Arte e Cultura

Esperança Garcia é homenageada com nome de auditório na UnB

Esperança Garcia denunciou os maus tratos sofridos por ela e demais escravos piauienses através de uma petição, gesto heroico pelo qual é homenageada nos dias de hoje

Valciãn Calixto

Sexta - 01/11/2019 às 19:49



Foto: Maré UnB Representantes do CaDi, Maré UnB e Instituto Esperança Garcia
Representantes do CaDi, Maré UnB e Instituto Esperança Garcia

Novembro, o mês da Consciência Negra começou com duas vitórias simbólicas para o movimento. O colegiado da Universidade de Brasília (UnB) autorizou a mudança do nome do auditório da faculdade de Direito, que vai se chamar Esperança Garcia, e a Câmara Federal aprovou a inclusão de seu nome no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

A renomeação do auditório ocorreu nesta sexta-feira (01), após uma reunião com os discentes do curso. O espaço destinado a discussão de ideias, a receber palestras, fóruns e feiras acadêmicas levava o nome de Joaquim Nabuco, contudo, a partir de hoje será mais um ponto de resgate e culto ao gesto heroico "em que Esperança Garcia, escrava piauiense, denunciou em 1770 através de uma petição endereçada ao Governador da Província do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, os maus tratos por ela sofridos, constituindo o mais antigo documento em defesa do povo negro, em solo piauiense, por um de seus representantes”.

Por este feito é que em 2017, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PI) concedeu título de primeira mulher advogada do Estado à piauiense. A cessão simbólica do título foi encabeçada pela professora de Direito, Sueli Rodrigues, que à época presidia a Comissão da Verdade da Escravidão Negra do Brasil. A outorga veio 274 anos após a escritura da petição.

Segundo a presidenta do Instituto Esperança Garcia, Andreia Marreiros, doutoranda em Direitos Humanos pela UnB, o pedido de mudança partiu dos discentes. "Esse processo de renomeação do auditório foi iniciativa dos estudantes e das estudantes negras da Universidade de Brasília. O Centro Acadêmico (CaDi) protocolou esse pedido no ano passado", lembra.


"É importante ressaltar a renomeação de um espaço com tanta visibilidade e de tanto poder como esse da faculdade de Direito para Esperança Garcia", avalia Emilia Joana, pesquisadora e professora da Disciplina Direito e Relações Raciais do projeto Maré UnB, grupo de pesquisa da faculdade.

De acordo com o grupo, "renomear é comprometer-se com o processo de descolonização da universidade e com o acolhimento e permanência dos(as) estudantes negros que a constroem."

Heroína da Pátria

A Câmara Federal aprovou na última quinta-feira (31), projeto de lei que inclui Esperança Garcia no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

O PL é de autoria da também piauiense Margarete Coelho, advogada e deputada federal. O relatório é de autoria da deputada Benedita da Silva (PT/RJ) que manifestou parecer favorável à proposta.

Deputada Benedita da Silva

“Emitimos parecer favorável à presente proposição, ao tempo em que parabenizamos a deputada Margarete Coelho por ter trazido ao conhecimento do Parlamento a história de vida de Esperança Garcia, na sua luta e resistência à escravidão e pelo resgate da dignidade humana”, destacou Benedita da Silva.

Dentre os nomes que já se encontram inscritos no Panteão da Pátria estão: Zumbi dos Palmares, Dandara, Francisco José do Nascimento – o “Dragão do Mar”, Luiz Gama e Luíza Mahin.

Curta-metragem

As homenagens não param por aí. Esse ano, a Esperança Garcia dos tempos modernos, Carmen Kemolly, decidiu retratar a vida da piauiense em um curta-metragem de 16 minutos intitulado ‘Esperança’.

A película, uma ficção performática, resgata muito da cultura negra nordestina, seja louvando ancestrais no litoral do Maranhão, seja apresentando o tambor de crioula, as toadas de bumba meu boi até o momento em que Garcia chega ao Piauí e escreve a petição.

Cena do curta-metragem Esperança, de Carmen Kemolly

“Já tem um tempo que viemos acompanhando a vida de Esperança Garcia. Há na história, uma grande probabilidade de seus antepassados terem chegado em solo piauiense a partir do Porto de São Luís, que recebia muitas pessoas escravizadas na época, até chegarem em Oeiras, antiga capital do Piauí. Como maranhense, quis trazer um pouco desse contexto”, declarou Kemolly.

Carnaval

No Carnaval deste ano, A Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira homenageou diversos personagens da história brasileira com seu desfile na Marquês de Sapucaí, entres eles Esperança Garcia.

Teatro

Em março deste ano, dez reeducandas da Penitenciária Feminina de Teresina levaram aos palcos do Theatro 4 de Setembro a peça Colcha de Retalhos, também em homenagem a Esperança Garcia. A iniciativa surgiu do projeto Mulheres de Aço e de Flores.

Instituto Esperança Garcia

Ainda este mês, a professora Andreia Marreiros funda o Instituto Esperança Garcia. O evento de lançamento será no dia 29 de novembro, a partir das 18h, no auditório da OAB-PI. 

O IEG vem com "o compromisso de proporcionar experiência de educação em direitos humanos interdisciplinar, feminista, antirracista, contra-colonialista, permeada por afeto e criticidade e articularmos projetos-sonhos de educação transgressora e que contribua para transformação do mundo. Nesta primeira primavera-verão, atuaremos em três projetos: a Pós-graduação em Direitos Humanos Esperança Garcia, a Campanha Esperançar e o Projeto Memória Esperança Garcia. Na oportunidade, faremos os seguintes lançamentos: a) Quarta turma da Pós em Direitos Humanos Esperança Garcia; b) O livro A negação da liberdade, da professora Gabriela Sá; c) Campanha Esperançar com a Defensoria Pública", diz publicação no Instagram do instituto.

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