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CÚPULA DO G7

Conheça as mulheres que enfrentam a máfia na região italiana sede do encontro do G7

Cabeça decepada de bode e notas escritas com sangue fazem parte das intimidações

Da Redação

Quinta - 13/06/2024 às 09:08



Foto: Alessandra Tarantino/AP A juíza Maria Francesca Mariano em 20 de maio de 2024
A juíza Maria Francesca Mariano em 20 de maio de 2024

No dia 1º de fevereiro, uma cabeça decepada de um bode com uma faca de açougueiro atravessada foi colocada na porta da casa da juíza Francesca Mariano, na Itália. A juíza tem recebido ameaças frequentes — inclusive notas escritas com sangue — após ordenar a prisão de 22 membros da máfia que opera na região de Puglia, no sul do país.

Nesta semana, líderes dos países do G7, incluindo o presidente Lula, participam de uma cúpula em Puglia. A região é o reduto do grupo mafioso Sacra Corona Unita (SCU), menos conhecido que a Camorra, a Cosa Nostra ou a 'ndrangheta, mas também infiltrado em empresas e órgãos de governo.

A promotora Carmen Ruggiero em 22 de maio de 2024 — Foto: Alessandra Tarantino/A

Além da juíza Mariano, outras mulheres combatem a Sacra Corona Unita em Puglia, como a chefe da força-tarefa antimáfia, uma promotora de Justiça e uma política local.

A história da Sacra Corona Unita

A Sacra Corona Unita (SCU) surgiu em uma prisão na cidade de Lecce, em 1981, para evitar que grupos criminosos de outras regiões controlassem os negócios ilícitos locais. O nome e alguns rituais do grupo têm origem no catolicismo. Hoje, a SCU mistura negócios legítimos com crimes e conta com cerca de 5.000 membros divididos em 30 clãs.

Carla Durante, chefe da força antimáfia de Lecce, diz que o principal negócio da SCU é o tráfico de drogas, além de extorsão e agiotagem. “Agora há infiltrados na administração pública”, afirma Durante. A SCU lava dinheiro de crimes em negócios legítimos, como empresas de turismo em Puglia.

Confiscar negócios de mafiosos tem sido uma forma eficiente de combater o crime. A força-tarefa de Durante já embargou fazendas e vinícolas, transformando-os em projetos de organizações locais. “Aprendemos que essa é a ferramenta mais objetiva (para combater a máfia), porque tirar ativos dos mafiosos implica tirar poder deles”, diz Durante.

A SCU tem evitado ações violentas nos últimos anos, adotando formas mais sutis de intimidação e se inserindo na sociedade local, onde é aceita por muitos.

Mafioso tentou cortar o pescoço de promotora

Sabrina Matrangola, uma política da região, é filha de uma mulher assassinada em 1984 durante uma campanha contra um empreendimento imobiliário em um parque. Ela afirma que a comunidade precisa se unir e escolher “o lado certo”. Matrangola é ativista do grupo Libera, que converte propriedades embargadas da máfia em projetos comunitários.

Duas semanas após uma operação em que membros da SCU foram presos, um suspeito tentou cortar o pescoço da promotora Carmen Ruggiero com uma faca improvisada. Pancrazio Carrino, um dos 22 presos, sinalizou querer colaborar com a investigação, mas atacou Ruggiero ao chegar ao presídio.

As mulheres que enfrentam a SCU também tentam conscientizar a população sobre os danos da máfia. Mariano, a juíza, escreve peças para mudar a percepção das pessoas sobre os criminosos. “Temos que começar com a comunicação, que é fundamental para transmitir valores de dignidade, coragem e responsabilidade, a capacidade de dizer não, a capacidade de se indignar diante das coisas erradas”, afirma ela.

Fonte: G1

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