Brasil

Decisão de maternar ainda é tabu para mulheres

"Trabalhamos para que a decisão de maternar seja única e exclusivamente da mulher, e não por conta do ambiente no qual ela está inserida", afirma Michelle Terni, CEO da Filhos no Currículo

Da redação

Quinta - 10/03/2022 às 09:18



Foto: Divulgação Talita Braga
Talita Braga

 “Não tenho vontade de ser mãe e, mesmo assim, sou uma rede de apoio para as mulheres que decidirem pela maternidade dentro da minha empresa, pois acredito que ter filhos não é fragilidade e, sim, potência no mercado de trabalho”, afirma Talita Braga, 37, executiva da Corteva Agriscience.

Talita, que é líder de inclusão feminina da empresa do setor agro, deixa bem claro: “quero intensificar o diálogo para que a mulher se sinta acolhida em qualquer cenário, escolhendo ou não ser mãe. E isso passa por um diálogo também com os homens sobre o papel deles como pais, gestores ou colegas de trabalho”, explica.

No Brasil, 37% das mulheres não querem ter filhos. No âmbito mundial, o índice sobe para 72%. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Bayer, com apoio da Federação Brasileira de Ginecologia e do Think about Needs in Contraception (Tanco).

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O degrau quebrado

Michelle Terni, CEO da Filhos no Currículoconsultoria focada em criar programas de parentalidade nas empresas e que desenvolve um projeto de sensibilização na empresa na qual Talita trabalha, acredita que o receio de não performar na carreira é um dos motivos que levam muitas mulheres a postergar ou desistir da maternidade, e que a construção de uma cultura parental dentro das organizações vai incentivar a mudança desse cenário.

Michelle explica que, na trajetória profissional, as mulheres ainda encontram uma espécie de “degrau quebrado”, uma metáfora para representar a dificuldade de muitas mulheres em evoluir para cargos gerenciais em suas carreiras. “Quando elas estão subindo, um “degrau” se quebra. E não é coincidência que isso acontece, na maioria das vezes, durante sua idade fértil”, destaca.

Segundo a pesquisa Women in the Workplace / Mckinsey 2021 sobre representação feminina no mercado de trabalho, esse degrau fica explícito quando se percebe que 48% dos cargos de entrada nas empresas são ocupados por mulheres, enquanto nos cargos de gerência e diretoria elas são 35%. Para cargos C-Suíte, o índice é ainda menor, 24%.

“Propomos uma troca do OU para o E. Não é filhos OU carreira, é filhos E carreira. Trabalhamos para que a decisão de maternar seja única e exclusivamente da mulher, e não por medo da falta de acolhimento no seu ambiente de trabalho. Cabe às organizações colaborarem na desconstrução desses vieses repetidos na sociedade, entre eles o de que a mulher precisa justificar escolhas”, explica.

Para Júlia Facure, 26, gerente de contas estratégicas da Ambev, principalmente nos últimos anos, mulheres que, como ela, não pensavam em ter filhos, começaram a se planejar para isso ao notarem uma mudança de mentalidade na cultura empresarial de suas organizações. “Acredito que a decisão de não ser mãe deve partir muito mais de outros fatores e não do medo de não conciliar maternidade com carreira”, conta Júlia, que assistiu as trilhas de conteúdo contidas no programa de parentalidade da Ambev, realizado pela Filhos no Currículo, logo após descobrir que estava grávida, o que ocorreu pouco depois de ter se tornado a primeira mulher da companhia a gerenciar uma operação própria no interior.

Outro ponto levantado pela porta-voz da Filhos é a necessidade desses programas de parentalidade reforçarem a isonomia e a equidade de gênero. “A maioria dos gestores enxerga de forma bem diferente quando é um homem ou uma mulher da equipe que anuncia que terá um filho. Para esse homem, a chegada de um filho representa um “passaporte” para o mundo da responsabilidade, enquanto, para muitas mulheres, filhos representam uma barreira na progressão de suas carreiras”, salienta Michelle.

Para começar a tratar dessa questão estrutural, ela sugere uma primeira mudança de mentalidade por parte das organizações: “As empresas que repensarem as suas políticas com mais isonomia e levarem em consideração as novas configurações familiares e a vontade de muitos homens em construir uma relação de vínculo com seus filhos, estarão permitindo que muitos profissionais com filhos, sejam eles homens ou mulheres, sejam protagonistas em suas carreiras.”, completa.

Fonte: UPPERPR

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