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Como artesãs, pessoas em situação de rua mostram seus trabalhos

Em SP, projeto dá oportunidade para quem está em vulnerabilidade

Sábado - 16/02/2019 às 15:02



Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Robilã Rodrigues da Cruz e Cícero Ferreira produzem móveis e artesanato a partir de caixas de frutas e paletes
Robilã Rodrigues da Cruz e Cícero Ferreira produzem móveis e artesanato a partir de caixas de frutas e paletes

Pessoas em situação de rua que produzem móveis e artesanato a partir de caixas de frutas e paletes (usados na movimentação de cargas) descartados vão se apresentar no teatro do Sesc da Avenida Paulista, região central da capital. O grupo Os Cupins das Artes têm apresentações hoje(16) e amanhã (17).

O material, utilizado pelo grupo, é abundante na região onde o projeto foi criado, ao lado do Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na zona oeste paulistana. A maior central de abastecimento atacadista da América Latina, por onde circulam diariamente cerca de 50 mil pessoas e 12 mil veículos, também tem em sua vizinhança uma grande quantidade de pessoas em situação de rua e usuários de drogas.

Para cuidar dessa população, foi instalado uma das unidades emergenciais de atendimento (Atende), serviço da prefeitura que oferece pernoite e banho. Foi ali que o artista visual Raphael Escobar começou o grupo como uma oficina de marcenaria, que está se tornando um projeto de geração de renda autônomo, administrado pelos próprios usuários.

“Quando eu entrei no Atende, eu sentei com os moradores de rua e falei um pouco a proposta que eu tinha”, contou Escobar sobre o início da prática há menos de um ano. “A gente construiu o nome juntos, o logotipo e fomos pensando a forma das coisas acontecerem”, acrescentou.

Projeto

Com a proposta de manter a oficina vinculada ao cotidiano das pessoas que passam pelo serviço municipal, surgiram iniciativas sobre o uso do material disponível. “Muitos deles já trabalham no Ceasa construindo caixas de fruta”, disse Escobar. “Tem alguns que ‘manjam’ pouco e tem outros que ‘manjam’ mais, e aos poucos a gente vai tentando equalizar o nível de todo mundo. Tudo mundo vai ajudando tudo mundo.”

Cícero Ferreira, de 55 anos, é um dos integrantes do grupo que tinham conhecimento prévio do ofício. Porém, há estava há bastante tempo distante das ferramentas, mais de 20 anos, pelos seus cálculos. Foi sendo alimentado aos poucos pelo trabalho em grupo.

“A gente foi se encontrando um e outro e juntando as nossas ideias”, afirmou, acrescentando que pensa nas peças imaginando o uso que será feito dos objetos. Como exemplo, Cícero mostra um pequeno banco feito na marcenaria. “Eu fiz pensando em um piquenique, uma reunião no jardim”, disse

Geração de renda

Com o empenho do grupo, o projeto conquistou um espaço próprio dentro do Atende. “É o grande trunfo do projeto, o momento que a gente desativa um quarto e transforma em marcenaria. Aí consegue ter espaço e virar de fato um projeto de economia solidária. A gente conseguiu ter a autonomia deles no projeto”, comemorou Cícero Ferreira.

As vendas das peças são feitas pelas redes sociais e também de porta em porta na vizinhança. “Tem dois que são bons de lábia, então eles saem pelo bairro oferecendo os serviços, explicando que é um projeto de moradores de rua e conseguindo alguns clientes”, relatou Escobar. A renda é dividida em partes iguais entre os participantes e uma caixa da marcenaria, para compra de material.

O artista visual Raphael Escobar coordena a oficina de marcenaria e Cícero Ferreira participa do grupo Os Cupins das Artes, que produz móveis e artesa

O artista visual Raphael Escobar coordena a oficina de marcenaria e Cícero Ferreira participa do grupo Os Cupins das Artes, que produz móveis e artesanato a partir de caixas de frutas e paletes - Rovena Rosa/Agência Brasil

Daqui para frente, Os Cupins das Artes querem, segundo Cícero, trazer mais frequentadores do Atende para participar da inciativa. “O nosso objetivo é trazer outros que estão lá [aponta para o pátio o serviço] para fazer atividade também”, afirma o artesão. Para ele, cada nova cabeça fortalece o projeto com novas habilidades e ideias. “Todos eles têm as suas práticas e sabem trabalhar.”

Fonte: Agência Brasil

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