Política

Luciane Santos, candidata do PSTU, chama de "promíscua" a relação da Prefeitura de Teresina com a Câmara Municipal

Sobre o impeachment, a candidata diz que "nós não choramos a saída do PT"

Quarta - 07/09/2016 às 16:09



Foto: Paulo Pincel Luciane Santos, candidata a governadora do Piauí
Luciane Santos, candidata a governadora do Piauí

Professora da rede municipal de Teresina, Luciane Santos é diretora licenciada do Sindserm - Sindicato dos Servidores do Município  - e militante do Movimento Mulheres em Luta. A candidata a prefeita lembra que o PSTU não apoiou o afastamento de Dilma, mas "não choramos a saída do PT". Luciane avalia como “promíscua” a relação da prefeitura com a Câmara Municipal, onde o atual prefeito, Firmino Filho, do PSDB, tem maioria entre os 29 vereadores - são mais de 20 apoiando a PMT na atual legislatura. Luciane Santos reclama que a ausência de um legítimo representante dos trabalhadores na Câmara tem sido decisiva para o agravamento dos problemas na educação, na saúde, que só são referência no papel, no discurso do prefeito.  “Foi assim quando os vereadores votaram contra a climatização dos ônibus. Eles votaram contra... A saúde só é referência no setor privado”. A educação, a segurança idem. “Temos a honra de apresentar nossa pré-candidata a prefeita de Teresina pelo PSTU. Luciane Santos, trabalhadora da Educação municipal de Teresina, ativista do movimento de mulheres e do movimento sindical, negra e moradora da periferia. Vai defender a cidade para os trabalhadores, por direitos sociais, contra o machismo, a LGBTfobia, o racismo e a exploração. Em breve, compartilharemos mais informações”, escreveu  o presidente do PSTU, professor  Daniel Solon, nas rede sociais, quando lançou  o nome de Luciane como candidata a prefeita. “Estamos nos colocando como alternativa para a classe trabalhadora, a gente entende que não dá para governar para todos. Ou você governa para os trabalhadores ou você governa para o grande empresariado”, entende a candidata.


 

Luciane Santos é professora do município de TeresinaiLuciane Santos é professora do município de TeresinaFoto: Paulo Pincel

Piauihoje.com: Professora Luciane Santos, boa tarde! É uma honra recebê-la aqui no portal. Para começar, o que levou a professora Luciane a pleitear a candidatura, a querer ser a prefeita da capital?

Luciane: Boa tarde! Queria agradecer o espaço, tendo em vista que a gente vem em umas eleições muito antidemocráticas, onde o PSTU tem apenas 8 segundos no programa de TV para apresentar o seu programa, suas propostas, então a gente agradece muito esses espaços. Qando eles nos são oferecidos. Obrigada. As candidaturas do PSTU no Brasil inteiro vêm buscando refletir a expressão da classe trabalhadora. A gente tem candidaturas de operários, mulheres, negros, lgbts, e sobretudo, moradores da periferia. Então, a nossa candidatura em Teresina vem refletir a expressão da classe trabalhadora, sou uma mulher, negra, moradora da periferia, e que, por estar nesse espaço, por conviver nos bairros distantes da cidade de Teresina, onde nós somos esquecidos totalmente pelo poder público, é que nos dá assim um respaldo para estar disputando essas eleições. E as nossas candidaturas estão a serviço das lutas, de organizar as lutas da classe trabalhadora. A gente entende que só as eleições que ocorrem de 2 em 2 anos não muda a realidade da classe trabalhadora. Se assim fosse, os trabalhadores viveriam em uma situação de bem estar social por que de 2 em 2 anos acontecem as eleições, então a compreensão que nós temos é que o que vai mudar de fato a realidade da classe trabalhadora é a organização dos trabalhadores, é lutando contra os ataques que vem aí, a gente vê a conjuntura que vai acontecer as eleições municipais é atravessada por uma conjuntura de crise nacional, crise econômica e crise política, onde a crise econômica é refletida por mais de 12 milhões de trabalhadores que estão desempregados, o custo de vida da família brasileira tá muito caro, o preço do alimento tá muito alto...

