Polícia

Mãe de criança morta por PMs foi chamada de "vagabunda"

Dayanne Félix Caetano depôs na manhã de hoje (26) na Delegacia de Homicídio

Terça - 26/12/2017 às 15:12



Foto: Izabella Pimentel/Cidadeverde.com Daiane Félix Caetano
Daiane Félix Caetano

"Minha filha morreu com fome", lamentava Dayanne Félix Caetano, mãe de Emile Caetano da Costa, de 9 anos, morta por policiais militares na noite de Natal (25). Dayanne esteve na manhã desta terça-feira (26), na Delegacia de Homicídios, no bairro Morada Nova, zona Sul de Teresina para depor sobre a ocorrência em que a família foi alvo de vários tiros disparados contra o veículo onde estavam ela, o marido e as três filhas.

Evandro da Silva Costa, 31 anos,  que é cantor sertanejo, permanece internado no Hospital de Urgência de Teresina. Ele está conciente e tem uma bala alojada na nuca, próximo à orelha esquerda. Deitado na maca do HUT, Evandro falou sobre o ocorrido. Segundo ele, o carro em que ele e a família estavam foi seguido pela viatura da PM depois que ele fez a retorno pela rotatória da Avenida Kenney com João XXIII, para seguir rumo ao Dirceu Arcoverde, já que a filha Emile disse que estava com fome.

Evandro lembrou que a viatura ligou a sirene e o giroflex e imediatamente a esposa, Dayanne Caetano, pediu que ele parasse. Evandro obedeceu. Os PMS desceram da viatura atirando. "Eles deveriam agir assim com bandido, não com um pai de família", reclamou.

Estado de choque 

Bastante abalada desde que soube da morte da filha, Dayanne Caetando chorava muito antes do depoimento. A mãe estava com um curativo no braço, atingido por um tiro disparado pelos militares. "Minha filha era tão linda. Que policia é essa que mata cidadão?", perguntava Daiane.

“A gente vinha da casa de um colega dele [Evandro] e estava indo no sentido do Dirceu, por que a minha filha, que faleceu, queria um açaí, por causa desse açaí a gente estava andando. O Evandro fez um percurso no balão (do São Cristóvão) e quando foi virar o carro, ele subiu no meio-fio. Tinha uma viatura parada, que começou a seguir a gente, aí o Evandro percebeu e ficou nervoso, pois a gente ‘tava’ andando com a neném e não tinha o bebê conforto. O Evandro disse assim: ‘eu vou acelerar, pois senão a gente vai pegar multa’. Quando ia chegando pertinho, ela [PM] soltou a sirene e o Evandro já tinha dado sinal de alerta e parado. O policial começou a disparar mais de 10 tiros no nosso carro, com a gente dentro, parado. Um rapaz que ‘tava’ na hora e viu tudo ainda falou para [a polícia] não atirar. Quando eu saí do carro eu já ‘tava’ baleada e minha filha já estava ensanguentada. Eu disse: ‘moço, pelo amor de Deus, aqui só é família, minha filha, pare de atirar’. Ele [PM] disse: vagabunda, por que tu não parou esse carro, vagabunda?’”, contou Dayanne, ao conversar com os jornalistas na Delegacia de Homicídios. 

"Quando desci do carro, gritando desesperada, o policial aí me chamou de vagabunda, perguntando porque eu não parei o carro. Uma pessoa disse que não precisava atirar porque era uma família e o policial disse para ele calar a boca senão ia sobrar tiro até pra ele", lembrou a mãe de Emile, aos prantos.

Além de Daiane, Evandro e Emile, mais duas filhas do casal estavam no Clio: Manoeli, de 8 anos, e uma irmã de 7 meses, que não ficaram feridas. O cantor permanece em observação no Hospital de Urgência de Teresina (HUT)

Francisco de Assis Caetano avô de Emile, acompanhou a filha no depoimento. Perdi minha netinha linda, uma menina tão inteligente, bonita. Estamos todos arrasados".

O velório da menina acontece na casa da família, bairro Parque Alvorada, em Timon (MA).

Os PMs do 5° Batalhão da Polícia Militar foram autuados e levados para o presídio militar. Eles devem responder por homicídio e tentativa de homicídio. 

Fonte: Paulo Pincel

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