Política

Nem 300 picaretas nem 400 achacadores

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Terça - 24/03/2015 às 14:03



Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados O ministro da Educação, Cid Gomes, fala ao plenário da Câmara
O ministro da Educação, Cid Gomes, fala ao plenário da Câmara
No início dos anos 90, Lula fez a declaração chocante de que na Câmara dos Deputados existiam 300 picaretas, que não estavam nem aí para o Brasil e só queriam saber dos seus interesses.

Agora é a vez de Cid Gomes dizer que lá existem 400 deputados achacadores. Tanto Lula quanto Cid Gomes estão errados em chamar deputados de picaretas ou achacadores. Na verdade, esses deputados aos quais eles fizeram referências também têm ideologia tanto quanto qualquer outro.

São simpatizantes da ideologia de que o certo ou errado, a verdade ou mentira é mera questão conjuntural, que o mandato é do indivíduo que o conquistou e que na Câmara vota como bem quiser e entender para alimentar sua reeleição. Aplicam o princípio da lei de Gérson em todas as oportunidades usando a arte da negociação sempre no modo ganha/perde e nunca no modo ganha/ganha. Isto é, esses Deputados sempre ganham e os outros sempre perdem.

Alguns partidos que podem somar os trezentos ou quatrocentos deputados citados por Lula e Cid também têm uma linha ideológica de atuação e não de picaretagem ou de achaque. Qual seja, a esses partidos interessa a quantidade de governadores, senadores, deputados que os compõem. Por via de consequência, quanto maior o número de membros mais espaço será ocupado nos governos que participarem.

Vou dar apenas um exemplo usando o atual Vice Presidente da República e Presidente do PMDB Michel Temer. Durante a última campanha, ele empreendeu viagem ao Rio Grande do Sul para apoiar o candidato do seu partido, José Ivo Sartori, ao governo daquele estado. Até aí, seria tudo normal, não fosse o fato de que Sartori não trabalhasse para eleger o Vice Presidente da República do seu próprio partido mas da coligação tucana.

Desculpe-me o Lula, mas isso não é picaretagem. Também Cid Gomes está errado, porque o Vice Presidente eleito Michel Temer buscava fortalecer o seu partido, elegendo mais um governador, não para achacar, mas para ter mais espaço no próximo governo, fosse ele ou qualquer outro o vitorioso.

Dessa forma, não fique espantado se a Presidente eleita, Dilma Rousseff, nomear para Ministro um indicado pelo PMDB que nem sequer tenha trabalhado ou votado neles.

Essa é a ideologia da maioria dos Deputados da Câmara e também dos partidos políticos que eles compõem. Essa é a ideologia e prática da velha política e nós já estamos carecas de tanto que a conhecemos. O que me causa estranheza é que ela fica cada dia mais velha e mais forte, mais velha e ganhando adesões, portanto mais velha e mais abrangente.

Para contrapor à velha política precisamos de uma nova, que pode perfeitamente começar por aqueles que descobriram, a partir de sua participação nas manifestações, que um voto é muito pouco para construir um Brasil melhor para todos e resolvessem canalizar um esforço a mais para a militância político-partidária. Essa nova militância seria um pilar fundamental para a Nova Política, única capaz, realmente, de passar Brasil a limpo.

Fonte: Jesus Rodrigues

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