Política

Motoristas relatam entrega de dinheiro a assessor de Ciro Nogueira

Os depoimentos se deram no âmbito de inquérito que investiga supostos repasses de R$ 1,6 milhão da Odebrecht ao parlamentar nas campanhas de 2010 e 2014,

Domingo - 15/04/2018 às 14:04



Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado Senador Ciro Nogueira (PP-PI)
Senador Ciro Nogueira (PP-PI)

Dois motoristas da Transnacional, empresa investigada na Lava Jato por ter supostamente transportado dinheiro em espécie, disseram em depoimento à Polícia Federal que realizaram o transporte de valores em grande quantidade para o apartamento de um assessor do senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PP-PI).

Os depoimentos se deram no âmbito de inquérito que investiga supostos repasses de R$ 1,6 milhão da Odebrecht ao parlamentar nas campanhas de 2010 e 2014, quando ele se elegeu e se reelegeu ao Senado.

Lourival Ferreira Nery Júnior, que é ex-diretor financeiro da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) do Piauí, foi indicado à estatal por Ciro. Ele é, desde 2014, assessor do Partido Progressista no Congresso e afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que também presta serviços ao senador.

Depoimento

O correligionário do parlamentar já foi conduzido coercitivamente na Operação Lava Jato em março de 2016, na Xepa, quando foi descoberto pela força-tarefa que a Odebrecht mantinha, dentro de sua estrutura, um ‘departamento de propinas’. Lourival foi um dos alvos porque, um mês antes, na Operação Acarajé, que também mirou a Odebrecht, seu nome foi encontrado em planilhas de repasses da empreiteira. Seu codinome era ‘Piqui’. A ele, eram atribuídos repasses de R$ 500 mil nos dias 13 e 14 de novembro de 2014.

Os dois ex-motoristas da Transnacional – ou Trans-Expert – confirmaram os repasses ao assessor do parlamentar. Em fevereiro deste ano, Geraldo Pereira de Oliveira não apenas detalhou o caso como fez reconhecimento de Lourival por meio de foto que lhe foi exibida pelos investigadores.

Ele contou ter iniciado, em 2012, ‘os trabalhos na Transnacional realizando transporte de documentos e pagamentos da empresa em bancos’ e que, ‘posteriormente, passou a trabalhar com transporte e entrega de valores’.

O motorista narra uma prática recorrentemente mencionada por delatores da Odebrecht: a entrega de dinheiro mediante apresentação de senha pelos destinatários.

Segundo o ex-funcionário da Transnacional, ‘excepcionalmente, quando algum recebedor solicitava a verificação, era aberto opacote e contavam as “cabeças” – nome dado a ‘pacotes de 100 cédulas de um mesmo valor’. Geraldo ainda disse que, inicialmente, o limite de entregas era de R$ 250 mil, mas, em 2014, o montante foi ‘flexibilizado’ e começou a ser ‘frequente’ o transporte acima de R$ 500 mil.

Reconhecimento

Ele afirma reconhecer o edifício La Defense, na Rua Ministro Godói, no bairro de Perdizes, São Paulo, em que morava Lourival Ferreira Nery Júnior, e que ‘sempre era autorizado a entrar pelo portão da garagem, seguir pelo elevador de serviço e entrar no apartamento’ do assessor. Somente uma vez teria ido ao endereço e recepcionado pelo pai de Lourival. Ele alega ter feito pelo menos três entregas naquele endereço.

Já Ednaldo Rocha Silva, outro ex-motorista da Transnacional, também reconheceu ter feito entregas nos edifícios, mas pelo ‘tempo’ que se passou, já não identifica o rosto do destinatário.

A empresa é citada diversas vezes na Operação Lava Jato. Especialmente no Rio de Janeiro, a empresa teria sido utilizada para o transporte de valores envolvendo os esquemas ligados ao ex-governador Sérgio Cabral, cujas somas chegam aos 100 anos de prisão. Os veículos blindados da empresa, bloqueados judicialmente, chegaram a ser oferecidos pela Justiça ao governo carioca para fins de segurança pública.

Investigação. Segundo planilhas do departamento de propinas da Odebrecht, Ciro Nogueira aparece como ‘Helicóptero’ e ‘Cerrado’. Delatores afirmam que, em 2010, R$ 300 mil em espécie foram repassados à campanha dele. Já em 2014, outros R$ 1,3 milhão, também via caixa dois, teriam sido operacionalizados. Os colaboradores citam que, com o parlamentar, tiveram tratativas a respeito da Medida Provisória 656, que dispunha sobre o setor de energia, e sobre contratos no setor no Nordeste. De acordo com os colaboradores da Odebrecht, nenhum dos temas foram levados à frente.

Quadrilhão. Ciro Nogueira foi alvo de duas denúncias da Procuradoria-Geral da República, uma delas no âmbito do ‘Quadrilhão do PP’, em que integrantes do partido são acusados de organização criminosa. Em outra acusação, narra a PGR que ele pegou propina no valor de R$ 2 milhões da UTC Engenharia, ‘com base em promessas de favorecer a empreiteira em obras públicas de responsabilidade do Ministério das Cidades e do Estado do Piauí’.

Com base na delação da JBS, o presidente do PP é investigado ainda por supostos repasses de R$ 20 milhões em 2014, com o objetivo de integrar a chapa da ex-presidente Dilma Roussef. O executivo Joesley Batista disse também que se encontrou com Ciro e pediu a ele que adiasse uma reunião partidária que provavelmente decidiria pelo desembarque do PP do Governo em 2016 – o que acabou acontecendo em abril, mas com atraso. Para atender o pedido, o presidente do PP teria combinado receber de Joesley o valor de R$ 8 milhões, pago em março de 2017. A procuradora-geral Raquel Dodge pediu ao STF que abra investigação formal sobre o caso.

Fonte: Fausto Macedo/Estadão

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