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Toquinho diz que geração atual é 'passiva e perdida historicamente'

O músico lança nesta terça-feira (2) material inédito para comemorar os 50 anos de carreira

Terça - 02/10/2018 às 10:10



Foto: Reprodução Toquinho
Toquinho

Antônio Pecci Filho, 72, tem seu nome misturado à história da música brasileira. Toquinho, como ficou internacionalmente conhecido, ganhou o apelido de sua mãe, que era costureira.

O músico lança nesta terça-feira (2) material inédito para comemorar os 50 anos de carreira. O CD e o DVD percorrem toda a sua trajetória, iniciada nos anos 1960. As canções contidas no box são versões repaginadas de clássicos da sua obra, com algumas participações de intérpretes da nova geração, como Tiê e Verônica Ferriani -que cantam "A Noite" e "O Velho e a Flor".

"Eu tenho consciência da geração a que pertenço, mas estou buscando me renovar, fazer coisas com a cara deste tempo atual." Em seu apartamento, em São Paulo, o compositor de "Aquarela" disse que "não sabe mesmo se tem toda essa importância para a música brasileira".

"As pessoas se importam mais com isso do que eu. Eu quero mesmo é tocar, e só. Tenho 72 anos e me sinto ótimo no palco."

Apesar da modéstia, os números de carreira de Toquinho mostram sua relevância na MPB. Ao todo, são mais de 5.000 shows, 350 músicas gravadas e 80 discos, que incluem parcerias com nomes como Chico Buarque, Gilberto Gil e Tom Jobim.

Apaixonado por violão, ele tem um em cada cômodo da casa e passa horas do seu dia "namorando" o instrumento. "Toco no banheiro, na cama, depois do almoço. No mínimo cinco horas por dia."

Orgulhoso da geração de músicos a que pertence, ele não enxerga muitas perspectivas na atual safra de compositores do Brasil. "Talento sempre haverá, vira e mexe você encontra uma coisa aqui, outra ali. Mas, na essência, essa geração é completamente passiva e perdida historicamente. A minha vai permanecer para sempre na história; essa certamente não."

Durante uma hora de conversa, ele também relembrou seu processo criativo junto a Vinicius de Moraes, de quem foi parceiro em várias canções. "Era muito fácil trabalhar com ele. Primeiro eu fazia as músicas e, depois, ele colocava as letras com calma."

Questionado sobre o motivo de Vinicius não ter cantado no disco "Um Pouco de Ilusão", de 1980, ainda que seu nome constasse na ficha técnica, ele credita a ausência ao estado de saúde do poeta na época.

"Ele teve um AVC isquêmico pouco antes das gravações começarem, o que dificultou o trabalho. Por isso ele não cantou. Tanto que morreu logo depois."

O músico também contou de sua relação profunda com a espiritualidade. "Já participei de muitas religiões. No espiritismo, cheguei a psicografar no centro de um tio, mas fiquei com medo e não quis prosseguir."

Toquinho diz anda descrente com a situação política do país. "Eu venho de um Brasil bonito, da bossa nova, do Rio, de JK. Hoje temos um país tacanho, mambembe e corrupto. Vou acabar votando em alguém para contribuir com a nossa democracia, mas nenhum deles satisfaz o que eu penso sobre a sociedade."

Para o compositor, os artistas não têm a obrigação de falarem sempre de política. "Não tomar partido já é um posicionamento político. Toda obra que fica associada com panfletagem política, acaba ficando limitada ou esquecida no tempo. Minha música é eterna."

Sobre os entreveros que seus contemporâneos tiveram com as grandes gravadoras -muitos deles se tornaram independentes depois de envelhecerem-, ele afirma não ter brigado com as corporações. "Elas se aproveitavam de mim e eu me aproveitava delas. Música é produto." 

Fonte: Folhapress

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