Milhares de pessoas morrem na África devido a medicamentos falsos

Remédios como contra malária são, muitas vezes, mais caros do que a população pode pagar, o que faz com que ela recorra aos vendidos ilegalmente


Medicamentos/Imagem ilustrativa

Medicamentos/Imagem ilustrativa Foto: Google

Dezenas de milhares de pessoas morrem na África a cada ano por causa de remédios falsificados, alertou um relatório financiado pela União Europeia divulgado na terça-feira. A maioria dos medicamentos é fabricada na China, mas também há os que vêm da Índia, do Paraguai, do Paquistão e do Reino Unido. Quase metade dos medicamentos falsos e de baixa qualidade reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 2013 e 2017 foi encontrada na África Subsaariana, informou o relatório, também apoiado pela Interpol e pelo Instituto de Estudos de Segurança.

"Os falsificadores atacam mais os países mais pobres do que seus pares mais ricos, com uma penetração até 30 vezes maior de falsificações na cadeia de fornecimento", segundo o relatório. Remédios contra a malária falsificados, por exemplo, causam a morte de 64 mil a 158 mil pessoas por ano na África Subsaariana.

O mercado de medicamentos falsos vale cerca de US$ 200 bilhões por ano, de acordo com a OMS, tornando-se o comércio mais lucrativo de produtos copiados ilegalmente. E o impacto disso é devastador. Segundo o governo da Nigéria, mais de 80 crianças morreram em 2009 depois de ingerir um xarope dentário contaminado com um produto químico.

Para o alfaiate Moustapha Dieng, de 30 anos, o custo pode ser medido em mais do que simples sofrimento. Quando começou a sentir dores estomacais no mês passado, fez o que era sensato: procurou um médico de sua cidade natal, Ouagadougou, a capital de Burkina Faso.

O médico lhe receitou um tratamento contra a malária, mas o remédio era muito caro para Dieng. Por isso ele procurou um ambulante ilegal para comprar pílulas mais baratas. "Era caro demais na farmácia. Fui forçado a comprar remédios na rua", contou. Dias depois ele foi hospitalizado, já que adoeceu por culpa dos mesmos remédios que deveriam curá-lo. Além disso, a noite no hospital custou-lhe mais do que o dobro do que teria pagado se tivesse comprado os medicamentos prescritos.

Perda milionária para a indústria legal

As autoridades da Costa do Marfim informaram no mês passado que apreenderam quase 400 toneladas de remédios falsos nos últimos dois anos. Capaz Ekissi, do Ministério da Saúde, disse à Reuters que os bens apreendidos, que tinham sido vendidos aos consumidores, teriam representado uma perda para a indústria farmacêutica legítima de mais de US$ 170 milhões. "Eles têm a reputação de serem mais baratos, mas, na melhor das hipóteses, são ineficazes e, na pior, são tóxicos", afirmou Abderrahmane Chakibi, diretor para África subsaariana da farmacêutica Sanofi.

Mas, na Costa do Marfim, muitos não podem bancar o custo de remédios vendidos em farmácias, que, muitas vezes, somente estocam medicamentos importados da França, em vez de genéricos mais baratos de lugares como a Índia. "Quando você não tem meios, é forçado a ir para a rua", disse Barakissa Cherik, um farmacêutico da capital comercial da Costa do Marfim, Abidjan.

Fonte: O Globo

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