Uma instrução normativa do Ministério da Pesca e Aquicultura, publicada no começo do mês, vai melhorar a qualidade do caranguejo que chega à mesa dos cearenses. Ela estabelece que o produto seja transportado em caixas plásticas vazadas, desamarrados e em contato com esponjas embebidas em água de mangue. A medida é válida para o caranguejo-uçá, do qual Fortaleza é o maior centro consumidor, e entra em vigor em janeiro.

A técnica foi desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e tem o objetivo de manter o caranguejo isolado. Segundo especialistas, isso reduz o estresse do animal, que passa a produzir menos toxinas. A mortandade no transporte, que hoje é de 50%, deve ser reduzida a entre 0% e 5%.

Embora o transporte saia mais caro com a aplicação da norma, os custos devem ser compensados com a redução do desperdício da carga, evitando aumento no preço. “Em uma carrada com 30 mil animais, por exemplo, a gente perde até 15 mil. É muito animal no lixo. Desse jeito novo eu acho que não vai ter tanto desperdício, então o preço não deve aumentar”, diz Francisco Quirino, mais conhecido como Chico do Caranguejo, que comercializa e transporta o produto.

Segundo Ivan Assunção, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Ceará (Abrasel-CE), o caranguejo é comprado por cerca de R$ 2,5. Preparado, ele chega à mesa do consumidor por em torno de R$ 5. Os preços devem se manter, acredita Assunção. “A gente tem que pensar na preservação da espécie, porque caso o caranguejo fique ainda mais raro, aí sim com certeza o preço vai aumentar”, disse.

Faltou refrigeração

Bernard Twardy, consultor gastronômico e chef coorporativo do Beach Park, defende a medida: “Estou feliz com essa decisão porque da forma que o caranguejo é transportado hoje, ele fica estressado, e isso faz com que produza substâncias tóxicas e também perca patas”. Para ele, faltou incluir a obrigatoriedade de um caminhão refrigerado para o transporte, evitando a mortandade em caso de longas paradas na estrada.

O Beach Park foi o primeiro empreendimento brasileiro a receber o selo Caranguejo Verde, lançado pela Embrapa em 2010 e que é dado a estabelecimentos que, entre outras medidas, adotem a técnica de transporte. Segundo Bernard, que coordena o setor gastronômico do complexo, o bem-estar do animal melhora até mesmo o sabor do prato, pois no método da amarração o caranguejo perde gordura e sabor.

Segundo o IBAMA, cerca de 95% do produto que sai da região do Delta do Parnaíba, no Piauí, vem para a capital cearense. A medida será aplicada inicialmente no Pará, Piauí, Maranhão (maiores produtores) e no Ceará (maior consumidor). A aplicação da instrução normativa em outros estados dependerá do crescimento da demanda.