Relatório: alto índice de alcoolismo, desnutrição e de suicídio entre

Piauí Hoje


Enquanto as autoridades brasileiras fecham os olhos para a situação dos índios guaranis de Mato Grosso do Sul, a etnia sofre com os altos índices de suicídio, desnutrição, detenção injusta, alcoolismo e exploração de mão de obra (leia quadro). Relatório produzido pela organização não governamental inglesa Survival International - e já encaminhado ao Comitê para a Eliminação de Todas Formas de Discriminação Racial (CERD), que integra a Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) - afirma que a condição dos indígenas no estado é uma das piores entre todos os povos nas Américas. A principal causa apontada pelo documento para a drástica realidade enfrentada é a recusa em reconhecer os direitos em suas terras.Com 26 páginas, o relatório faz um alerta sobre a crescente demanda por etanol. De acordo com o texto, a expansão da indústria sucroalcooleira fará com que os guaranis percam mais terras, agravando ainda mais o problema. No documento, a ONG ainda lembra que, em 2008, o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), afirmou que "o estado será o maior produtor de etanol do mundo dentro de sete anos". Revoltado com a situação, o índio da etnia Guarani Kaiowá Amilton Lópes diz que seu povo não ganha dinheiro com a cana-de-açúcar. "Plantávamos cana para próprio consumo, mas as grandes plantações estão ocupando nossas terras. A cana está poluindo nossos rio e aldeias", denuncia.Assim como o relatório, o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em Mato Grosso do Sul, Egon Heck, ressalta que todos os problemas enfrentados pelos guaranis têm como origem a questão fundiária. "Sem espaço físico, eles se desestabilizam do ponto de vista familiar e acabam buscando refúgio no suicídio, no alcoolismo e nas drogas", observa. Em sua avaliação, políticos e grandes latifundiários vêm dificultado qualquer iniciativa para minimizar a drástica situação. "Sem falar no governo estadual e no Congresso Nacional, que pretendem alterar a lei e tornar menos rígidas as regras que garantem a propriedade das terras aos índios", critica."Esse relatório expõe a situação estarrecedora na qual se encontram os guaranis. É responsabilidade legal e moral do governo brasileiro assegurar que os abusos de direitos humanos e a discriminação racial sofridos pelos guaranis cessem. Caso o governo não haja com rapidez e eficiência, mais índios sofrerão e morrerão", afirma o diretor da Survival International, Stephen Corry.DescasoEstudioso dos guaranis há 37 anos, o antropólogo Rubem Thomas de Almeida lembra que pouco tem sido feito pela etnia no Brasil. "Por mais que os presidentes da Funai (Fundação Nacional do Índio) tenham dito que os guaranis são prioridade, quase nada de concreto foi viabilizado até hoje", destaca. "Se o governo não fizer uma avaliação da possibilidade de comprar as terras dos índios, hipótese já levantada pelo presidente Lula, esse sofrimento não vai ter fim", acrescenta.Questionada sobre o conteúdo do relatório elaborado pela Survival International, a Fundação Nacional do Índio (Funai) diz que não recebeu oficialmente o texto da ONG, mas reconhece a situação dos guaranis de Mato Grosso do Sul, "principalmente no que diz respeito ao acesso da ocupação das terras tradicionais". Segundo a fundação, os estudos, as demarcações e as homologações de terras indígenas de Mato Grosso do Sul, que são de responsabilidade da Funai, estão sendo paralisados na Justiça por grupos econômicos e políticos locais. "Um dos exemplos mais recentes foi a homologação, em dezembro de 2009 pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, da terra indígena Arroio-Korá, no município de Paranhos (MS), onde, após a publicação do ato no Diário Oficial da União, segmentos da região entraram na Justiça para evitar a decisão do executivo brasileiro."Principais problemasAtualmente composta de aproximadamente 43 mil índios - contra cerca de 1,5 milhão que viviam no século 16, antes da chegada dos europeus - a população guarani no Brasil tem vários direitos humanos violados. A etnia no Mato Grosso do Sul sofre com altos índices de suicídios, desnutrição, detenção injusta e exploração de trabalho manual. Veja, abaixo, um resumo dos problemas.# ViolênciaOs guaranis sofrem violentos ataques por causa da disputa pela terra e muitos líderes já foram assassinados. Pelo menos 42 índios da etnia foram mortos em Mato Grosso do Sul em 2008 em razão de conflitos internos e externos.# SuicídioO índice de suicídio entre os guaranis é um dos mais altos no mundo. Mais de 625 índios cometeram suicídio desde 1981 - quase 1,5% da população guarani - e, em 2005, o índice de suicídio entre os indivíduos dessa etnia foi 19 vezes mais alto do que o índice nacional. Crianças guaranis de apenas nove anos de idade já terminaram com suas próprias vidas.# Desnutrição e saúde debilitadaMuitos guaranis sofrem de desnutrição, tendo a taxa de mortalidade infantil desse povo indígena atingido mais que o dobro da média nacional. Sua expectativa de vida é bastante reduzida: mais de 20 anos abaixo da média nacional.# Detenção injustaOs guaranis são frequentemente detidos injustamente, com pouco ou nenhum acesso a aconselhamento legal e intérpretes. Eles cumprem "penas desproporcionalmente duras por ofensas leves."# Exploração de trabalho manualGuaranis são forçados a trabalhar no corte de cana-de-açúcar para usinas produtoras de etanol, que atualmente ocupam suas terras. Os índios recebem baixos salários e são submetidos a condições de trabalho sub-humanas.

Fonte: Correioweb

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