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Pátio escolar vacante

A orientação política do governo gerado pelo golpe de 2016 é claramente contrária à Educação como política pública para incluir populações historicamente marginalizadas.

Fonseca Neto

Terça - 16/11/2021 às 11:11



Foto: Divulgação UFPI
UFPI

Covid: os inimigos da universidade pública não contavam com uma desculpa mais que perfeita para tripudiar sobre ela, diminuí-la, desqualificá-la, de vez. E cultural e socialmente nutrir a  desmoralização dessas instituições, tal aconteceu – é fato histórico execrando – com a educação pública nos graus básicos. 

Uma perversão, logo agora que as instituições públicas ensaiavam um avanço significativo, real e simbólico, democratizante, do acesso ao povo trabalhador mais amplo às suas fileiras.    

A orientação política do governo gerado pelo golpe de 2016 é claramente contrária à Educação como política pública para incluir populações historicamente marginalizadas. 

Treinar com alfabetização meramente do ABC, para as tarefas desqualificadas da economia dependente das tecnologias de longe, eis o sentido do trato educacional em curso em nível federal. Estados federados e municípios – exceções contam – seguem idêntica orientação. Ou orientação nenhuma: importante é que não levem educação pública a sério. 

Na realidade mais próxima que conhecemos, o ensino básico público tem déficits aparentemente insuperáveis, sendo gritante a desvalorização social dessa atividade, a maioria da população associando o maior êxito educacional à escola privada. Pior: há pesquisas sérias que o afirmam.   

A pandemia C-19 impõe ao já devastado mundo educacional público brasileiro sua dose mais letal e mortificante. Pesquisas de países distantes já mostram o tamanho do desastre. Uma tragédia. No Brasil, a elite que manda comemora essa desgraça, enfim, repita-se, ela não precisava de melhor desculpa para ver continuada, praticada, sua visão que recusa tudo que implique inclusão/reparação social.

Particularizemos a situação da universidade, que se encontra praticamente sem atividade presencial desde 17 de março de 2020, há vinte meses. Aulas passaram a ser feitas de forma remota e a fragilização é geral. Professores e estudantes com dificuldades de atuar ante a emergência.  O que há de atividade presencial é muito pouco significativo, sem impacto no dia a dia do campus.

No caso do campus da Ufpi, Ininga, Teresina, encontra-se fechado desde a referida data, um vazio espantoso. São estruturas bastante utilizadas em tempos normais e, sob diversos aspectos, já precarizadas, ainda que dispondo do indispensável: bons docentes, salas com recursos tecnologicamente inteligentes, padrão mediano de climatização. Para voltar à convivialidade humana plena, haverá de cumprir novos protocolos em defesa da boa saúde;  investir na agregação de ajustes com vistas à segurança sanitária dos protagonistas.   

Em resumo: o campus se encontra esvaziado e pouco se fala em retomada de atividades presenciais, ainda fortes os temores em relação ao contágio. Mas o que chama mesmo a atenção é a ausência de providências tendentes a preparar o ambiente da volta às aulas presenciais. Por quê? O dito ganho governamental do governo golpista com a crise pandêmica, no sentido de sustentar sua orientação desmoralizante das instituições públicas. 

E os lutadores em prol da Universidade Pública como compromisso histórico? Estão temerosos com medo da contaminação; um fundado receio. Mas há um fator que a tudo agrava: sinais de que não poucos protagonistas universitários estão gostando, mais do que seria razoável, do aulário remoto e afins, estranhando a vivência e os compartilhamentos próprios do campus físico. 

Não é deste tempo de pandemia que há quem defenda o fim do ensino presencial,  na vã consideração de que as tecnologias interconectam a todos em todos os atos inerentes à formação e à vida acadêmica. Sobretudo na área de Humanidades e Ciências Sociais. Quanta ilusão. No mínimo, desconhecimento da realidade. No limite, má fé. 

Pior: vi um professor universitário dizer, semana que passou, que “a ciência resolveu em 4 anos... o que a Filosofia não resolveu em 40”. Fala de um típico bolsomorol, aprendiz afoito de produtor da ignorância. Ou agnólogo, segundo R. Proctor. 

O convencional negacionista.    

Fonseca Neto, historiador, Cadeira 1, APL

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Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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