a aquisição da capacidade de reprodução”, lembra o pediatra Paul Jacquin, responsável pela Maison des adolescents (Casa dos adolescentes) no hospital Robert-Debré de Paris. Essa etapa, caracterizada por importantes distúrbios hormonais, de reorganização do organismo, que passa da imaturidade para a maturidade, é normalmente acompanhada também por alterações também nos aspectos físicos e psicológicos. Ela começa com maior frequência entre os 10 e os 11 anos para as meninas, e entre os 12 e os 13 anos para os meninos. Embora as etapas dessa transformação sejam agora bem conhecidas, ela provoca sempre surpresas e dúvidas em todos que a experimentam, pois, para eles, tudo é novo. Em nossa sociedade, existe uma média de um adolescente esclarecido para cada dois que não recebem quase nenhuma informação sobre aquilo que lhes está acontecendo. É muito necessário que os pais ou os responsáveis pelos jovens que entram nesse período os esclareçam e orientem. Para tanto, convém antes encontrar respostas para algumas questões de base: Quais são os acontecimentos previstos para o período da puberdade? Podemos atenuar os seus efeitos mais perturbadores?

PuberdadePuberdadeFoto: Reprodução

As mudanças são numerosas e importantes

Cerca de dois anos antes do início da puberdade, as glândulas suprarrenais começam a produzir os precursores da testosterona que favorecem a aparição dos primeiros pelos sexuais nas axilas e na púbis. Outros circuitos hormonais são a seguir acionados para instalar o aparelho reprodutor, com a aparição de sinais físicos bem visíveis.

Para as meninas, o início desse período é assinalado pelo surgimento de um “botão” mamário: a aréola (zona circular da pele pigmentada situada ao redor do mamilo) se levanta e se expande. Ela precisará de mais 2 ou 3 anos para completar essa transformação. Ao mesmo tempo, surgem as regras menstruais que assinalam as ovulações e o desenvolvimento dos seios.

Para os meninos, o início da puberdade é assinalado por um paulatino aumento do tamanho dos testículos e do pênis, num processo que dura entre quatro e cinco anos e é assinalado também pelo crescimento de pelos na região da púbis . Dentre as numerosas transformações observadas nessa fase da vida, a mais evidente é a do crescimento corporal. As garotas ganham pelo menos 20 centímetros durante a puberdade, o rapazes entre 25 e 30 centímetros, e todos dobram o próprio peso entre os 9 e os 14 anos.

As datas do começo e do fim desses processos são variáveis de um jovem para outro e até mesmo de uma época para outra. Por exemplo, na metade do século 19, era normal que as primeiras regras menstruais só ocorressem entre os 16 e os 17 anos, enquanto que agora elas são esperadas entre os 12 e os 13 anos. Parece, inclusive, que esses tempos estão regredindo ainda mais: hoje considera-se normal se a puberdade chegue entre os 10 e os 13 anos para as garotas, e entre os 11 e os 14 anos ara os rapazes. Se ela chega muito adiantada ou muito atrasada, isso pode ter consequências sobre o crescimento, sobre a fertilidade ou indicar uma patologia subjacente.

Cérebro, o desencadeador

“O desencadeador da puberdade é o cérebro. Trata-se de um acontecimento fisiológico que contem muitos elementos psico-afetivos e cognitivos”, destaca o dr. Jacquin. A evolução da idade média da puberdade bem como as diferenças que aparecem nas crianças adotadas ou aquelas que são deslocadas de seus lugares originais pelas razões mais diversas, permitiram demonstrar que a alimentação e as mudanças ambientais, e inclusive as mudanças afetivas, desempenham um papel no desencadeamento da puberdade.

Além disso, a transformação física é acompanhada por uma transformação psíquica, alimentada pelas variações hormonais, mas não apenas. “A puberdade é o momento no qual as crianças começam a se sentir capazes de se tornarem homens e mulheres, quando elas começam a ver os outros e a serem vistas como tais”, explica o dr. Jacquin. Trata-se de uma transformação que nem sempre é encarada com entusiasmo pelos adolescentes, pois ela provoca neles dúvidas quanto a si próprios e quanto as suas ligações com as pessoas mais próximas. Eles percebem que as coisas estão mudando, e geralmente não querem que os outros apontem o dedo para essas mudanças: a porta do banheiro deve permanecer fechada! A inquietude que geralmente se instala pode conduzir a uma certa agressividade, ainda mais porque esse é o momento no qual os adolescentes começam a se identificar a seus pares e não mais a seus pais, dos quais eles começam a querer manter distância.

O momento de criação da intimidade

“É, portanto, essencial que o adolescente crie a sua própria rede social, para poder encontrar pontos de referência. Mas a oposição aos pais e ao resto da família deve permanecer no limite do suportável para todos”, lembra Jacquin. A chegada da acne, na metade dos adolescentes, vem complicar o quadro e, assim que o adolescente comece a se queixar dela ou que ela pareça se desenvolver em excesso, mesmo que não haja queixas, ela deve ser considerada e tratada.

Todas essas inquietude e questionamentos não sempre fáceis a compartilhar com a família: a adolescência é também o momento no qual a intimidade se cria distante dos pais. O papel do médico torna-se então crucial, mesmo quando nenhum exame especifico seja necessário, a visita médica ainda e a melhor maneira de se detectar uma possível anomalia. É sobretudo o momento de recebê-los, sem os seus pais, para preservar a sua intimidade física e responder a seus questionamentos, às vezes simples e ingênuos, mas sempre vitais a seus olhos.

Fonte: Saúde 247

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