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PERDA

Morre Domenico De Masi, sociólogo criador do conceito de ócio criativo

Ele foi professor emérito de sociologia do trabalho na Universidade Sapienza de Roma

Da Redação

Sábado - 09/09/2023 às 15:27



Foto: Divulgação Domenico De Masi
Domenico De Masi

Criador do conceito de '"ócio criativo", autor de mais de 20 livros e um dos pensadores mais influentes do final do século XX, o sociólogo italiano Domenico De Masi morreu aos 85 anos, em Roma. A informação foi confirmada neste sábado (9).

Segundo o jornal italiano "Il Fatto Quotidiano", De Masi descobriu que estava doente em 15 de agosto, durante suas férias em Ravello, na costa Amalfitana. Até a última atualização desta reportagem, a causa da morte ainda não havia sido comunicada.

Ele foi professor emérito de sociologia do trabalho na Universidade Sapienza de Roma e reitor da Faculdade de Ciências da Comunicação dessa mesma instituição.

Entre suas obras, está o best-seller "O Ócio Criativo", de 1995, que defende a noção de que o tempo livre não é algo necessariamente negativo, porque pode estimular a criatividade pessoal. Ele também escreveu livros como "Desenvolvimento Sem Trabalho", "A Emoção e a Regra" e "O Futuro do Trabalho".

O sociólogo nasceu em Rotello, em 1938, e tinha o título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro.

Em junho deste ano, De Masi encontrou-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Roma. Os dois conversaram sobre a conjuntura política atual do Brasil e da Itália, e abordaram a necessidade de se estabelecer a paz tanto na Europa quanto no resto do mundo. Os dois já haviam se reunido em 2020.

Importância do 'ócio criativo' e tecnologia

Home office, desemprego em massa e crise econômica eram assuntos recorrentes para o sociólogo Domenico de Masi mesmo antes da pandemia de Covid-19.

Na visão do professor, o avanço tecnológico é estratégico para um cenário em que cada vez mais pessoas poderão desempenhar funções de qualquer lugar, pelo chamado "smart working".

"A tecnologia é a melhor e maior aliada do ócio criativo", disse em entrevista ao g1.

Masi deixou claro que a possibilidade de trabalhar remotamente não deve representar um tempo maior de dedicação às atividades profissionais.

"As muitas pesquisas realizadas em todo o mundo mostram que, com o trabalho à distância, a produtividade aumenta de 15% a 20%. Isso significa que o teletrabalhador pode fazer em sete horas o que antes, no escritório, levava oito horas", disse.

"Aqueles que, por teletrabalho, estenderam seu dia de trabalho em vez de encurtá-lo, são neuróticos que não podem viver sem trabalhar. Precisam de ajuda para se desintoxicar. O teletrabalho permite combinar trabalho, estudo e lazer: ou seja, permite o ócio criativo."

Influência na sociedade italiana

Durante a carreira, De Masi passou por diversos centros de estudos na Itália, incluindo a Universidade Frederico II, em Napoli, e a Universidade La Sapienza, em Roma, onde lecionou durante a maior parte da vida.

Em 1995, o intelectual fundou a Sociedade Italiana de Teletrabalho (SIT), responsável por divulgar e regulamentar o trabalho não estruturado no país.

Além disso, De Masi foi considerado um dos intelectuais mais próximos do Movimento 5 Estrelas, partido da Itália, depois de uma vida acadêmica próxima à esquerda. Seu trabalho influenciou muitos integrantes do grupo, incluindo Giuseppe Conte, que foi primeiro-ministro italiano entre 2018 e 2021.

"[A morte de De Masi,] acima de tudo, priva-nos de um verdadeiro homem de cultura, de uma mente muito clara, cujas análises tiveram o mérito de desafiar as convenções tradicionais sobre o trabalho e a sociedade, levando as pessoas a refletir sobre o significado do seu tempo e das suas paixões", afirmou o partido em comunicado.

Suas pesquisas sobre o mercado de trabalho foram fundamentais para a formação do Movimento 5 Estrelas, que ganhou influência na sociedade italiana nos últimos anos.

"O seu ponto de vista sobre as coisas sempre representou um importante ponto de referência para a comunidade, que hoje lamenta aquele que foi antes de tudo um amigo de tantos de nós", disse o partido.

Repercussão

  • Presidente Lula

"Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário. De Masi sempre foi muito atento e carinhoso com o Brasil, sempre visitando o país e sem nenhum medo de se posicionar, mesmo nos momentos mais difíceis", disse Lula, em texto nas redes sociais.

  • Giuseppe Conte, ex-primeiro-ministro da Itália

"Há talentos que estudam com paixão a vida inteira, que dominam matérias inteiras, tornando-se referência para toda a comunidade científica, e ainda assim mantêm a humildade e a curiosidade de quem sabe que ainda tem muito a aprender e, acima de tudo, nunca perdem de vista que no centro de tudo, do conhecimento, das nossas construções teóricas, das nossas realizações científicas, está o ser humano, com a sua dignidade irreprimível e indispensável. Isto é o que Domenico De Masi foi e muitas outras coisas", afirmou o ex-premiê nas redes sociais.

  • Roberto D'Avila, jornalista

"Uma das pessoas mais completas que eu conheci. Como ser humano, como homem de letras. Mas, acima de tudo, como ser humano", disse D'Avila à GloboNews.

Fonte: G1

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