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Perito lança livro sobre casos em que atuou, do caso Magri à Lava-Jato

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Sábado - 07/05/2016 às 23:05



 Perceber o toque contínuo de um relógio ao fundo, comprovando que a gravação não teve cortes. Fazer leitura labial por meio de frames de imagens. Reconstituir a cena de um crime. São muitos e cada vez mais avançados os recursos para o trabalho de um perito, mas a inteligência e a perspicácia também são ingredientes fundamentais para atestar uma suspeita ou negar um fato. No livro “O Brasil na fita”, de Ricardo Molina, ele elenca uma série de casos em que atuou, em mais de 20 anos de trabalho no Brasil. Ao descrever os bastidores, opinando sobre os casos e apontando falhas e fraudes em algumas das mais polêmicas investigações, de forma corajosa, ele reconta parte da história política, policial, econômica e social do Brasil.

Da chacina de Vigário Geral à bala perdida que atingiu uma estudante no Rio de Janeiro, do confronto entre os bandidos do PCC e a polícia à morte da menina Eloá, pelo seu namorado, depois de uma desastrada ação da polícia; do governo Collor de Melo ao da atual presidente Dilma Rousseff, passando pelas mortes suspeitas do ex-tesoureiro Paulo César Farias e do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel; do cantor Belo e do ídolo Pelé aos escândalos de corrupção envolvendo grampos e gravações clandestinas: segundo Ricardo Molina, esses e muitos outros casos foram escolhidos para figurarem no livro não só pela sua repercussão e importância no cenário nacional, mas também para mostrar a diversidade de técnicas periciais empregadas em cada um.



Muitos deles servem para ratificar ou corrigir versões de alguns fatos que restaram na memória nacional e coletiva. Por exemplo: quantas pessoas hoje repetem a história de que o então presidenciável José Serra, na campanha de 2002, simulou ter sentido dor ao ser atingido por uma simples bolinha de papel? A perícia de Ricardo Molina mostrou, no entanto, que o mal-entendido surgiu pela edição tosca de imagens captadas em momentos diferentes daquele dia. Serra levou à mão à cabeça quando foi atingido antes por um objeto mais pesado.



O livro já estava entregue quando foi divulgado o diálogo entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma. Molina foi procurado para atestar se a ligação partira do Palácio do Planalto, já que havia a suspeita de que o telefone da Presidência havia sido grampeado sem autorização. A perícia mostrou o contrário. E Molina escreveu um novo capítulo para finalizar o trabalho.



“Já fiz laudos para todos os partidos políticos, cujos resultados, eventualmente, beneficiaram ou prejudicaram este ou aquele partido. Meu critério não é nunca político, mas sempre técnico. O que é importante na avaliação preliminar de um caso (e isso é algo que sempre faço) é verificar a viabilidade técnica do que está sendo colocado como objetivo pericial. Não deve interessar ao perito incorporar critérios éticos ou de gosto pessoal em sua decisão quanto a aceitar o caso”, conclui o perito.



O livro chega às livrarias no início de maio, pela editora Record.



TRECHO



“Aparentemente calmo, de cabelo engomado e terno bege, o ministro do Trabalho do governo Collor, Antônio Rogério Magri, durante depoimento na CPI, negou ter recebido os 30 mil dólares. Nem ao menos reconhecia sua voz na gravação. Às vezes, sorria com ironia; em outras, colocava os óculos e aproximava-se da caixa de som para ouvir melhor. Ainda assim, dizia que a gra­vação era praticamente inaudível. Mas não era; nossa transcrição dos diálogos ocupou 46 páginas do laudo. [...]

Magri era um personagem folclórico. Hoje, com Tiririca e com­panhia no Congresso, parece bem menos. O valor da propina é irrisório, em comparação à dinheirama que escorre atualmente nos ralos da corrupção brasileira (vide Mensalão, Petrolão e ou­tros escândalos). Em 1992, 30 mil dólares compravam ministro de Estado. Hoje não dá para comprar nem vereador do interior. A gente era feliz e não sabia.”



SOBRE O AUTOR



Ricardo Molina cursou Engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas graduou-se em Música (Composição e Regência) pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde também fez mestrado em Linguística e doutorado em Ciências, tornando-se professor da instituição em 1995. Inicialmente trabalhou na área de fonética forense, mas expandiu suas áreas de atuação para diversos outros campos periciais. Com 25 anos de atividade profissional, já analisou mais de 2 mil casos.

Fonte: assessoria

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