Política

Morte de reitor da UFSC repercute no Legislativo do Piauí

Luís Carlos Cancellier de Olívio cometeu suicídio depois de ser preso

Terça - 03/10/2017 às 18:10



Foto: Reprodução O corpo do reitor sob a tenda montada em shopping de Florianópolis (SC)
O corpo do reitor sob a tenda montada em shopping de Florianópolis (SC)

A morte do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luís Carlos Cancellier de Olívio, que cometeu suicídio ontem (2), em um shopping center de Florianópolis, repercutiu na Assembleia Legislativa do Piauí. O reitor havia sido preso pela Polícia Federal sob acusação de obstrução da justiça. Ele foi levado para a Polícia Federal mesmo sem qualquer acusação de crime.

O deputado Cícero Magalhães lamentou que as pessoas estejam sendo expostas na mídia mesmo sem cometer nenhum delito. As vidas são arrasadas, a honra e a dignidade execradas, como foi a do reitor da UFSC, porque cabe a quem é acusado provar que não cometeu nenhum crime.

Os deputados Aluísio Martins (PT), Dr. Hélio Oliveira (PR), João de Deus (PT), R. Pessoa (PSD) e Robert Rios (PDT) também se manifestaram contra a exposição açodada e irresponsável da imagem das pessoas antes mesmo de qualquer condenação pela Justiça.

O artigo publicado no dia 28 de setembro passado pelo reitor Luiz Carlos Cancellier, em O Globo:

"Reitor exilado"

"Não adotamos qualquer atitude para obstruir apuração da denúncia. A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição. No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira; avaliada com vários cursos de excelência em pós-graduação pela Capes e homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma “quadrilha”, acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade.

Quando assumimos, em maio de 2016, para mandato de quatro anos, uma de nossas mensagens mais marcantes sempre foi a da harmonia, do diálogo, do reconhecimento das diferenças. Dizíamos a quem quisesse ouvir que, “na UFSC, tem diversidade!”. A primeira reação, portanto, ao ser conduzido de minha casa para a Polícia Federal, acusado de obstrução de uma investigação, foi de surpresa.

Ao longo de minha trajetória como estudante de Direito (graduação, mestrado e doutorado), depois docente, chefe do departamento, diretor do Centro de Ciências Jurídicas e, afortunadamente, reitor, sempre exerci minhas atividades tendo como princípio a mediação e a resolução de conflitos com respeito ao outro, levando a empatia ao limite extremo da compreensão e da tolerância. Portanto, ser conduzido nas condições em que ocorreu a prisão deixou-me ainda perplexo e amedrontado.

Para além das incontáveis manifestações de apoio, de amigos e de desconhecidos, e da união indissolúvel de uma equipe absolutamente solidária, conforta-me saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado processo que nos levou ao cárcere. Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior.

Não adotamos qualquer atitude para abafar ou obstruir a apuração da denúncia. Agimos, isso sim, como gestores responsáveis, sempre acompanhados pela Procuradoria da UFSC. Mantivemos, com frequência, contatos com representantes da Controladoria-Geral da União e do Tribunal de Contas da União. Estávamos no caminho certo, com orientação jurídica e administrativa. O reitor não toma nenhuma decisão de maneira isolada. Tudo é colegiado, ou seja, tem a participação de outros organismos. E reitero: a universidade sempre teve e vai continuar tendo todo interesse em esclarecer a questão.

De todo este episódio que ganhou repercussão nacional, a principal lição é que devemos ter mais orgulho ainda da UFSC. Ela é responsável por quase 100% do aprimoramento da indústria, dos serviços e do desenvolvimento do estado, em todas as regiões. Faz pesquisa de ponta, ensino de qualidade e extensão comprometida com a sociedade. É, tenho certeza, muito mais forte do qualquer outro acontecimento". 

Fonte: Paulo Pincel

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