Política

Regina diz que Brasil vive ditadura civil e corre risco de convulsão

“Ninguém pode mais se manifestar livremente no País"

Sábado - 13/08/2016 às 12:08



Foto: www.issoenoticia.com.br Senadora Regina Sousa
Senadora Regina Sousa

A senadora Regina Sousa (PT/PI) se diz preocupada com a situação política do País por conta da parcialidade e partidarização de setores do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; para a senadora, a falta e isenção da parte da grande mídia e o oportunismo político está levando o Brasil a uma divisão desnecessária e perigosa. Natural da cidade de União, no Norte do Piauí, a senadora Regina Sousa á presidente do PT no estado e defende a volta da presidente Dilma Rousseff ao mandato. Nessa entrevista ao Piauihoje.com, ela critica a parcialidade de parte da imprensa, do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal. Regina condena os ataques ao PT e ao presidente Lula e diz que o Brasil corre o risco de uma convulsão social porque já vive numa ditadura civil, onde as pessoas estão sofrendo repressão e censura. “Ninguém pode mais se manifestar livremente no País. Estamos num estado policialesco. Estamos vendo isso nas Olimpíadas, com pessoas sendo arrastadas e retiradas de estádios porque aparecem com uma placa em papel protestando contra o presidente interino Michel Temer”, ressalta a senadora. 


PIAUÍ HOJE - Como a bancada do PT tem acompanhado a omissão em relação às denúncias contra o governo interino do Michel Temer? 


REGINA SOUSA - É notório que há uma parcialidade nessas denúncias. E isso tem sido até tema de nossos discursos no Senado. Não se faz o mesmo barulho nas denúncias contra o governo como fazem contra o PT. Essas últimas denúncias contra José Serra e o próprio Michel (presidente interino) a gente só vê nos blogs de esquerda. A grande mídia não fala nada contra o Serra ou contra o próprio Michel Temer. É só uma notinha aqui outra ali. Contra o PT é manchete e mais manchetes. Inventam manchetes contra o PT. Nós fazemos os discursos, denúncias; usamos tribuna e falamos na Rádio e na TV Senado. Mas fora disso os espaços são só para ataques e sem direito a defesa real. Temos uma assessoria jurídica que age, mas não temos resposta do Judiciário e nem repercussão na mídia. Das ações que a gente impetrou tivemos uma negativa, que foi contra o Moro (Sérgio Moro, juiz da Lava Jato). A gente está num momento em que toda a grande mídia, o Judiciário, a Polícia Federal, o Ministério Público, tudo é parcial, tudo contra o PT. A última do Gilmar Mendes, por exemplo, é falar em cassar o registro do PT. A gente percebe que há um objetivo comum entre eles e o resto não interessa. A frase celebre do Moro é que “não vem ao caso”. É muito difícil agir nessas circunstâncias, mas vamos continuar na luta. 


PIAUÍ HOJE - A quem recorrer, então, senadora, para reverter essa situação? 


REGINA SOUSA – O pior de tudo é isso. Não se tem a quem recorrer senão ao povo. Até agora a gente não tinha recorrido à esfera internacional, mas o mundo inteiro já acompanha essa questão do Brasil. A ação de Lula numa corte internacional é inédita. É a primeira vez que esse assunto vira um tema mundial. A gente percebe a manifestação dos senadores da França, uma parte do congresso americano e de outros países em relação ao golpe e à perseguição a Lula e ao PT. Estamos vendo que todo mundo se manifesta contra o golpe. O PT tem uma grande relação internacional, mas como ação organizada mesmo estamos começando agora e recorrer às instituições internacionais. Lula fez a denúncia dele e agora vamos partir para os tribunais internacionais porque a gente está vendo que aqui não se tem resultado. 


PIAUÍ HOJE - E tribunais internacionais vão poder agir em relação à política interna brasileira? 


