Brasil

Violência contra jornalistas cresceu em 2018, aponta estudo

Relatório da Abert aponta que quase metade dos casos está relacionada à cobertura de eleições,

Quinta - 21/02/2019 às 15:02



Foto: UnG Jornalista
Jornalista

A violência contra profissionais da imprensa no Brasil subiu em 2018. Foram três assassinatos de jornalistas como retaliação ao exercício da profissão, contra um em 2017. No caso da agressões não letais, o número saltou de 76 para 114 registros, um crescimento de 50%. Os dados foram apresentados nesta quarta-feira pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão ( Abert ), que produz anualmente um relatório sobre violações à liberdade de expressão.

Os três jornalistas assassinados à bala trabalhavam como radialistas de cidades do interior. Jefferson Pureza Lopes, morto com três tiros na cabeça, era apresentador de um programa em Edealina, Goiás. Jairo Sousa atuava em uma rádio em Bragança, no Pará. E Marlon Carvalho trabalhava em Riachão do Jacuípe, na Bahia. Políticos e ocupantes de cargo público estão envolvidos nos dois primeiros casos, segundo as apurações. O terceiro permanece sem esclarecimento.

O presidente da Abert, Paulo Tonet Camargo, que também é vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, aponta o número de três assassinados no Brasil como "muito elevado", considerando que no mundo inteiro, no ano passado, 86 profissionais da imprensa foram mortos em função da profissão. Para Tonet, além da violência em si, preocupa a "não apuração" de mortes em função do exercício de livre cobertura que é o pilar da atividade jornalística.

- Os profissionais foram ameaçados, antes de serem assassinados, justamente pela cobertura muitas vezes crítica de administrações, de prefeituras. Esse dado realmente é muito preocupante. O número de três mortes é muito elevado, considerando que não vivemos em zona de conflito como outras partes do mundo - afirma.

'Mais jornalismo, mais jornalistas'

Segundo ele, a profissão de jornalista "nunca foi tão relevante como é agora", diante da pluralidade de informações que circulam nos mais diversos meios, muitas delas "fake news". Tonet ressalta que, nesse cenário, torna-se ainda mais necessária a informação "checada", o que só é possível por meio do jornalismo profissional, completa ele:

- No mundo de fake news, o remédio para isso é mais jornalismo, mais jornalistas. É mais exercício do bom jornalismo.

De acordo com o relatório, 49% dos casos de violência registrados ano passado estão relacionados a três coberturas importantes: paralisação dos caminhoneiros, condenação e prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e eleições majoritárias. Manifestantes e militantes partidários, ainda conforme o documento, foram os principais autores da violência contra comunicadores.

Questionado se o período das eleições, com militantes polarizados em um clima de disputa muito ferrenha, contribuiu para a violência contra a imprensa, Tonet disse que o processo político em si não causa prejuízo à liberdade de imprensa, embora o período de corrida às urnas deixe os ânimos mais acirrados em geral. 

- Evidentemente que em anos como o ano passado, em que as coisas ficam um pouco mais acirradas, essas coisas agudizam. Mas não acredito que o processo político, e a democracia existe dentro de um processo político, cause qualquer dano à liberdade de expressão. De maneira nenhuma_destacou. 

Houve também 26 decisões judiciais   no ano passado envolvendo conteúdos jornalísticos, 30% a mais que em 2017. Treze sentenças foram contrárias aos profissionais ou aos veículos. No Rio de Janeiro, por exemplo, o juiz Gustavo Kalil proibiu a TV Globo de divulgar informações do inquérito que apura o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomesm assinala o relatório, entre outros casos. 

Fonte: Jornal O Globo

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