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Colinas, velha Picos, 150 anos


Velha Picos

Velha Picos Foto: Divulgação

Na história humana, o deslocamento de pessoas e tribos geralmente está relacionado ao domínio de caminhos novos.

Primeiro, os caminhos abertos através de montes, vales, florestas e até mares. Depois, vieram os meios de se transportar gentes e coisas pelos caminhos. Hoje, além disso, os caminhos são também rotas nos ares e até no aparente vazio sideral-cósmico.

Essa observação para lembrar um fato histórico de suma relevância acontecido, num dia de hoje, há exatos 150 anos atrás: a elevação política a sede municipal da povoação dos Picos, beira do rio Itapecuru, no trecho alto – e não confundamos essa Picos maranhense com a do Piauí, que está sobre o rio Guaribas.

A povoação dos Picos do Maranhão foi erguida como cabeça de municipalidade exatamente num contexto impactado por mudanças relacionadas ao desenvolvimento de uma hidrovia e respectiva navegação a vapor.

No dia 4 de junho de 1870, por força da Lei Provincial nº 879, a sede do município de Passagem Franca – criado em 1838 – foi transferida para a fazenda e povoação ribeirinha dos Picos, sendo, em consequência, declarada sua condição jurídica de vila.

Passagem Franca era naquela segunda metade do Oitocentos, um próspero município do Maranhão, banhado por dois grandes rios: a leste, o rio Parnaíba, com mais de cem quilômetros de margem esquerda passagense, e a oeste, cortado pelo rio Itapecuru, em quase outros 100 quilômetros, da barra do Alpercatas, a jusante, até a embocadura do rio Corrente, no Itapecuru.

Passagem Franca, a sede do município, pois, localizada a 60 quilômetros do Parnaíba, de um lado, e do outro, 60 quilômetros da margem itapecurana. Não deu outra: quando os vapores começaram a chegar perto, muita gente logo levantou a ideia de colocar a sede passagense, ou à beira do Parnaíba, na Manga – Lei nº 386, de 1855, que, aliás, não pegou, e que inclusive também deslocou a sede do já velho Pastos Bons para Mirador, tudo dentro do espírito de integrar a dinâmica econômica do Maranhão àquele vasto sertão do Centro-Leste. Passagem Franca escapou de perder sua condição de sede para a Manga, contudo, pela 879, citada, foi deslocada para os Picos, hoje a cidade de Colinas.

Um ano depois já havia sido transferida a Câmara Municipal da Passagem para o lugar dos Picos, assim também o Termo Judicial, com algumas serventias, que, quatro anos depois, 1874, foi elevado a comarca. Transferidas, idem, a repartição do Correio da Passagem, de 1842, e suas duas cadeiras e professores, feminino e masculino, além da Coletoria. Quase tudo foi para Picos. Esses apetrechos todos que vieram da velha sede, agora na nova, constituam mais que uma marca de sua formal condição de sede municipal.   

É esse, a nosso pensar, o fato histórico maior da história política e social do hoje município de Colinas. A velha sede municipal evidentemente experimentou um certo decaimento, enquanto Picos, por todo aquele restante de século, muito se adiantou. A começar pelo incremento da atividade comercial com Caxias e a própria São Luís.

Passagem Franca conservou-se, porém, com o status muito honroso de sede da paróquia, portanto, mantendo-se, inclusive, como centro ordenador da organização distrital-eleitoral. Passagem Franca e Picos se fizeram municípios distintos em 1884. E paróquias separadas em 1886, quando instituída a de NS da Consolação.

O agora chamado município dos Picos – a partir de 4 de junho – logo experimentou um incremento populacional relevante. Algo previsto pelos idealizadores da transferência de sede, ato político complexo, mas que fundamentado tecnicamente em bons argumentos, tudo centrado, repita-se nas visões de progresso potencializado pela navegação que se expandia. Muita gente integrou essa vontade, mas foi decisiva a atuação do fazendeiro, bacharel e poeta Francisco Dias Carneiro.

Já em 1891, um sinal desse progresso material e cultural, a sede picoense, sobretudo por ser sede de comarca, foi agraciada com o simbolismo do título de cidade. Título sem valor político prático, mas culturalmente forte na tradição ocidental.

Deixamos aqui um registro pouco conhecido: o primeiro governo do município, a Câmara Municipal que, eleita em Passagem Franca, em 1869, completou seu mandato em Picos: Bernardino Pereira da Silva (presidente). Vereadores: Lucio Nery de Barros Marinho, José Fernandes de Moura, Joaquim Manoel d’Assumpção, Guilherme Francisco Guimarães, Manoel de jesus Rocha, e Dario Mamede d’Abreo.

Nesse tempo não havia prefeitura, a Câmara é que governava. Assim, Bernardino é o primeiro chefe do Executivo do município de Picos, isto é, seu primeiro “prefeito” municipal. Foi sucedido pelo poeta Dias Carneiro.  

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.
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