
A busca por uma alimentação mais saudável e capaz de prevenir doenças tem mobilizado não só a indústria alimentícia, mas também as universidades. No curso de Nutrição da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina, projetos coordenados pela Dra. e professora titular Regilda Saraiva dos Reis Moreira Araújo, vêm transformando matérias-primas regionais, como o feijão-caupi, frutas do cerrado e plantas alimentícias não convencionais (PANCs), em alimentos funcionais inovadores, capazes de auxiliar no controle e prevenção de doenças crônicas e carências nutricionais.
Regilda Saraiva dos Reis Moreira Araújo, professora e pesquisadora da UFPI. (Foto: reprodução)
Segundo a pesquisadora, alimentos funcionais são aqueles que contêm substâncias com efeito benéfico comprovado à saúde, como antioxidantes, fibras e compostos bioativos, que ajudam na prevenção e controle de problemas como anemia, hipertensão, obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. “São alimentos que fazem parte dos hábitos alimentares da população e, ao mesmo tempo, valorizam a biodiversidade do bioma semiárido”, explica Regilda.
A professora trabalha com alimentos funcionais desde o doutorado, quando desenvolveu um snack para controle da anemia ferropriva em crianças. Desde que retornou à UFPI, incorporou a temática às disciplinas que ministra e passou a coordenar uma série de projetos macro cadastrados na universidade, financiados por órgãos como CNPq e Inova-UFPI. Entre eles, destacam-se a caracterização de compostos bioativos no mel do semiárido e o desenvolvimento de produtos à base de matérias-primas locais.
O feijão-caupi, símbolo da alimentação piauiense, é uma das estrelas das pesquisas. Por ser rico em proteínas, fibras, minerais e compostos fenólicos como flavonoides, ele vem sendo estudado em versões biofortificadas para controle da anemia e inserido em formulações como biscoitos, cookies e pão de queijo funcional, já com patentes depositadas. “Os resultados foram excelentes. O pão de queijo funcional, por exemplo, já tem projeto para inserção no mercado por meio da startup Caupi, com apoio da INEAGRO-UFPI”, adianta a professora. Outra inovação é a ORA — bebida fermentada à base de ora-pro-nobis com cajuína, também planejada para chegar aos consumidores.
As iniciativas envolvem alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de Nutrição e áreas afins, além de professores e técnicos. “Participam alunos do curso de Nutrição de iniciação científica, de iniciação tecnológica, mestrado e doutorado em alimentos e nutrição (PPGAN) mestrado em ciências e saúde (PPGCS) e mestrado em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (Profnit ) da UFPI, professores e técnicos de laboratório. Com os alunos da disciplina Análise Sensorial de Alimentos da Graduação e da disciplina Desenvolvimento de Produtos do PPGAN - UFPI elaboramos projetos/ propostas de novos alimentos funcionais também”, ressalta.
alunos do curso de Nutrição de iniciação científica, de iniciação tecnológica, mestrado e doutorado em alimentos e nutrição (PPGAN)
Além do caupi, os trabalhos também utilizam coprodutos como cascas, sementes e mesocarpo de bacuri, além de frutas típicas do cerrado e da caatinga, mostrando o potencial sustentável dos alimentos regionais. Os produtos já desenvolvidos têm boa aceitação sensorial e potencial de mercado, reforçando que comer bem e com saúde pode ser também uma forma de valorizar o que é produzido no Piauí.
As pesquisas lideradas por Regilda reforçam a importância da universidade como agente transformador da alimentação cotidiana, aproximando ciência, cultura alimentar e inovação tecnológica.