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8 de Março – Dia Internacional da Mulher

Quinta - 08/03/2018 às 01:03



Foto: Alinny Maria/Piauí Hoje Professora Dulce Maria
Professora Dulce Maria

A partir de meados da década de 1960, do século passado, convencionou-se comemorar o Dia Internacional da Mulher em 08 de março. Essa data é tida como símbolo de uma série de reivindicações e conquistas de direitos, sobretudo no âmbito trabalhista. Entretanto, a escolha da mesma para tal comemoração frequentemente está associada a equívocos ou a invenções históricas que precisam ser elucidadas.

As narrativas referentes à instituição do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário social de que a data teria surgido em memória de um incêndio que ocorrera numa fábrica têxtil de Nova York, em 8 de março de 1857, ocasião em que 129 operárias em greve por redução da jornada de trabalho, melhoria salarial, dentre outras reivindicações, morreram carbonizadas em suas instalações. Esse incêndio teria, supostamente, sido intencional. O proprietário da fábrica como forma de repressão extrema às greves e levantes das operárias, teria trancado suas funcionárias na fábrica e nelas ateado fogo. Essa história, contudo, é controversa na medida em que pesquisadoras de vários países, inclusive do Brasil, que buscaram resgatar as origens dessa data não encontraram qualquer registro histórico sobre essa tragédia, greves e nem sobre a existência dessa fábrica, obviamente, o 8 de março não está ligado a ela.

Noticias outras veiculadas, dão conta que no dia 8 de março de 1908, trabalhadoras da fábrica têxtil ‘Cotton’, de Nova York, declararam greve em protesto pelas condições insuportáveis de trabalho. Na sequência ocuparam a fábrica e o patrão prendeu-as lá dentro, fechou todas as saídas, e incendiou a fábrica. Morreram queimadas as 156 trabalhadoras que estavam lá dentro. Também aqui nenhum registro documental foi encontrado de modo a comprovar historicamente a existência desses fatos. Mesmo da própria fábrica.

Entretanto, um incêndio em uma fábrica de tecidos em Nova York, aconteceu no dia 25 de março de 1911, às 17h da tarde, na Triangle Shirtwaist Company,  vitimando cerca de 146 pessoas, sendo 125 mulheres e 21 homens.  As causas desse incêndio, segundo o noticiário da época, foram as péssimas instalações elétricas da fábrica associadas à composição do solo e das repartições da fábrica e, ainda, à grande quantidade de tecido presente no recinto, o que serviu de acelerador para o fogo. A esse cenário trágico somou-se o agravante de alguns proprietários de fábricas da época, incluindo o da Triangle, usarem como forma de contenção de motins e greves o artifício de trancar os funcionários na hora do expediente. No momento em que a Triangle pegou fogo, as portas estavam trancadas.

Desde o final do século 19, organizações femininas procedentes de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.

O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações.

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra - em um protesto conhecido como "Pão e Paz" - que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.

Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou maior visibilidade, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o "8 de março" foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.

No Brasil, as movimentações em prol dos direitos da mulher surgiram em meio aos grupos anarquistas do início do século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. A luta feminina ganhou força com o movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conseguiram o direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas.

A partir dos anos 1970 emergiram no país organizações que passaram a incluir na pauta das discussões a igualdade entre os gêneros, a sexualidade e a saúde da mulher. Em 1982, o feminismo passou a manter um diálogo importante com o Estado, com a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, e em 1985, com o aparecimento da primeira Delegacia Especializada da Mulher.

Ao se tornar referência no mundo inteiro, o 8 de Março tem um importante papel na manutenção da identidade de um mo­vimento amplo de mulheres e é um instrumento de mobilização e aglutinação das mulheres em torno da luta pela igualdade. Em um movimento tão amplo e disperso, que é característica do mo­vimento de mulheres, a construção de um calendário de lutas pode ter um papel decisivo de mobilização e construção de uma identi­dade política, assim como a construção de símbolos, de dinâmicas próprias e o compartilhamento de uma história comum.

No Brasil, tornou-se também parte do calendário de lutas do conjunto dos movimentos, com o esforço permanente para garan­tir o protagonismo das mulheres; assim como uma dinâmica de luta, de mobilização e resistência, permanece como uma disputa política e depende do grau de organização e força das militantes feministas. Afinal, a perspectiva orga­nizativa de qualquer luta, o rumo de qualquer movimento são resultado de projetos políticos. Não serão resolvidos por decisões administrativas e tampouco pela eliminação sectária das diver­gências ou de setores do movimento.

Um 8 de Março militante é parte do projeto de construção de um movimento de mulheres forte, capaz de atuar em conjunto com outros movimentos sociais, aglutinando as militantes organizadas também nos movimentos e organizações sociais mistos.

Neste sentido a Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB – organização da qual faço parte, neste 8 de março lança um manifesto que finaliza propugnando:

“O 08 de Março, não é um dia de comemoração! É um dia de luta!  Nós mulheres vamos paralisar e ocupar as ruas denunciando que este governo que aí está destrua nossa nação, nossa dignidade, nossa cidadania! A nossa luta é por uma vida plena, com liberdade e autonomia para todas as mulheres

Pelo fim das violências contra as mulheres!

Pelo fim dos racismos!

Pelo direito a Previdência Social!

Pelo direito ao aborto legal e seguro!

Por uma educação com igualdade de gênero!”

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Dulce Silva

Dulce Silva

Professora Dulce Silva é maranhense, e piauiense por adoção e feminista radical. Mestra em Serviço Social. Especialista em saúde pública e formação livre em psicanálise. É professora e pesquisadora da UFPI. Desenvolve as atividades - Militante de Movimentos Sociais e Feministas, na defesa das Mulheres, da Saude Pública, dos Direitos Humanos, da Diversidade Social e contra o racismo; - Membra do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Mulheres e do Conselho Estadual de Saúde do Piauí; - Coordenadora Adjunta do Coletivo Feminista GEMDAC - (Gênero, Mulher, Desenvolvimento e Ação Cidadã); - Vários Artigos publicados em Livros, Revistas; em Anuários da REDOR e nos Cadernos de Economia e Política Feminista, da Rede Mulher & Democracia.

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