Artigos & Opinião

Artigos & Opinião

Masculinidade no leito de Procusto

O leito de Procusto é a metáfora para a performance exigida aos homens pela cultura machista

Erick Santos

Segunda - 25/05/2020 às 21:46



*Jorge Miklos

Procusto é um personagem da mitologia grega. Os viajantes que iam de Mégara a Atenas eram forçados a se deitar em seu leito de ferro. Se fossem menores, Procusto esticava suas pernas. Se fossem maiores, eram esquartejados para se ajustar ao tamanho do leito. O nome Procusto significa "o esticador", em referência à punição que aplicava às suas vítimas. O domínio de Procusto findou quando Teseu decepou a cabeça e os pés, aplicando-lhe a mesma crueldade que impunha aos homens.

O leito de Procusto é a metáfora para a performance exigida aos homens pela cultura machista. Para adaptarem-se ao padrão social, muitos homens precisam amputar aspectos significativos do seu ser ou estender aspectos estranhos para corresponder às expectativas do machismo cultural.

Por exemplo: o machismo institui aos meninos que o tamanho do pênis regula a sua masculinidade; sentencia aos homens que não há espaço para demonstrar sentimentos, emoções; treina os adolescentes para que percebam que a masculinidade do homem é mensurável pelo dinheiro, pela marca do carro e pelo sucesso profissional. O leito de Procusto se faz presente nos ambientes familiares, escolares, empresariais, políticos e midiáticos.

O leito de Procusto é tóxico e compromete a complexidade do ser humano, engaiolando-o nos padrões estabelecidos pelos estereótipos da sociedade patriarcal. O leito de Procusto é a normalidade prescrita pela cultura patriarcal. "Ser 'normal' é alvo ideal do fracassado", escreveu o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Performar-se aos estereótipos é, geralmente, processo torturante para o homem cujo padrão arquetípico desvia-se da subjetividade.

Educar os homens para a normalidade do machismo representa para muitos deles um pesadelo, pois a necessidade mais profunda de muitos homens é, na verdade, poder levar uma vida distante dessa normopatia.

*Jorge Miklos é sociólogo e analista junguiano. Desenvolve uma pesquisa sobre o papel da mídia na constituição da masculinidade tóxica.

Siga nas redes sociais

Se você quer escrever e expor suas ideias esse é seu espaço. Mande seu artigo para nosso e-mail (redacao@piauihoje.com) ou pelo nosso WhatsApp (86) 994425011. Este é um espaço especial para leitores, internautas, especialistas, escritores, autoridades, profissionais liberais e outros cidadão e cidadãs que gostam de escrever, opinar e assinando embaixo.

Compartilhe essa notícia: