Olhe Direito!

Perda de audição pode começar logo na infância


A vida agitada e barulhenta dos dias de hoje vem acendendo o sinal amarelo entre especialistas em audição, que alertam que a perda auditiva pode chegar cada vez mais cedo para as novas gerações. O barulho em excesso começa ainda na infância, em casa e nas escolas. Os gritos de gol que vêm da quadra de esporte, o ronco do motor de ônibus e carros ali perto, as conversas em voz alta no corredor, o falatório exagerado na hora do recreio e, o que é mais grave, a algazarra dos alunos dentro da sala de aula. São barulhos tão corriqueiros nas escolas que não se percebe as consequências de tudo isso. O fato é que esse ruído em excesso pode causar, desde cedo, diversos prejuízos à saúde, como estresse, falta de concentração e até uma progressiva perda auditiva. Os danos à audição podem ser sentidos somente na idade adulta, mas podem ter início nos primeiros anos de estudo, em meio à agitação na sala de aula e em outros ambientes da escola.

O "barulho ensurdecedor", reclamação de muitos professores, não é somente um jeito exagerado de se referir ao incômodo. Com o passar do tempo, alunos, professores e funcionários, expostos diariamente a sons altos, podem ter a audição comprometida, já que a Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados (PAINPSE) tem efeito cumulativo. Quanto maior a frequência a ambientes barulhentos ao longo da vida, maiores as chances de danos à audição.

"Pais e professores precisam estar atentos para problemas de déficit auditivo de seus filhos e alunos, que muitas vezes passam despercebidos. É necessário avaliar a audição das crianças, principalmente no início da fase escolar, para evitar problemas de aprendizagem, futuros danos auditivos ou mesmo o agravamento de distúrbios já existentes", aconselha Isabela Papera, fonoaudióloga da Telex Soluções Auditivas.

A barulheira das crianças frequentemente tem efeito multiplicador. Alunos gritam para se fazerem ouvir entre outras crianças barulhentas. O professor, por sua vez, faz tamanho esforço para ser compreendido que também acaba gritando sem perceber. Ao mesmo tempo, outros alunos movem suas cadeiras para frente e para trás para apanhar um lápis no chão, ir ao banheiro ou simplesmente conversar com o colega de trás. Medidas simples que atenuam o problema são colocar feltro sob mesas e cadeiras escolares; e orientar que os alunos falem mais baixo – e isso também vale para o professor.

Estudo realizado pela Universidade de Oldenburg, na Alemanha, confirmou que em muitos colégios o barulho nas salas de aula passa do tolerável. O limite suportável para o ouvido humano é de 65 decibéis, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Acima disso, o organismo começa a sofrer danos. Para as salas de aula, a Associação Brasileira de Normas Técnicas estipula o limite de 40 a 50 decibéis. Muitas classes, no entanto, atingem 75 decibéis, principalmente as que têm mais de 25 estudantes. Além disso, o barulho no pátio, na hora do recreio, pode chegar a mais de 100 decibéis.

Se pessoas com boa audição são prejudicadas, imagine um aluno que já sofre de perda auditiva. “Ouvir o professor com tanto ruído ao redor é difícil, mas a tarefa torna-se desafiadora para uma criança com deficiência auditiva. As escolas precisam buscar alternativas para enfrentar o problema”, alerta a fonoaudióloga, especialista em audiologia.

O dispositivo de auxílio à audição “Amigo”, lançado no Brasil pela Telex, é um sistema FM que permite a comunicação direta de professores com crianças e jovens que apresentam dificuldades para ouvir. Essa tecnologia, utilizada dentro da sala de aula, é fundamental para ajudar o aluno com deficiência auditiva a entender com clareza o que o professor está ensinando. O sistema é composto por um transmissor e um receptor. A pessoa que está falando, no caso o professor, utiliza o transmissor, com microfone acoplado à roupa, e sua voz é transmitida diretamente para o receptor que está nos ouvidos do aluno. Isso ajuda a minimizar qualquer efeito negativo de distância, reverberação e/ou ruído de fundo, mantendo o sinal da fala original alto e claro.

A exposição ao barulho na escola, somada às variadas situações de ruído em excesso no dia a dia – trânsito, televisão em volume alto, ouvir música alta com fones no ouvido – preocupa médicos e fonoaudiólogos, que preveem problemas de audição cada vez mais cedo entre as novas gerações. É preciso maior atenção de todos, para que as dificuldades para ouvir, comuns na terceira idade, não cheguem ainda na juventude ou na idade adulta.
Siga nas redes sociais
Mais conteúdo sobre:
Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
Próxima notícia

Dê sua opinião: