Olhe Direito!

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São Tomé, o mais atual dos santos

Tomo Tomé por exemplo não para desfavorecer uma fé que prescinde da explicação

Álvaro Mota

Sexta - 26/11/2021 às 06:24



Foto: Divulgação São Tomé
São Tomé

A tradição cristã ensina que São Tomé duvidou da volta do Cristo à vida após o terceiro dia de morto pelo martírio e crucificação.

Segundo a narrativa no evangelho de João (20:25-27), “diziam-lhe, pois, ou outros discípulos: ‘Vimos o Senhor’. Ele, porém, lhes respondeu: ‘Se eu não vir o sinal dos cravos nas mãos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei’. Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: ‘Paz seja convosco’. Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente”.

Cita-se essa passagem bíblica não para o esmorecimento da fé que não pode se explicar e, sendo dogmática, pode prescindir sempre da prova, que Cristo deu a Tomé, advertindo, porém, no mesmo evangelho de João (20:29) que são bem-aventurados os que não O viram, mas Nele acreditam”. 

Tomo Tomé por exemplo não para desfavorecer uma fé que prescinde da explicação, mas para que se justifique a atualidade do santo católico como padroeiro da desconfiança permanente e do ceticismo necessário para os dias atuais, quando não podemos confiar nem naquilo que nossos olhos veem e nossos ouvidos escutam. Estamos na era da manipulação digital como rotina e guiar-se pela descrença de Tomé, o apóstolo, pode ser um instrumento de defesa para que a gente não caia em golpes, enganações, propostas que nos levem para uma espécie de inferno virtual.

Um sem-número de mecanismos, de aplicativos, de programas de computador e de outras tecnologias da informação tendem a ser usado para o mal, para levar a pessoa a envolver-se em tramas que podem representar danos pessoais ou coletivos, imediatos ou de longo prazo. Assim, atualmente, nós temos mesmo é que desconfiar de tudo, como fez São Tomé em relação a Cristo, seu Mestre.

Crer mesmo, só naquilo que não nos pude trazer danos, como a fé no sobrenatural, naquilo que não se explica com palavras ou prescinde de uma lógica ou entendimento para que sigamos acreditando. No mais, mesmo no que se vê e do que se duvida, como fez São Tomé, agir com ceticismo é uma vacina, um antídoto contra tudo de ruim que possa advir de uma fé desorientada, ainda que em algo que a gente veja e ouça.

Álvaro Fernando da Rocha Mota é advogado. Procurador do Estado. Ex-Presidente da OAB-PI. Mestre em Direito pela UFPE. Presidente do Instituto dos Advogados Piauienses

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Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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