Olhe Direito!

Olhe Direito!

USP cria teste que detecta se você já teve zika

Terça - 22/03/2016 às 14:03



Foto: DC-GATHANY/PHANIE/AFP Aedes aegypti, transmissor de dengue, chikungunya e zika vírus
Aedes aegypti, transmissor de dengue, chikungunya e zika vírus
Um teste sorológico desenvolvido por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) consegue diagnosticar com precisão se a pessoa já foi infectada pelo vírus da zika. Por meio de técnicas de biologia molecular, eles desenvolveram uma proteína que só reage especificamente com anticorpos produzidos pelo organismo após a infecção pelo vírus da zika.

A inovação é importante porque os exames utilizados na rede pública e privada até o momento ou só eram capazes de perceber o vírus ativo no corpo, o que só é possível durante os dias de infecção, ou são considerados pouco confiáveis e de alto custo.

"Até agora não tínhamos esse grau de precisão. Conseguimos produzir o teste de maneira bastante eficaz e com um baixo custo, diferente dos testes já disponíveis"

Edison Luiz Durigon, pesquisador da USP

O teste, do tipo Elisa (ensaio de imunoabsorção enzimática, em sigla em inglês), já foi distribuído para os laboratórios do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e da Fiocruz. E, em breve, será produzido em larga escala pelo Instituto Butantan. A técnica já é bastante utilizada nos laboratórios públicos. "Os profissionais já sabem aplicar esse teste, por isso, é fácil de ser distribuído na rede pública", conta.

Teste ajudará a ter real dimensão de surto

O único teste capaz de diagnosticar com precisão se uma pessoa foi infectada pelo vírus da zika, até o momento, era o exame por PCR (Reação em Cadeia da Polimerase, na sigla em inglês). Como ele só detecta o vírus enquanto ele está ativo, só era eficiente para dizer se a pessoa estava naquele momento durante a fase aguda da doença.

O problema é que a maior parte das pessoas que pegam zika não tem sintomas (4 em cada 5). Assim, era impossível, por exemplo, saber quantas pessoas no Brasil tiveram a doença desde o ano passado. Ou ainda, saber se todos os bebês nascidos com lesões neurológicas foram infectados pelo vírus.

Os pesquisadores da USP analisaram anticorpos em amostras de sangue de oito mulheres de Itabaiana (SE), município com um dos maiores índices de microcefalia associado ao vírus da zika em relação ao tamanho da população no país. Os exames deram positivo para sete dos casos, nas mulheres e em seus bebês com microcefalia, o que não havia sido confirmado por outros métodos de diagnóstico disponíveis.

O teste sorológico ajudará a dar a real dimensão da epidemia de zika no país, explica o infectologista Marcos Boulos.

Por que é tão importante?

O fato está sendo celebrado por cientistas, já que os dois outros testes sorológicos disponíveis até então davam muitos resultados falso positivos, com uma eficácia em torno de 50%.

"Os vírus da zika, dengue e chikungunya são muito parecidos. Por isso, às vezes se reconhecem os anticorpos como sendo de um e na verdade é do outro, ou seja, existe uma relação cruzada"

Marcos Boulos, infectologista da USP

Celso Granato, infectologista do Fleury Medicina e Saúde, afirmou que a descoberta é uma "notícia excelente". O laboratório privado manda as amostras biológicas para o Instituto de Medicina Tropical de Hamburgo, na Alemanha, para análise sorológica, enquanto espera receber os testes sorológicos aprovados pela Anvisa.

"Mas, todos esses testes têm reatividade cruzada com o vírus da dengue e, em alguns casos, com o de febre amarela. Ou seja, pode dar positivo para zika porque a pessoa já teve dengue ou foi vacinada contra febre amarela" explica.

No Fleury, o teste sorológico custa R$ 900 e o PCR - produzido pelo próprio laboratório - custa R$ 1.160.
Siga nas redes sociais
Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

Compartilhe essa notícia: