Olhe Direito!

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Enfrentar o pós-guerra

Mas me parece adequado lembrar que se vamos passar por um período de pós-guerra, é evidente que estamos em guerra.

Alvaro Mota

Quinta - 29/04/2021 às 18:01



Foto: Divulgação Coronavirus
Coronavirus

O jornalista Augusto Nunes, uma das mais ouvidas vozes conservadoras do país, disse nesta semana em um comentário que o Brasil precisa encarar o pós-pandemia de covid-19 como um pós-guerra. A frase pode soar estranha, mas o que temos pela frente é algo que guarda grande similaridade com um conflito, no qual há perdas de tal magnitude que é preciso se fazer realmente um programa econômico espelhado em ações como a do pós-guerra, em 1945, na Europa, sobretudo, onde se pôs em prática o Plano Marshall.

Mas me parece adequado lembrar que se vamos passar por um período de pós-guerra, é evidente que estamos em guerra. Sim, estamos! Na guerra, face à ação de forças militares inimigas, o movimento de civis é comprometido, havendo bloqueios e impedimentos de livre acesso a todas as áreas de um país ou continente. Isso faz com que o cotidiano das pessoas mude, reduz a ação econômica, é causa de perdas econômicas e desemprego. Alguma dúvida sobre termos essas condições hoje em quase todo o mundo? Não.

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Bem, mas o inimigo começa a ser vencido. Já há zonas liberadas, tal e qual ocorreu, por exemplo, na Europa, quando, no Oeste, tropas aliadas foram empurrando os nazistas para seu espaço original, enquanto os soviéticos empurravam o exército alemão de volta ao seu país. No curso dos avanços aliados e russos, zonas iam sendo liberadas. No atual momento, medidas sanitárias drásticas e vacinação começam a liberar países para uma volta à normalidade ou quase isso;

Ocorre, no entanto, que a economia submetida a estresse de paralisações, com o consumo comprimido pelo desemprego ou perda de renda, não volta à normalidade em um piscar de olhos. Serão necessários alguns anos para que se tenha a economia em patamares aceitáveis de expansão. Tarefa que o setor privado não pode fazer sozinho, cabendo ao setor público operacionalizar medidas que acelerem a retomada do crescimento econômico. Pronto, temos agora o cenário do Plano Marshall.

Recuperemos a definição do que foi esse plano na Europa: um programa de ajuda a países europeus devastados pela II Guerra Mundial, sobretudo Itália, França e Inglaterra. Foram investidos US$ 18 bilhões, o que seriam hoje alguns trilhões de dólares. No contexto pós-1945 havia por parte dos Estados Unidos, os financiadores do plano, o desejo de impedir o avanço da influência soviética sobre a Europa ocidental e isso claramente deu certo.

Hoje, o mundo ainda tem as divisões geopolíticas, muito menos pela bipolaridade capitalismo versus socialismo da guerra fria e mais pelos modelos capitalistas norte-americano (ocidental) e asiático (chinês, principalmente) e a recuperação por um plano no desenho do Marshall se exige para todos os continentes – daí porque, países como o Brasil, precisam, como sugeriu Augusto Nunes, lidar com essa situação como a de um pós-guerra, montando um programa de investimentos capaz de recuperar a economia. Não é algo simples, mas alguém precisa botar a mão na massa.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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