Filosofia de Vida

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Arqueóloga separa os maiores e mais importantes epidemias da história

Joana Freias traça uma pequena cronologia das epidemias e pandemias que mais nos afetaram enquanto humanidade

Fabiano de Abreu

Domingo - 05/04/2020 às 09:10



Foto: Divulgação Epidemia
Epidemia

Os vírus e os homens partilharam espaço e mediram forças desde os inícios da civilização. Dessa forma a arqueóloga portuguesa Joana Freitas traça uma pequena cronologia das epidemias e pandemias que mais nos afetaram enquanto humanidade.

Inicia explicando e colocando o Homem na posição que ocupava primordialmente:

"O homem é um exemplo se superação nas linhas evolutivas. Não éramos fisicamente dominadores nem estávamos no topo das cadeias alimentares. Éramos caçadores mas presa fácil também. A evolução do nosso cérebro, as capacidade intelectuais e de cognição deram-nos a vantagem. Durante milénios, feitos de avanços e retrocessos, a espécie humana prosperou e ocupou os quatro cantos do planeta. A uma capacidade adaptativa gigante juntou-se a sobrevivência assente na coesão de grupo. Há cerca de 10.000 anos atrás começam a aparecer as primeiras sociedade sedentárias possíveis pela domesticação, embora insipiente, de plantas e animais. Aqui, neste preciso momento, o homem assinava com o destino. Populações crescentes e fixas num local, convivência diária com os animais domesticados e todos os parasitas a eles associados, formaram as condições perfeitas para as primeiras epidemias. 

A história da humanidade será agora marcada por episódios epidémicos e pandémicos que dizimaram milhões de pessoas.

Como refere ainda a arqueóloga estas epidemias podiam ser equiparadas a grandes guerras no que toca a perdas humanas e materiais e, a sua existência, teve a capacidade de mudar o rumo da história. Dessa forma, Joana Freitas escolheu os episódios pandémicos que considera mais relevantes na história da humanidade e deixa-nos uma pequena explicação do seu percurso na história. São relatados, primeiramente, dois casos de peste bubónica. 

"Estamos no século IV, entre 527–565, o imperador Justiniano tem o domínio do império bizantino. A peste bubónica assola o império e trespassa as suas fronteiras. Mata entre 30 a 50 milhões de pessoas, provavelmente metade da população mundial à época. Esta epidemia marca um fim de uma época. 

O império romano nunca mais será unificado, é o início da era negra da época medieval.

Séculos mais tarde, mais precisamente entre 1343e 1351 (auge), outro surto de peste bubónica varre a Ásia e Europa matando cerca de 80 milhões de pessoas. Esta epidemia é vastamente conhecida como a famosa peste negra. Esta peste foi tão avassaladora que a Europa precisou de cerca de 200 anos para restabelecer os seus níveis populacionais.

No entanto, ocorreram mudanças sociais e culturais importantes como produto desta devastadora epidemia. Com um número tão elevado de mortes, o nível de vida dos sobreviventes subiu efetivamente. Havia mais postos de trabalho disponíveis, mais habitação disponível, mais terra para cultivo mas menos bocas para alimentar. 

A nível religioso a igreja católica enfrenta uma vaga crescente de misticismo que desafia as duas doutrinas. Algumas minorias, como os judeus por exemplo, começam a ser perseguidos e acusados de serem os causadores da peste que se crê ter tido início na China.”

Voltando as atenções para as américas, arqueóloga Joana Freitas faz um apontamento para o surto de varíola que iniciou mudanças drásticas tanto demograficamente como ao nível climático: 

"No século XV os europeus, aquando das conquistas em territórios americanos, levavam dentro de si a arma mais letal de todas.  Foram hospedeiros de vírus mortais para as populações locais, entre os quais, a gripe, sarampo, malária, cólera, tifo, peste bubónica e, o mais mortífero de todos, a varíola. 

A varíola foi responsável pela morte de milhões de nativo americanos sendo que, em cem anos, a sua população passou de 60 milhões para cerca de 6 milhões. 

O impacto foi tão grande que há cientistas que estudam a possibilidade de ter existido uma alteração climática por conta desta ocorrência. Além de menos emissões de CO2 e da floresta ter crescido exponencialmente, coincidentemente o sol entrava numa fase de baixa atividade levando a uma queda na temperatura mundial.  Desta vez, a Europa pagou a fatura e viveu tempos de fome pois a alteração na temperatura fez perder muitas colheitas.", explica.

Continuando e aproximando-se cada vez mais da nossa época, Joana Freitas fala-nos de pandemias mais atuais e igualmente devastadoras.

"Já no século XIX temos uma pandemia de cólera. Entre os anos de 1817 e 1823, com início de foco na Índia, a cólera dizima milhões de pessoas. Dessa data até 1961 existiram um total de sete epidemias de cólera. Este vírus continua ativo, infeta milhares de pessoas todos os anos e é responsável por até 140.000 mortes anualmente.

Já no século XX (1918), após a primeira guerra mundial, aparece a mais conhecida gripe espanhola. Esta pandemia de H1N1 infectou cerca de 500 milhões de pessoas e matou cerca de 50 milhões globalmente. Como já foi referido, esta epidemia ocorre no final da primeira grande guerra e as condições para a travar eram quase nulas.", refere.

Joana Freitas explica ainda que o homem sempre fez um esforço para compreender e tratar pandemias começando por melhorar os sistemas públicos de saúde. 

Faz ainda um alerta sobre epidemias ativas que por vezes nos esquecemos que ainda estamos a lidar com elas:

"Não esquecendo que há vírus ativos que todos os anos matam milhões. Dos melhores exemplos temos o HIV ou a malária.", explica Joana Freitas.

A arqueóloga termina o artigo fazendo referência ao momento atual que vivemos que tem tanto de novo como de cíclico.

"O surto de covid-19 que vivemos na atualidade não é algo novo na humanidade, faz antes parte dos nossos ciclos. Contudo, mesmo com toda a tecnologia disponível compreendemos que podemos falhar, que não conseguimos salvar todos ou travar a epidemia com a eficácia com que gostaríamos.", concluí.

Fonte: Fabiano de Abreu

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Fabiano de Abreu

Fabiano de Abreu

Prof. Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues é PhD em Neurociências; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde nas áreas de Psicologia e Neurociências; Mestre em Psicologia; Mestre em Psicanálise com formações em neuropsicologia, licenciatura em biologia e em história, tecnólogo em antropologia, pós graduado em Programação Neurolinguística, Neurociência aplicada à Aprendizagem, Psicologia Existencial Humanista e Fenomenológica, MBA, autorrealização, propósito e sentido, Filósofo, Jornalista, Especialização em Programação em Python, Inteligência Artificial e formação profissional em Nutrição Clínica. Atualmente, é diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; Membro ativo da Redilat - La Red de Investigadores Latinoamericanos; Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Professor e investigador cientista na Universidad Santander de México, diretor da MF Press Global, membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e da Society for Neuroscience, maior sociedade de neurociências do mundo, nos Estados Unidos. Membro da FENS, Federação Européia de Neurociências; Membro da Mensa International, Intertel e Triple Nine Society (TNS), associação e sociedades de pessoas de alto QI, esta última TNS, a mais restrita do mundo; especialista em estudos sobre comportamento humano e inteligência com mais de 100 estudos publicados.

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