REGINA SOUSA - O fato de denunciar internacionalmente vai chamar a atenção para a parcialidade dos organismos internos. O pessoal diz que é fantasia, que é paranoia do PT, mas qualquer pessoa que analise sem paixão percebe que há a parcialidade. E sempre contra o PT. Um rapaz que ficou preso quatro meses na Lava Jato disse que toda vez que ia depor, que queria contar outras histórias, os investigadores diziam a ele que não interessava, só interessava do Governo Lula para cá. São testemunhas, mas ninguém dá ênfase a essas coisas. 


PIAUÍ HOJE – O PT pode perder o registro no TSE? 


REGINA SOUSA – Eles querem isso todo dia e a todo custo, mas não vai acontecer. O PT incomoda a eles por sua história. Eles sabem que a corrupção só acaba se o governo não interferir nas investigações. E isso o governo do PT fez. Não interferiu nas investigações. Aliás, é bom lembrar que foi a presidente Dilma Rousseff a iniciativa da mais completa lei de combate à corrupção já criada no País. 


PIAUÍ HOJE - E como é que surgiu essa história de cassar o registro do PT? 


REGINA SOUSA - Não é estranho que isso tenha ocorrido depois de um churrasco na casa de Gilmar Mendes. Não é estranho um ministro do Supremo, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, dando churrasco para senadores, para pessoas do círculo político? Para discutir o que? Sobre como votar o impeachment da presidente Dilma Rousseff antes da cassação de Eduardo Cunha? Seria a “Operação Salva Cunha”? Existem várias perguntas sem respostas até agora. 


PIAUÍ HOJE – Haveria outros interesses então? 


REGINA SOUSA - Claro. Todos eles (opositores do PT) querem protelar a votação de cassação de Cunha na Câmara para depois tentar cassar o registro do PT. Tem uma senha clara para não dá quorum na Câmara e salvar Cunha. É uma operação para salvar o homem. Se a presidente Dilma for cassada é claro que o Cunha não vai ser cassado, porque ele tem todo mundo na mão e o medo da delação dele é grande. Por isso estão apressados em votar o impeachment da Dilma. Se ela cair, a paz volta a reinar entre eles. 


PIAUÍ HOJE – Esse seria um jogo planejado? 


REGINA SOUSA - Sim. É um processo planejado, desde as eleições de 2014. Não aceitaram e derrota e não deixaram a presidente trabalhar. Primeiro pediram recontagem de votos, depois auditoria das urnas e em seguida não votaram o orçamento. Quanto tempo ela passou governando sem orçamento? A uma coisa é organizada. Era lá na casa do Heráclito (Fortes, deputado federal pelo PSB-PI). Eu nem gosto de falar nesse assunto porque ele (o deputado) diz que eu o estou promovendo ele e que, inclusive, ganhou o prêmio por isso. O vice-presidente Michel Temer ia a essas reuniões. Isso é sério demais. Escolheram o senador Antonoo Anastasia para relator do impeachment. A gente protestou, mas era direito do PSDB indicar. Se tivesse bom senso não tinha indicado, para coisa pelo menos parecer imparcial, porque todo mundo sabia qual seria o voto do Anastasia, não precisava escreve aquilo tudo porque o voto estava na testa dele. O projeto foi todo planejado para chegar ao objetivo que agrade a eles. 


PIAUÍ HOJE - As recentes denúncias contra o presidente interino Michel Temer e ministro José Serra podem mudar os rumos do impeachment no Senado? 


REGINA SOUSA - Pode. Não dá para dizer com certeza, mas tenho a convicção de que é um elemento forte. Acho que com essas últimas notícias, esses senadores que ainda estão indecisos podem mudar o voto. Acredito que isso pode contribuir a nosso favor. 


PIAUÍ HOJE - Ná perspectiva de volta da presidente Dilma, qual será a postura do PT? 


REGINA SOUSA - É um novo governo, inclusive com a perspectiva de chamar o plebiscito. Ele vai lançar uma carta ao povo brasileiro, na qual aponta pra esse caminho. Mas não é ela que convoca plebiscito. Essa é uma tarefa do Senado. Existem um grupo de senadores encarregado de reverter essa situação e pedir a realização do plebiscito, para o povo decidir se ela fica ou se tem nova eleição. Tem que ser um novo governo. Não dá para governar como estava, até porque ela não tinha maioria. Ela vai precisar de um mínimo de base de sustentação. Claro que, como está, ela não vai construir uma maioria. Não tenho essa esperança de que ela vai construir uma maioria naquele cenário ali, mas um grupo de apoio forte, coeso, para garantir que ela vai fazer algumas coisas ou que ela não vai fazer certas coisas. É um novo programa de governo para um período. É isso que a gente acha que tem que ser. 


