Olhe Direito!

Olhe Direito!

Padre Raimundo José, Doutor da Igreja

Minha proximidade em relação a este grande cidadão piauiense dava-se muito em razão do fato de eu ser um amigo e admirador de seu irmão, o estimado João Pedro Ayremoraes

Alvaro Mota

Quarta - 18/11/2020 às 15:39



Foto: Divulgação Padre Raimundo José
Padre Raimundo José

Um ditado africano muito conhecido diz que quando morre um homem, queima-se uma biblioteca. É claro que esse ditado é bonito, mas ele se refere aos ensinamentos que se podem perder porque se acumulam na pessoa, que as transmite pela oralidade. E digo isso para começar a falar no padre, professor e intelectual Raimundo José Ayremoraes Soares, cuja erudição e a sabedoria, contudo, não se encerram com a sua morte.

Minha proximidade em relação a este grande cidadão piauiense dava-se muito em razão do fato de eu ser um amigo e admirador de seu irmão, o estimado João Pedro Ayremoraes, outro grande nome de nosso melhor saber, um advogado na mais firme acepção do termo.

Dito isso, é de bom tom lembrar que o interesse pelo saber e pela erudição parece ser um traço comum à família, bem assim a humildade, uma marca registrada do padre Raimundo José que, em vida, mereceu do governo do Piauí a justa homenagem de nomear um centro de línguas, no qual as pessoas jovens ou não tão jovens, mas com interesse em idiomas, podem estudar para melhor se expressar.

O interesse por outros idiomas, frise-se por necessário, era um dos guias de saber do padre Raimundo José, poliglota e que, talvez por sua formação clerical, dominava o Latim, língua da qual derivam tantas outras de seu tronco comum e que empresta seus termos a outros idiomas não latinos.

Certamente para a obtenção dessa admirável qualidade de se expressar em outras línguas, o padre Raimundo José se valeu da leitura. E como lia. Sua biblioteca era tanto ampla em volumes quanto vasta em assuntos – o que nos leva a imaginar que seria de bom alvitre se pudesse algum dia ser colocada à disposição da comunidade, para que mais homens e mulheres pudessem se converter em repositórios de conhecimento, em bibliotecas vivas como expressa o ditado africano citado acima.

A morte do padre Raimundo José sem dúvida que encerra sua vida biológica, mas não tem forças, felizmente, para apagar seu gigantesco legado a gerações que com ele aprenderam – e, dispondo deste aprendizado – repassaram esse conhecimento a tantas outras pessoas de gerações atuais e quem sabe de gerações futuras.

O que esse homem, um doutor da Igreja, ensinou a tantos é o que fará com que sua memória prossiga viva entre nós, mas é evidente que sua ausência física deixa um vazio cujo preenchimento é difícil, talvez não realizável. Como disse o economista Felipe Mendes, o Piauí fica mais pobre sem o padre Raimundo José, mas há sempre a sorte do exemplo, da sabedoria replicada e repassada adiante – algo que perdura para além da vida.

Álvaro Fernando da Rocha Mota é advogado. Procurador do Estado. Ex-Presidente da OAB-PI. Mestre em Direito pela UFPE. Presidente do Instituto dos Advogados Piauienses. Presidente do CESA-PI.

Siga nas redes sociais
Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

Compartilhe essa notícia: