A democracia por um fio


Alice no país da maravilhas

Alice no país da maravilhas Foto: John Tenniel

            Alice no País das Maravilhas é a obra infantil mais conhecida de Charles Lutwidge Dodgson, um dos maiores matemáticos da História escrita sob o pseudônimo de Lewis Carroll.

            No livro, a rainha toda vez que era contrariada, ordenava: “CORTEM-LHE A CABEÇA!” E cabeças eram cortadas para seu deleite e afirmação de seu poder.

            Lula foi condenado à 9 anos e meio de prisão em primeira instância e tudo leva a crer que o TRF4, a segunda instância, mantenha em linhas gerais a sentença.

            A grande maioria dos juristas brasileiros e também estrangeiros, após analisar a acusação, sustenta que o processo é muito frágil e a sentença se baseia unicamente na delação premiada de Léo Pinheiro, ex-dono da OAS, sem que haja provas concretas de que Lula seja realmente o proprietário do tríplex do Guarujá.

            Bem, para a esquerda brasileira está claríssimo que a condenação de Lula e seu consequente afastamento do pleito presidencial de 2018, seria um golpe de morte em suas pretensões de poder.

            A direita ficaria muito feliz com a prisão de Lula, o que abriria caminho para uma briga de foice no escuro entre tucanos e peemedebistas, mas que no final consagraria  suas pretensões de se manter no poder por mais 4 anos.

            Mas e o povo, como ficaria?

            Michel Temer, o atual representante maior do que seria um governo anti-PT e antiesquerda, está tratando de muito rapidamente destruir todos os programas sociais do lulismo, congelando o salário mínimo e investimentos em saúde e educação por 20 anos, terceirizando as atividades, reformando a legislação trabalhista e a previdência social.

            O discurso do presidente é que somente com essas medidas o país poderá sair da crise. Mas o que vemos na realidade é o perdão à dívidas milionárias de bancos e proprietários de terras, compras de votos de parlamentares para votarem contra a admissibilidade de investigações contra ele no STF e grande aumento de verbas publicitárias para órgãos de imprensa, enquanto os ministérios já estão com os pires na mão.

            O desemprego afeta hoje cerca de 15 milhões de brasileiros causando fome e despejo em massa. As ruas das principais cidades já se encontram atulhadas de moradores de rua e essa situação só tenderá a piorar.

            Além disso, as denúncias, todas elas embasadas em provas sólidas contra Temer, seus ministros e parlamentares de seu partido já servem para darmos um basta.

            Portanto, é certo que esse governo tem de acabar e logo.

            Mas se é esse o programa que a direita se empenha em enfiar goela abaixo do trabalhador brasileiro, pouco importa se será Temer ou qualquer outro ator que o implemente.

            Condenar, prender e afastar Lula das eleições de 2018 com provas seria justíssimo, não podemos negar.

            Mas as pessoas que comemoram sua condenação se comportam como aquelas crianças que quando perguntamos “por que?”, respondem “porque sim!”. Atitude infantil e inconsequente. Querem condená-lo porque não gostam dele.

            Com o golpe que o Congresso impôs a Dilma, afastada sem provas de crime de responsabilidade, restou pouco da Democracia e do Estado de Direito no país.

            Prender Lula seria o último suspiro da Democracia. Depois disso qualquer medida autoritária terá que ser tolerada pelo povo ou não. Na segunda hipótese o risco de revolução se torna muito grande.

            Lula é o grande favorito em todas as pesquisas eleitoriais e em todos os cenários. Afastá-lo da disputa significa desrespeitar a vontade soberana da maioria da população brasileira.

            Portanto, quer gostemos ou não de Lula, defendê-lo agora é prioritário para a defesa da Democracia.

            Felizmente alguns setores conservadores situados mais ao centro da política brasileira, como o empresariado que não enxerga uma luz no fim do túnel, começam lentamente a perceber o buraco em que nos metemos e já começam a ensaiar um VOLTA LULA! reconhecendo seu grande poder conciliador, tão importante neste momento de crise profunda.

            Essa movimentação tende a crescer porque o capital não aguenta mais ter prejuízos, e um ano de amostra do que é um governo incapaz de recolocar o país nos trilhos já está bastando para sentirem saudades da época em mais ganharam dinheiro: a era Lula.

            É preciso, então, que os juizes de nosso país abdiquem de suas vaidades e desejos de serem as rainhas do sistema judicial brasileiro, deixando de cortar arbitrariamente cabeças, movidos somente por motivações políticas e passem a julgar e punir imparcialmente, já que ainda estamos numa Democracia e não no 

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Fernando Castilho

Fernando Castilho

Arquiteto, Professor e Escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, A Sangria Estancada
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