Educação

Piauienses trabalham em situação degradante no corte de cana

Piauí Hoje

Quinta - 26/06/2008 às 04:06



Inspeção realizada por procuradores do Trabalho da Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região (Campinas/SP) encontrou 40 cortadores de cana vindos do Piauí trabalhando em condições degradantes. A flagrante se deu na região de Piracicaba.Segundo Jurandir Duarte Macedo, trabalhador piauiense, é muito duro o tratamento dispensado a ele e seus companheiros de extenuantes jornadas de trabalho. "Ele nos chama de peão "barrela", de burro e cavalo, e ameaça demitir. Eles humilham a gente. Sou trabalhador e pai de família e não mereço ser tratado desse jeito", reclama Jurandir, que usa um engenhoso gancho de madeira para cortar as ponteiras da cana. "Eles só trocam a bota quando já está aparecendo o dedo", denuncia o trabalhador, que veio do Piauí com outros quarenta trabalhadores para fazer a safra.Segundo apuraram os procuradores do Trabalho, as piores condições de trabalho registradas neste ano de 2008 nas lavouras de cana do interior paulista, foram constatadas em operação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT) e Grupo Móvel de Fiscalização Rural do Ministério do Trabalho na região de Piracicaba, onde domina o Grupo Cosan, maior produtor de etanol do mundo.O trabalho degradante começa no transporte em ônibus sem segurança (um deles foi interditado), continua durante o trabalho de corte, com ausência de sanitários, mesas, cadeiras e equipamentos adequados, sob controle de fiscais que humilham e assediam trabalhadores, com baixa remuneração, e culmina em alojamentos sem condições de higiene e conforto. A terceirização é pulverizada em dezenas de empresas de "gatos" que recrutam migrantes para o trabalho em jornadas exaustivas, e trabalham para fornecedores de cana para a usina Costa Pinto, que também reclamam do preço da cana. A relação com a usina, sede do Grupo Cosan, que possui 17 unidades, aparece na presença do fiscal geral Odair Brizotto, que aponta qual área será colhida e como deve ser depositado o produto na lavoura.O fiscal "Fubá", que os trabalhadores chamam de "feitor", a serviço de Valter Fedrigo, empresário que possui quatro empreiteiras de mão de obra, foi localizado logo adiante falando em um celular. "Quem foi que falou isso aí?", ameaçou quando informado da reclamação dos trabalhadores. João Francisco Moreira da Silva é o seu nome, e disse que os trabalhadores fazem as necessidades no mato mesmo, quando questionado sobre a ausência de sanitários. "Não adianta montar porque eles não usam mesmo", justificou, apesar de ter várias mulheres na turma. Ele realiza esse trabalho de fiscal na região há 20 anos.Treze trabalhadores dessa turma estão alojados em um barraco no bairro Tabela, de Charqueada, espremidos em três quartos com forro de plástico e dividem um só banheiro. A casa não tem acabamento e esse alojamento, assim como outros três que foram visitados, não possui armários para comidas ou roupas, que ficam espalhadas pelos poucos móveis e pelo chão. A remuneração dos trabalhadores ficam entre R$ 500,00 e R$ 600,00, e ainda pagam aluguel e outras despesas. "Não é possível, o preço da cana não está compensando, não tem condição", reclamou também o proprietário da lavoura.

Fonte: MPT

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