Artigos & Opinião

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O Cemitério do Mundo

Me vacinei sem celebração. Minha mãe não teve esta oportunidade.

Pedro Ben

Quinta - 08/07/2021 às 10:08



Foto: Reprodução Redes Sociais Professora Ana Vitória foi mais uma vítima da Covid
Professora Ana Vitória foi mais uma vítima da Covid

Ela agora faz parte da estatística de 480 mil mortos deste governo genocida. Se alguém ainda não se constrange com estes números ou não sente empatia pela dor do próximo, não sei ao certo se ainda há algo de humano dentro do peito.

Jamais Ana Vitória será somente um número. Ninguém vai sentir a minha dor por mim. Mas eu, família e amigos vivemos a consequência dos votos.

Não irei aqui dizer palavras de consolo pois não há nada que console. Cansei de ouvir calado absurdos e impropérios dessa gente que diz o quer. Terei que se privar de minha educação para falar a língua destes ignorantes, pois o diálogo não é possível há muito tempo.

Aqui digo apenas a crua realidade que muitos ainda insistem em fingir que não vêem.

Quando diziam “se não tiver bom a gente tira“ significava tirar vidas? A tática do atual fascismo é o da impotência. O silêncio da sociedade cria fantasmas. Não se iludam, fantasmas que perpetuaram até o fim de seus dias.

“É o novo normal”, não! Não há nada de normal nisto!

Quem continua a seguir “o novo normal" banaliza a dor e perda de tantas vidas e famílias. Quem entregou seu voto ao genocida ou deixou de votar em um professor, hoje assiste de camarote a morte de professores; minha mãe era professora. Talvez a profissão mais digna de todas.

Assim como não foram punidos os criminosos da ditadura, não haverá de ser punido o criminoso da pandemia, mesmo com a CPI e, nela, uma espécie de teatro que nos tortura diariamente. É o país revivendo seus piores momentos, de frente com o que as pessoas têm de pior, o negacionismo, a irracionalidade, a mais abjeta  falta de empatia, como se disso fosse resultar qualquer expiação.

Não percebem que política é algo coletivo que influencia na vida de todos, no seu dia dia e também na vida e na morte. Continuam a brincar de votar, aceitam mortes todos os dias como um entretenimento midiático, um reality show macabro, não só pela covid, mas de vidas negras, indígenas, LGBTQIA+ e das mulheres que sofrem todas as formas de violências e humilhações. Mas nada disso some quando você desliga o botão do controle ou sai das redes dissociais.

Todos são responsáveis por carregar a destruição de 480 mil sonhos, de tantas coisas que poderiam ter sido; até o momento em que escrevo foram mais de 2 mil mortes em 24h.
Não me peçam calma nem fé, não me peçam desculpas, ninguém trará minha mãe de volta, arquem com suas escolhas e aprendam, ou iram aprender do pior jeito, quando um dos seus também se for.

São famílias inteiras definhando todos os dias como um produto descartável em série industrial. É essa a família tradicional que querem ver na TV e jornais, como números em uma mórbida planilha? Vida que segue? Ou esqueceram que para a morte não há retorno? Ou uma família sem pais, mães, filhos, avós é a grande família brasileira que querem?

Pra muitos o lockdown não passou de uma brincadeirinha de esconde esconde. Para quem é político de carreira e contribui para este genocídio, seu dinheiro não vai lhe salvar, não vai com você e nem lhe ressuscitar, nem ninguém de sua família, caso ainda não saiba.
Paremos de agir como imortais. Paremos de escolher a ignorância. Ignorância mata, muito!

Sinta-se sim responsável por esse imenso cemitério de dor e sonhos destruídos que o Brasil se tornou. Minha mãe era para estar vacinada, 480 mil vidas não foram vacinadas. Repito incansavelmente, e quantas vezes for preciso, pois a minha mãe não se foi em vão.

Já enfrentei minha própria mortalidade outrora. Sobrevivo para continuar lutando por ela.

Sinto a pior dor no cemitério do mundo.

CIÊNCIA SALVA!

ELE NÃO!

FORA GENOCIDA!

VIVA AO SUS!

ANA VITÓRIA PRESENTE!

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