PIAUÍ HOJE – Até que ponto o STF contribuiu para que o país chegasse a essa situação de instabilidade política? 


REGINA SOUSA - O Supremo, a princípio, foi omisso. Deixou que um juiz de primeira instância virasse o símbolo da justiça nacional. Foi muito “empoderado” o Sérgio Moro. Nada contra ele. Algumas coisas que ele está fazendo são certas. Tudo tem de ser apurado, mas ele demonstra muita parcialidade e isso é ruim para qualquer julgador. Ele não pode demonstrar parcialidade, ele pode até ter suas preferências, mas tem que guardá-las. Agora, escancaradamente, o Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, é partidário, ele não pode negar. Todas as ações dele demonstram que ele é partidário, que ele é tucano. 


PIAUÍ HOJE - Já foi pedido o “impeachment” do ministro Gilmar Mendes? 


REGINA SOUSA - Ainda não foi pedido, mas já foi discutido muito isso. O problema esbarra em quem julga esse impeachment. O sentimento corporativo ali é terrível. Você viu aí nessa questão, por exemplo: todo esse processo depois culmina em negociar um piso novo para os magistrados. A meta fiscal foi ampliada. Falam tanto em déficit. A Dilma deixou a meta em R$ 96 bilhões e eles ampliaram para R$ 170 bilhões, não foi à toa, foi para poder cumprir esses compromissos da negociação do afastamento da presidenta, com partidos, com pessoas, com poderes. O piso do Judiciário fazia parte do pacote. 


PIAUÍ HOJE - A senadora Katya Abreu, do PMDB, falou em R$ 50 bilhões para comprar o impeachment. Isso procede? 


REGINA SOUSA - Ela citou algumas coisas muito fortes no último voto dela, mas é assim, é exatamente essa a sobra. Até agora, eles gastaram da meta fiscal R$ 35 bilhões até junho. Para R$ 170 bilhões ainda tem dinheiro muito ainda. Como a Dilma tinha deixado em R$ 96 bilhões, vamos dizer que ele precisasse de R$ 120 bilhões. Os R$ 50 bilhões é reserva técnica para cumprir os compromissos que assumiram com as pessoas. Teve gente que beijou a mão da Dilma na quarta-feira, na quinta teve reunião no Jaburu e na sexta apareceu com outra posição. Isso foi negociação, não tenho dúvida disso. Jatinhos carregando parlamentares para votar. Teve todo um arranjo, não acredito que só com parlamentares não. Outros segmentos foram envolvidos nessa história, para garantir aqueles votos que eles tiveram. 


PIAUÍ HOJE - Existe um trabalho de bastidores do PT para reverter o impeachment? 


REGINA SOUSA - No parlamento o PT está fazendo seu papel. Todo dia. Nós somos só dez contra 71 e até que a gente faz um barulho bom nas nossas falas. O partido em si, como instituição, tem se reunido pouco. Acho até que nesse período a gente deveria estar mais perto, o partido anda meio distante das bancadas, tomas suas decisões, mas todo mundo está trabalhando para a presidenta voltar. Mobilização não é partido que faz, o partido faz parte da mobilização. Mobilização quem faz é movimento social. Se o movimento social não quiser, não tem. Movimento social fez muita coisa, mas também parece que cansa. E precisa toda uma estrutura necessária para fazer aquelas grandes mobilizações. Agora mesmo está começando, está sendo montado um grande acampamento em Brasília, vai haver muita mobilização daqui até lá. Todo dia em algum estado vai haver manifestação. Juridicamente, os tribunais nos empurraram para a parede. Talvez não tenhamos reagido. Recorrer a quem se é um ministro do Supremo Tribunal que comanda essa ação anti-PT? O presidente do TSE é o mesmo ministro do Supremo que comanda as ações contra o PT. É muito difícil reagir do ponto de vista jurídico. Tem até cidadão que entra com ação individual, mas não repercute porque não interessa para a grande mídia repercutir. E fica lá e vão tramitar sabe Deus quando. 


