Políticas de Trump ameaçam agravar desigualdade nos EUA

Pesquisas mostram que problema tem aumentado no país nos últimos anos


Donald Trump

Donald Trump Foto: ABC

Dados mais recentes sobre a desigualdade de renda nos EUA apontam que o problema está aumentando -e, para alguns especialistas, medidas adotadas pelo presidente Donald Trump podem agravar a situação.

As pesquisas que apontam para o aumento do fosso entre o 1% mais rico e os 99% mais pobres se avolumam na academia e nas revistas especializadas e ganharam mais destaque depois que o francês Thomas Piketty expôs o crescimento da desigualdade em países desenvolvidos no livro "O Capital no Século 21" (editora Intrínseca, 672 páginas, R$ 47,90 ou R$ 33,53 o ebook), publicado originalmente em 2013.

Nos EUA, as famílias do topo tinham, em média, uma renda que era de 26,3 vezes a dos demais 99% mortais em 2015, segundo os últimos dados compilados pelo centro de estudos apartidário EPI. Em números: a renda anual média do 1% era de US$ 1.316.985 e a do resto era de US$ 50.107 –em alguns estados, a diferença era ainda maior.

O fenômeno também já era apontado pelo coeficiente de Gini, métrica que calcula a desigualdade nos países e que vai de 0 (igualdade absoluta) a 1 (mais desigual). Para as famílias americanas, o índice foi de 0.48 em 2017, estável desde 2011, mas alta na comparação com o 0.43 de 1990.

Nos EUA, a tendência de alta vem desde os anos 1970. A parcela da renda total do país detida pelo 1% mais rico diminuiu de cerca de 24% em 1928 para 9% em 1978, quando voltou a crescer. Em 2015, havia retornado para 22%.

A piora é em parte atribuída aos efeitos da crise financeira de 2008, mas algumas políticas de Trump também podem contribuir para aumentar o problema no futuro.

Uma de suas principais bandeiras, o corte de impostos, ajudou a injetar dinheiro no país, mas vai beneficiar sobretudo os mais ricos, afirma um estudo do Tax Policy Center.

A medida foi aprovada em 2017. O levantamento indica que, uma década depois, 82,8% dos cortes de impostos vão aliviar o topo. Isso porque, para os indivíduos, as reduções expiram ao longo dos dez anos. Para as corporações, serão permanentes.

Camille Busette, diretora do centro de estudos Brookings, diz que o corte de impostos favorece quem tem dinheiro ou recebe tratamento tributário preferencial por ter ativos como imóveis ou ações.

Ela avalia que o propósito da reforma tributária foi dar alívio fiscal a empresas e aos mais ricos. "O pacote ocorre no contexto de uma desigualdade já grande e só exacerba isso", afirma.

Em seu estudo, o EPI também diz que o presidente teria se alinhado a interesses empresariais ao permitir que as companhias forcem trabalhadores a assinar acordos de arbitragem que impedem que eles recorram à Justiça.

Para Daniel Graff, professor de história da Universidade de Notre Dame, o principal fator para o aumento da desigualdade é o enfraquecimento dos sindicatos e do poder de barganha dos trabalhadores.

Em 1979, 34% dos trabalhadores americanos do setor privado pertenciam a sindicatos. Hoje, são 11%.

Ruth Zambrana, professora da universidade de Maryland, concorda com essa visão. "Houve uma erosão dos sindicatos e isso é uma perda para a sociedade, que é individualista e não tem senso de coletividade ", diz.

Ela aponta ainda para fatores raciais históricos para a desigualdade. Essa posição foi reiterada por um estudo de 2018 do centro de estudos Pew, que mostrou que a proporção da renda dos 10% mais ricos em relação à dos 10% mais pobres é maior entre asiáticos e negros do que em brancos –ou seja, o fosso é menor entre os brancos.

"Nos EUA, os brancos conquistaram a riqueza às custas dos outros. Mexicano-americanos, afro-americanos e nativo-americanos são três grupos que representam uma parcela grande da população e que, no passado, tiveram dificuldade ou foram impedidos de ter terra ou de ir à escola", critica Zambrana.

Para o EPI, a situação só vai melhorar quando o governo devolver o poder de barganha para trabalhadores e investir em saúde, educação e moradia. "Essas políticas ajudariam a impedir que os poucos mais ricos se apropriassem de mais do que sua fatia justa na torta do crescimento econômico do país", diz o estudo.

Já Graff sugere uma medida controversa: limitar o ganho do 1% mais rico. "Eu acredito em regulação da economia, em limitar o excesso de renda do topo. Tão importante quanto um salário mínimo é um teto de renda", diz. "Queremos uma discussão sobre excessos, que diga que ninguém vai cair abaixo disso, mas também que ninguém sobe além disso."

Fabian Pfeffer, professor de sociologia e responsável pelo laboratório de Desigualdade da Universidade de Michigan, avalia que a proposta da senadora democrata Elizabeth Warren de taxar os mais ricos poderia ajudar a diminuir a concentração no topo. "É um debate que vai acontecer. O topo tem mais riqueza do que jamais teve", diz ele.

Fonte: Noticias ao minuto

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