Arte e Cultura

Músico piauiense é agredido por seguranças e produção do festival Universo Parallelo

Marcus Sousa, conhecido como Maguim do Pife, foi agredido com tapa e teve armas apontadas para seu rosto durante abordagem; A produção do evento também coagiu os músicos após uma manifestação do artista em palco

Valciãn Calixto

Segunda - 13/01/2020 às 11:42



Foto: Reprodução/Facebook Caju Pinga Fogo durante apresentação no projeto Boca da Noite em Teresina-PI
Caju Pinga Fogo durante apresentação no projeto Boca da Noite em Teresina-PI

O grupo piauiense Caju Pinga Fogo anunciou com alegria em 2019 ter sido selecionado como uma das atrações para se apresentar no palco Circulou, do Universo Parallelo, festival de música que aconteceu de 27 de dezembro a 3 de janeiro na Bahia, onde se apresentou ao lado de artistas como Djonga, Caetano Veloso, Rincon Sapiência e Os Mutantes.

Contudo, os músicos não imaginavam que o sonho de tocar em um evento de grande porte e alcance nacional, com mega estrutura de palco, som e luz, ter a oportunidade de ver de perto shows de seus ídolos e ainda fazer contato com bandas e artistas de diversos cantos do país, jornalistas e produtores culturais teria um drama no meio, que repercute até hoje, dez dias após o final da festa.

No dia 1º de janeiro, Marcus Sousa, conhecido artisticamente como 'Maguim do Pife', um dos fundadores do Caju Pinga Fogo, foi abordado por quatro seguranças do evento. Jogado ao chão pelos agentes, tomou um ‘tapa na cara’ e teve três armas apontadas para seu rosto enquanto passeava pela praia de Pratigi, local do evento, próximo a um dos palcos do festival dedicado à música eletrônica e apresentação de DJs.

“Semanas se passaram e eu ainda continuo sentindo meu estômago revirar, como na noite em que fui jogado contra minha vontade na areia da praia, sob a mira de três armas e a alegação de ‘parecer com o suspeito’”, disse em uma publicação no seu perfil do Instagram.

De acordo com o relato do artista, os seguranças procuravam um rapaz acusado de roubar o público. Das cinco características que os agentes possuíam do suspeito, apenas uma batia com a de Marcus, a de ser negro, suficiente para ter sido abordado com violência.


Um quinto segurança teria chegado à cena e dito para que os outros quatro soltassem o músico, pois as características não batiam. Ao notar o erro, Maguim teria dito “vocês me derrubaram na areia e ainda bateram na minha cara só para me revistar”.

Ao que um dos seguranças respondeu “não, ninguém aqui bateu na sua cara, nós apenas te abordamos”. Um segundo agente retrucou com “cala a boca que aqui é a Polícia, filha da puta!”.

Ainda abalado com o ocorrido, no dia seguinte o Caju Pinga Fogo faria sua apresentação. Após tocar três músicas, os integrantes deixaram o palco, ficando apenas Maguim, que iniciou uma manifestação usando a mesma frase dita pelo segurança: Cala a boca que aqui é a Polícia, filha da puta. Na sequência, o artista relatou todo o constrangimento que tinha vivido na noite anterior.

“Quando comecei a falar que não voltaria mais ao festival, pois não me sentia bem ali, o cara do som desligou o microfone e todo mundo começou a vaiar o técnico e pediram para eu continuar falando”, conta.

O músico conta ainda que no camarim, a banda chegou a ser coagida pela produção do palco em que se apresentaram.

“Fomos coagidos pela produtora do Palco Circulou (um dos espaços do evento) e pelo técnico de som, do mesmo palco, pelo fato de termos nos manifestado no espaço em que, de acordo com a produtora, "fomos pagos para tocar". Tenho como testemunho todos os membros da Caju Pinga Fogo. Me pergunto quantas vezes isso já não deve ter acontecido, ao longo desses anos de evento. Nada me surpreende nisso tudo. Mas ainda assim me entristece e traumatiza", comenta.

Acostumado à rotina com shows e participação em diversos festivais nacionais, o paraibano Nildo Gonzalez lamentou o caso.

"É lamentável que isso tenha acontecido num festival de tamanha importância pro Brasil. Me pegou de surpresa porque vários amigos já haviam participado desse festival e nunca houve relato nem de longe parecido com isso. Estou lamentando demais, muito triste pelo Maguim e pela Caju Pinga Fogo. Espero que quem pratique isso em um festival de que é de arte, de humanidade que pague", disse o baterista.

OUTRO LADO

A última edição do Universo Parallelo marcou os 20 anos do festival. A reportagem do Piauihoje.com entrou em contato com a produção do evento solicitando um posicionamento quanto ao ocorrido, mas até o momento não obteve retorno. O espaço está aberto a quaisquer esclarecimentos.

CAJU PINGA FOGO

Surgida em 2016 dentro da Universidade Federal do Piauí, o grupo Caju Pinga Fogo já se apresentou nos principais palcos e festivais do Estado. Em 2019, o grupo estreou com o disco Rosa dos Ventos, com 14 faixas e tem produção do pernambucano Zé da Flauta. 

O álbum está disponível nas principais plataformas digitais. O trabalho da banda foi considerado um dos melhores de 2019 pelo blog O Inimigo.

Em dezembro de 2019, a banda fez uma apresentação em São Paulo, dentro da programação do Festival Internacional Sim São Paulo.



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