PIAUÍ HOJE – O tratamento de denúncias contra o governo do PT é diferente do dado ao governo interino? 


REGINA SOUSA - Sim. Existe a partidarização de setores do Judiciário, seletividade do Ministério Público e da Polícia Federal. Eles agem onde acham que é bom para eles, onde acham que é bom para a mídia. A mídia não se interesse de divulgar nada do governo interino, interessa divulgar as coisas do PT, tanto que eles requentam notícias. Notícia do caixa dois do Temer, do Serra, a gente não viu. Pode abrir os jornais para ver se eles falam disso. Não falam. Porque não interessa. São muitos restritos os espaços para a gente fazer qualquer coisa, para obrigar a Justiça a fazer. Está na cara que é seletiva, tá na cara que tem uma ação anti-PT, tá na cara que os ministros do Temer estão enrolados com muita coisa, o próprio Temer está enrolado com muita coisa, mas não se bate como bate no PT. 


PIAUI HOJE - Isso não pode levar o País a uma guerra civil, a uma convulsão social? 


REGINA SOUSA - Se fosse em outros países isso já teria acontecido. É um sentimento que está crescendo. Basta ver aí as olimpíadas. Estamos num estado policialesco. Uma pessoa com uma folha de papel A4 escrito fora Temer sendo arrastado para fora dos estádios. O pessoal com uma camiseta, cada um com uma letra, sendo obrigado a trocar de roupa. Isso é estado de exceção, é ditadura. Dizem que não tem tanque na rua, mas não existe só ditadura militar, tem ditadura civil. É o que está acontecendo neste país. Um absurdo. Um presidente que pede para não citar seu nome para não ser vaiado. E mesmo assim foi. As TV do mundo mostraram, mas as daqui não. Uma delas fez um arranjo para mostrar as palmas. A população está começando a mostrar esse sentimento e isso pode chegar a convulsão social. As pessoas cansadas de esperar pela ação oficial. Teve delegação internacional que escreveu fora Temer. O que fizeram com a Dilma na Copa foi indigno e você viu alguém se manifestar contra? Com ele (Temer) não pode dizer nada. A polícia foi treinada para arrastar as pessoas, impedir qualquer manifestação. Isso é ditadura civil. 


PIAUÍ HOJE - O PT tem tradição de se recriar nas crises.Isso está ocorrendo atualmente? 


REGINA SOUSA - Isso é histórico na nossa vida. Em 36 anos. Em 1984 vieram as primeiras pancadas. Em São Paulo, teve uns tiros e disseram que foram nossos deputados que deram os tiros. Depois ficou provado que não. Teve o sequestro do Abílio Diniz. Botaram camiseta do PT nos sequestradores e depois ficou provado que não tinham nada com o PT. A gente vem se recuperando exatamente porque o PT nasceu das bases. Tem uma raiz aí. Alguém que embora esteja chateado com o partido, na hora que o partido é agredido vem na defesa. Isso está demonstrado agora nas convenções. Nós vamos crescer. Todo mundo achava que a gente estava aniquilado e nós vamos crescer. No Piauí, por exemplo, nós temos 29 prefeitos e vamos fazer pelo menos uns 40. Temos 72 candidatas e candidatos e vamos eleger pelo menos 40. E assim é nos outros estados. Podemos até decrescer nas capitais por conta da pancadaria que é maior em relação ao PT, mas em compensação vamos crescer nas outras cidades, exatamente por isso. Por essa fortaleza que o PT tem nas raízes. É isso que esse povo não engole. É por isso é que querem cassar o registro desse partido porque esse é o único jeito do PT não incomodar. Eles estão preocupado mesmo é com 2018, com medo de perder a eleição mais uma vez. E vão perder de novo.

Fonte: Luíz Brandão e Paulo Pincel

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