Proa & Prosa

Proa & Prosa

Radicalizar

Dizem alguns, inclusive dentro do PT, que a Lula caberia o papel de “conciliador” da nação conflagrada em ódio pela direita

Fonseca Neto

Quarta - 18/12/2019 às 09:26



Foto: Brasil 247 Ex-presidente Lula
Ex-presidente Lula

Rolam conversas por estes dias, com diferentes vieses, aludindo a uma   “polarização” política na sociedade brasileira. Isso teria se acentuado com a saída de Luiz Inácio Lula da Silva da prisão política a que foi levado para não participar da disputa eleitoral de 2018. Polarização?

O episódio da prisão de constitui desdobramento do golpe perpetrado pela direita brasileira, internacionalmente articulada, com decisividade, no plano interno, o ativismo partidário do Judiciário, convocando para a ruptura democrática aqueles que não sabem fazer outra coisa, que golpear as instituições da lei – o poder armado – em favor de interesses em geral contrários ao País. Tudo politicamente negociado com a maioria congressual corrupta até o talo e o aparato da mídia oligárquica, assim monopolizado, sustentáculo indispensável da ruptura golpista. Ruptura que avança rapidamente com seu projeto de destruir/reforçar, na vida social brasileira, sua histórica propensão de ser mera colônia, culturalmente viciada em escravidão.   

Pouca coisa mais radical no Brasil nas últimas décadas, politicamente falando, que esse golpe perpetrado contra a democracia brasileira. Democracia, aliás, arranjo inconcluso colocado de pé nas jornadas esperançosas de trabalhadores, estudantes e outros setores em luta, de anos, contra a última Ditadura inscrita na história do Brasil, desde 1964.

A violência de depor Dilma Rousseff e impedir-se Lula de concorrer ao pleito de 2018 – operação amoldada pela corrupção empresarial-política real – impõe um tributo de atraso de reparação complexa. Resultado disso é o desdobramento na forma da trama que colocou à frente da Presidência o setor extremado da direita, a qual, mais que neoliberal, impõe uma agenda regressista, antiliberal até.

A esquerda se põe no contexto, presa numa espécie de estado de imobilidade em face do ataque regressista, partidos e outros setores como se não acreditassem no que está acontecendo. Tal num grande teatro do absurdo, assiste ela nas galerias do cenário nacional o desenrolar da trama, à espera do próximo ato de “desgaste” do vilão-bandido, para encetar iniciativas. Mas diga-se que a liberação de Lula do aprisionamento político contou com a ação decidida de parte significativa da esquerda, a despeito de uma fração dela, sectarizada, apoiar a prisão.

Solto desde o mês passado, e agora ainda mais avultado o papel da liderança de Lula, a direita ataca, com furor mortal, a exigir o que seria uma “autocrítica” de seu partido e aliados históricos. Direita que não aguenta o debate quando as ruas se enchem de sonhadores e não de obscurantistas de golpes e repressões que ferem a ferro e fogo o jogo do exercício democrático. A direita jamais acreditou em democracia neste Brasil, doente de golpismo. A esquerda é quem luta, sob pena de não respirar. Enredada no seu próprio debate sobre a prática democrática.

Dizem alguns, inclusive dentro do PT, que a Lula caberia o papel de “conciliador” da nação conflagrada em ódio pela direita e seu passivo de crimes contra a República.

O abominável antipetismo, como furor de ódio, chegou ao clímax, fustigado por décadas de ataques midiáticos e por todos os meios. Ódio e intensificação da violência por diversas formas, lastreia o golpismo e o simulacro do governo que destroça leis de direitos, amealhadas, aqui e ali, numa difícil negociação Inter geracional, a exemplo da CLT e do capítulo constitucional das garantias fundamentais e sociais.

Lula, o alvo da mais torpe perseguição por toda espécie de criminosos e golpistas; odiado pelo empresariado e por determinada espécie de gente da “classe média”; desrespeitado em sua integridade pessoal e alvo das mais hediondas mentiras por grandes tevês e jornalões. Lula, roubado dele um provável novo mandato popular, devendo agora ir sabujar a direita golpista para costurar acordo de paz com ela, “pacificar o Brasil”? Até dentro do PT gente propondo isso?

Uma lição que os fatos recentes evidenciaram me parece deve ser aprendida: a soltura da prisão política de Lula não é obra apenas de seu partido e muito menos ainda dos Movimentos Sociais, enredados em seu labirinto imobilizante. Decisiva foi a união suprapartidária de democratas radicais, bem articulada em nível internacional, que segurou a denúncia do caráter espúrio de seu aprisionamento.  

A liderança de Lula que, em certa conjuntura, confluiu numa concertação com o conservadorismo para viabilizar a presidência que o povo o confiou, resvalou na trama que o golpeia e o quer destruído. Ainda que não fosse falsa essa “polarização” que precisaria dele para apaziguar, a Lula cabe a liderança na agregação dos lutadores reais contra o fascismo viçoso. Essa é a luta, entre as lutas, que marca a presente conjuntura, inclusive a dimensão eleitoral.

Siga nas redes sociais
Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

Compartilhe essa notícia: