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Depreciativa essa ideia de Lulinha paz e amor

Lula é manso e parece não acreditar na hediondez da condenação sem dó que lhe faz uma parcela dos brasileiros

Segunda - 09/08/2021 às 06:48



Foto: Foto: Reprodução Lula
Lula

Quando Lula foi eleito, em 2002 e 2006, já na campanha, adversários colaram a ideia de que ele mudara de postura e se transformara num “Lulinha paz e amor” – como se antes fora um monstro do ódio. Atribuição feita por seus inimigos, ou apenas adversários, que por ele nunca nutririam uma referência respeitosa. Esse aparente besteirol de “Lulinha” isso ou aquilo é conversinha que o deprecia.

Lula é manso e parece não acreditar na hediondez da condenação sem dó que lhe faz uma parcela dos brasileiros. No ódio de classe: preconceito enraizado de gente que tem raiva de pobre, de preto, aleijado... No Brasil da elite que ama a escravidão, isso se resume no que se chama de “trabalhador”, esta espécie de sina. A condenação já está dada. Coisa do passado? É nada. Por isso o ódio a Lula.

Por que milhões amam ser funcionário público? Por que, como diz Murilo de Carvalho, “o cargo público é a vocação de todos”? É porque, atitude mental, e na prática, servidor púbico não se tem como trabalhador.  

Hoje em dia não há brasileiro mais odiado e humilhado que Luís Inácio Lula da Silva. Talvez antigamente tenha havido coisa igual ou parecida em relação a lutadores célebres como Zumbi, Bequimão, Mandu, Gomes Jutaí, Luiz das Virgens, outros menos famosos e também dignos de menção. E todos mortos defendendo a Liberdade.   

Mas a evocação desses líderes libertários para se falar do papel atual de Lula precisa ser devidamente contextualizada. Lula é um lutador da liberdade, sim, mas, à diferença da liderança daqueles, sobreviveu e foi guindado à chefia da nação por expressivo movimento popular, numa brecha de exercício democrático aberta mobilização que levou à desmoralização relativa da última ditadura militar, a de 64.

Lula governou dentro da lei e deixou a presidência com expressivo apoio popular, que os imperadores e os presidentes ou simples chefes da república não alcançaram. Isso se encontra evidenciado com seguras pesquisas, sérios estudos e sincero testemunho. Intentando voltar à presidência, por eleições, 2018, foi impedido, no bojo de um golpe (declarado), por forças poderosas e fora da lei. Foi aprisionado em processo político em que os próprios juízes, diante de imenso estupor internacional, refluíram e anularam – depois de consumada a trama criminosa.

Milhões de brasileiros ficaram mudos ante a proibição arbitrária da possível volta de Lula ao lugar presidencial, recolhido à prisão política, e, repita-se, submetido a uma torpe campanha de puro ódio contra ele.  

A perseguição implacável a Lula juntou num só caldo toda espécie de agente de ódio político contra o significado de sua liderança e opção de governo. Governou com orientação de promover a incorporação de milhões de brasileiros ao patamar mínimo de dignidade: “comer pelo menos três refeições por dia”, na maneira que é preciso. Nada de banal. Junto com uma vontade de melhorar as condições de trabalho e consumo de milhares de trabalhadores. Esse o centro de sua política.

Mas Lula liderou a inclusão de milhões e somente ficou na presidência ao preço de negociar sua permanência, a cada dia, na direção da República. Sua liderança não teve a força da organização popular para garantir tais políticas.

Na prisão, o país real pouco se preocupou com golpe, democracia, farsa. E poucos ficaram com ele de maneira determinada e denunciando a arbitrariedade: o MST, uma parte do partido que fundou e lideranças de outras frações organizadas da esquerda. O PCO se lançou inteiro pelo movimento Lula Livre, além de decisivos lances internacionais. O desmascaramento da trama morolista-lavajateira, entreguista, levou à soltura de Lula.

Agora, ficando perto de outra eleição, o país devastado no revés civilizatório, ele é dado em sondagens, como possível eleito no ano que vem e por isso já se cogita melar as eleições, não se encontrando outro meio de afastar Lula do caminho.

Nessa devastação sob o bolsomorismo, nazimiliciano, na mão de neoliberais cruéis e coturneiros golpistas, volta-se a evocar esse tal de “Lulinha paz...”. Ele diz não querer vingar perseguição. Mas não se empolgue com o falso charme dos inimigos do povo.

 (*) Fonseca Neto, historiador, da APL. 

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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