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ENTREVISTA

Gilberto Gil diz a jornal espanhol que pandemia fará humanidade avançar

Músico baiano concedeu entrevista ao jornal El País, onde analisa momento político e cultural do Brasil

Da redação

Terça - 18/05/2021 às 14:26



Foto: Denis Balibouse Gilberto Gil
Gilberto Gil

Prestes a completar 80 anos em 2022, Gilberto Gil já viveu muitas coisas. Foi preso na ditadura militar (1964-1985), fez um auto-exílio em Londres após ser libertado, compôs e gravou centenas de composições, foi vereador em Salvador e ministro da Cultura durante a gestão na presidência de Lula. Por tudo isso, o baiano tem uma larga experiência de vida.

Mesmo em um momento complicado causado pela pandemia do novo coronavírus, ele não perde a esperança na humanidade, acompanhada de perto por veículos do mundo inteiro, internacionais e nacionais, como o Jornal365.

A avaliação faz parte de uma longa entrevista que o músico concedeu ao jornal espanhol El País. Ao longo da conversa, Gilberto Gil fez avaliações precisas sobre o momento no qual a humanidade se encontra. Os problemas causados pelo covid-19, que se espraiam por áreas diversas, como sanitária, econômica e social, poderá fazer a humanidade avançar, segundo Gil.

"A esperança geral é que nós tenhamos condições de avançar em relação a um padrão genericamente aceito de nos relacionarmos. Quando vemos essas festas clandestinas, pessoas furando a fila da vacina, são os velhos modos humanos de ser, sem a empatia que a situação merece. Que possamos melhorar", disse o cantor.

Mesmo contrariado com os casos de fura-fila da vacina ou festas clandestinas, Gil afirma que essas situações resultam de algo que a humanidade carrega desde sempre. O bom e o mal agir estão, de acordo com o artista, entranhados no ser humano.

"Os extremos do bem e do mal, do bom agir e mal agir, eles continuam aí, estão em diálogo permanente. A expectativa geral é que a humanidade avance. Mas, veja, avançar para onde? Avançar significa se livrar de certas maneiras de ser e adotar outras", comentou Gil.

Ele continua. "Ao mesmo tempo, essas coisas todas dependem de valores que vem da ética, da moral, da dimensão religiosa. Não tem uma resultante universalmente perceptível no sentido de dizer que estamos manifestando uma qualidade nova nas relações humanas ou, pelo contrário, que podemos estar apresentando uma desqualificação mais antiga da humanidade", disse.

Questionado sobre músicas inéditas eventualmente criadas ao longo da pandemia, Gil afirma que algo pode surgir da reclusão vivida nos últimos meses, seja em Salvador ou no Rio de Janeiro. Mas ele garante que não há pressa em dar vazão a nada e que a busca por inspiração já não o pressiona como quando era mais novo.

"Eu fico aqui tocando o meu violão, tranquilo. Alguma coisa pode resultar desses períodos vividos um pouco na Bahia, aqui em Itaipava (região serrana do Rio) ou em Copacabana, fruto desse estreitamento da possibilidade de viver. Mas a volúpia, a busca dessa resultante, não é a mesma daquela época. É outra forma de quietude", analisou.

Um dos principais expoentes da Tropicália, ao lado de nomes como Caetano Veloso, Tom Zé e Torquato Neto, em meados da década de 1960, Gilberto Gil afirma que o movimento está inserido na cultura brasileira de várias maneiras e para além da música.

"Houve uma chuva de partículas tropicalistas provocadas por aquela nuvem que passou ou por aquela bomba que explodiu. Todos esses meninos que fazem músicas em cultura popular no Brasil, que eventualmente estão no teatro ou no cinema, têm uma herança tropicalista muito nítida. Só que assim, manifestada em fragmentos, às vezes diafanamente espalhadas por aí, essa captação da dimensão tropicalista fica dificultada, por vezes obliterada. Mas aquilo que nós desejávamos e colocamos em prática está aí: diversidade, liberdade, pluralismo, todo um repertório e ideário que era base da Tropicália. Está tudo solto na plataforma do ar, diria Luiz Melodia", conclui Gil.

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