É o que eu acho

Por que a punição dos ladrões da Nação não é isonômica?

Quarta - 05/07/2017 às 12:07



Foto: Reprodução/Google Gustave Doré – A Punição dos Ladrões
Gustave Doré – A Punição dos Ladrões

Dante Alighieri em sua obra A Divina Comédia, ao adentrar o Inferno, encontra uma vala, a de número 7, situada no 8° círculo, onde são punidos os ladrões.

Dante descreve mais ou menos assim: “ficam correndo sem parar em meio a milhões de serpentes de todas espécies que não param de atacar. A cada mordida recebida, o político passaria por algum tipo de transformação impossível de prever.”

Dante cita como exemplo uma alma que é incendiada após ser atacada até virar cinzas, para então se reconstituir e voltar a sua forma original para então receber outro ataque.

Na semana passada escrevi, indignado, um artigo desabafador sobre pessoas que ocupam cargos políticos dos mais elevados do país, sobre os quais levanta-se suspeita de traficarem drogas em grande escala.

Hoje retorno ao desabafo, desta vez expressando indignação e revolta com relação ao grande número de ministros do governo Temer, envolvidos em delações e investigações no âmbito da Operação Lava Jato.

Talvez o ilustre leitor que labuta todos os dias para poder garantir o pão em sua casa já tenha percebido que, após as prisões de petistas pelo juiz Sérgio Moro há uma diferença gritante de enfoque ou interpretação das leis entre a vara de Curitiba e o Supremo Tribunal Federal.

Esta diferença de tratamento fere de morte o princípio da isonomia, tão caro ao Estado de Direito.

Explico melhor

Nove ministros do governo Temer estão sendo investigados pela lista de Fachin. Contra eles pesam acusações e provas que, se fossem acatadas as leis, teriam que no mínimo perder seus cargos. O próprio presidente Temer havia garantido à Nação, em pronunciamento na televisão, que caso um ministro seu tivesse alguma acusação contra si, seria imediatamente demitido. Ficou só na retórica. Aliás, o próprio Temer está sendo investigado devido à gravação que o dono da JBS fez de uma conversa no mínimo estranha, fora da agenda presidencial às 22:30 no subsolo do Palácio do Jaburu. E não renunciou por isso.

Ao todo são 24 os ministros do governo, portanto, 37% dos ministros sofrem acusação contra si!

Numa República já é inaceitável que somente 1 ministro fosse investigado! O que falar de 9?

Quem governa hoje o país é uma quadrilha que segue impune porque ministros do STF, nos casos que envolvem figuras de primeiro escalão, preferem seguir estritamente o que prega a Constituição, no que estão certos, vamos combinar.

Mais uma vez o que se discute é o princípio da isonomia.

Alguns petistas como José Dirceu e Vaccari Neto foram condenados sem nenhuma prova sequer, somente delações não comprovadas, ao passo que contra os membros do atual governo há polpudas provas.

Além dos membros do governo, seus aliados também seguem incólumes.

O ex deputado Rodrigo Rocha Loures foi flagrado carregando uma mala contendo 500 mil reais. Só o fato de ter devolvido o montante já é o suficiente para admitir a culpa. Mas foi liberado para usar tornozeleira em casa. Não há como negar, se fosse petista, estaria preso.

O mesmo vale para o senador Aécio Neves que foi flagrado em gravação de Joesley Batista, pedindo-lhe dinheiro e foi reconduzido ao cargo.

Não há como nos dias de hoje não lembrar que a ex-presidente Dilma perdeu seu mandato devido à uma acusação de pedaladas fiscais que todos os presidentes anteriores e atuais governadores sempre praticaram.

Não é demais admitir que a quadrilha que se instalou no Planalto só o conseguiu com a saída de Dilma.

A crise que se instalou no Brasil não é somente econômica. É política e moral.

Enquanto o STF daqueles juízes togados não se dispuser a agir com isonomia e retirar do comando do país verdadeiros bandidos engravatados, a Nação jamais se reerguerá novamente.

O STF deve isso ao Brasil.

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Fernando Castilho

Fernando Castilho

Arquiteto, Professor e Escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, A Sangria Estancada

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