Brasil

Matéria da Folha/Uol dá amplo destaque para a Serra da Capivara

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Domingo - 12/05/2013 às 14:05



A Folha de São Paulo e o portal Uol publicaram uma ampla matéria sobre a Serra da Capivara no Sul do Piauí, chamando, merecidamente de maior patrimônio arqueológico do Brasil. A reportagem com uma série de boxes e retrancas e centenas de fotos dá o merecido destaque a importancia da Serra da Capivara para o estudo do povoamento das américas.

O texto do repórter Rafael Mosna fala de tudo e enche de orgulho os piauienses que conhecem o local e nem mesmo o "bairrismo" de alguns meios de comunicação do Estado que criticou a reportagem por dizer que o inferno existe e fica no Piauí, vai estragar a publicação. Afinal,  para quem saiu de São Paulo em um clima frio, enfrentar a Caatinga com uma das maiores secas dos últimos anos e temperaturas na casa dos 45o C, é realmente um inferno de quente. Confira parte da reportagem abaixo.

Parecia um tour exclusivo. Em abril, a reportagem visitou durante quatro dias o parque nacional da serra da Capivara, no Piauí, e só cruzou com um turista (isso mesmo, no singular) uma vez.

Sorte? Não exatamente. Essa época é considerada baixa temporada e, além disso, eram dias de semana. Dados oficiais, no entanto, mostram que a visitação ainda é baixa.

Em 2012, 11.655 pessoas passaram pelo parque, sendo estudantes da região a maior parte delas. Vindos de fora do Nordeste, foram apenas 1.500 visitantes.

Para efeito de comparação, o sítio arqueológico de Tulum, no México, também de grande importância histórica, recebeu 1,2 milhão de visitantes no mesmo período.

Abrigo com pinturas rupestres no parque nacional da serra da Capivara
Por que, afinal, é tão baixa a visitação à mais relevante área arqueológica do Brasil?

A principal hipótese é a dificuldade de acesso para quem vem de fora do Piauí. De São Paulo, o viajante precisa combinar trecho aéreo com escala e estrada, num total de dez horas de viagem.

Não é fácil chegar, mas quem se aventura raramente se arrepende desta viagem à Pré-História.

Estudos apontam a presença do homem há cerca de 50 mil anos. Os vestígios são resultado de escavações lideradas pela arqueóloga Niède Guidon na década de 70, quando foram encontradas ferramentas que evidenciaram a presença mais antiga do homem nas Américas.

Desde então polêmicos, os trabalhos ganharam maior aceitação décadas depois, durante apresentação em um simpósio no Piauí em 2006.

Formado por quatro serras, o parque tem como cartão-postal o sítio Boqueirão da Pedra Furada, com mais de mil pinturas rupestres. Estão ali, a poucos metros da parada de carro. Acesso facílimo.

Mas nem tudo é sombra, água fresca e trilhas planas. Para ver algumas das pinturas rupestres descritas nesta edição, será preciso encarar o calor de até 45ºC e subir em paredões íngremes.

Em suma, é preciso suar a camisa.

Parto
Utilizado por passantes como uma estrada entre as cidades de São Raimundo Nonato e São João do Piauí, o circuito do Desfiladeiro da Capivara, na serra da Capivara, reúne sítios arqueológicos de facílimo acesso. Estão logo ali, bem próximos de onde o carro estaciona.

Hoje, é claro, o acesso a esses locais é controlado (todo o parque nacional só pode ser visitado na presença de um guia cadastrado).

Mas foram exatamente os viajantes que encontraram muitos dos locais hoje abertos para visitação, os quais, inclusive, serviam de abrigo para pernoites.

Na Toca da Entrada do Pajeú, avista-se uma estrutura natural parecida com uma cúpula de uma igreja (como um domo arredondado). Pinturas datadas de cerca de 12 mil anos evidenciam o dia a dia (dois homens segurando uma rede, por exemplo, mostrando uma técnica de caça) e as cerimônias, como um conjunto de quatro homens em movimento, dançando.

Fogueiras encontradas no local durante escavações se mostraram bem estruturadas e carvões foram datados pelo método Carbono-14 em uma data de 6.990 anos.

Quem tiver sorte, como a que teve a reportagem durante a visita, poderá ver um grupo de macacos-prego perambulando entre as árvores, próximos do chão, à vista de quem por ali passa.

Veadinhos azuis
A dificuldade é média, e a recompensa é alta. A trilha do do circuito dos Veadinhos Azuis leva cerca de duas horas, contando o tempo para descanso, vista panorâmica e admiração das pinturas. Escadas facilitam a subida.

O passeio abrange um conjunto de quatro sítios. Na Toca dos Veadinhos Azuis, o charme fica por conta do desenho na coloração azulada. "O material utilizado é carvão vegetal, mas a ação do tempo transformou a cor. Só existe assim aqui no parque e na Colômbia", explica a guia.

De um lado, uma rocha inteiramente coberta por figuras da tradição nordeste e agreste, ou seja, parte delas são grandes e estáticas. No total, o sítio possui mais de cem metros de comprimento. Dos desenhos encontrados, destaque para uma imagem de um bisão (detalhe: este mamífero de pelagem longa, com chifres curtos e robustos não é encontrado na América do Sul), uma cena de árvore e outra que simula um parto, além de peixes e animais de caça, como o tatu.

Do outro lado, a vista é ampla e encara uma formação rochosa. Na verdade, trata-se de um vale, com um paredão de frente para o outro. No meio da tarde, o som é de papagaios cantando (ou seria se esgoelando?).

Detector de ar puro
No alto da trilha, mais vistas panorâmicas para formações serranas e a vegetação local -que, na época da chuva, atinge verde e outras cores, mas, durante a seca, ganha tons de cinza-claro.

Em um ponto de uma pedra no alto da trilha -a subida alcançada pela caminhada é de cerca de 80 metros acima do vale-, a guia aponta um líquen de coloração ocre. O vegetal, conta ela, sobrevive apenas em ar puro.

Fonte: folha/uol

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