Aliás, isso tem sido usado pelos “golpistas”, como são chamados pelos aliados da Presidenta, que acusam Dilma de ser culpada pelos 12 milhões de pessoas fora do emprego. Como é que o PSTU, que é um partido de trabalhadores, formado por gente da periferia, negros, mulheres, LGBTs, excluídos, enfim, vê esse discurso, pregado por quem, até ontem, era governo e hoje acusa o PT e Dilma dfe serem os culpados e que não têm nada a ver com essa crise que aí está? Como vocês veem isso?

Como eu estava falando, a gente vem numa crise econômica muito grande, onde os reflexos estão aí no desemprego, a alta do alimento, e somado a isso vem uma série de ataques contra os direitos dos trabalhadores. Um exemplo disso é a PEC 241 que vem congelar os investimentos nas áreas sociais como saúde, educação, saneamento básico por 20 anos, e tem aí o PL 257 que vai fazer a reforma da previdência, onde os trabalhadores vão ter que trabalhar até morrer, para poder se aposentar, porque evidentemente, você não vê um trabalhador da construção civil com 70 anos de idade, com 75 anos de idade trabalhando, você não vê um trabalhador do comércio também com essa idade trabalhando, porque não tem condições, então somado a essa crise econômica, vem os ataques aos trabalhadores, e são um pacote de maldade que são orquestrados desde o governo do PT com a Dilma, e que está dando continuidade com o governo Temer. Então houve o processo de impedimento da ex-presidente Dilma...

E qual é a posição do PSTU em relação ao impeachment?

Nós não choramos a saída do PT, porque até ontem, até um tempo atrás, o PT estava de braços dados ao PMDB, o PT na ânsia de estar no poder, de se eleger, fez alianças políticas com o grande empresariado, com os banqueiros, com as multinacionais, com os patrões envolvidos em corrupção, virando as costas totalmente pra classe trabalhadora, então nós não perdoamos a traição que o PT fez conosco, com a classe trabalhadora, e por isso a gente diz que esse processo de impedimento foi só trocar 6 por meia dúzia. Tanto faz Dilma, como Temer, o pacote de maldades contra a classe trabalhadora iriam ser aplicados. Então defendemos o Fora Temer, Fora todos eles, eleições gerais já com novas regras. Por que com novas regras? Porque não adianta a gente só fazer eleições gerais com políticos envolvidos em escândalo de corrupção disputando, só com partidos envolvidos com escândalos de corrupção disputando.

E o “Fora Firmino”? Qual a receita do PSTU para substituir o PSDB, tirar o Firmino da prefeitura?

A gente diz “fora” todos eles, os corruptos que não governam para a classe trabalhadora.  A gente está aí em um momento de disputa das eleições municipais onde a gente vê várias propagandas, onde o Firmino coloca uma Teresina maravilhosa, que a educação vai muito bem, que a saúde muito bem, que o transporte tá maravilhoso, o saneamento básico, a gente só não sabe que Teresina é essa que ele tá falando. Porque a Teresina dos pobres, a Teresina das periferias onde mora a maioria da classe trabalhadora que produzem a riqueza desse município, vivem em uma cidade totalmente esquecida pelo poder público. Então, quando a gente diz fora todos os corruptos que não governam para a classe trabalhadora inclui o Firmino também. Porque ele tem um modelo de gestão, de política que prioriza aqueles que financiaram as suas campanhas, e não a classe trabalhadora. Que a gente vê as empresas terceirizadas, os empresários do Setut, tudo financiando a campanha do Firmino. Na hora que ele ganhar novamente as eleições, se ele ganhar, ele vai esquecer as promessas que ele está fazendo e vai fazer uma gestão voltada para aqueles que financiaram as suas campanhas.

E quais seriam as suas propostas para tentar reverter esse favoritismo do Firmino?

Olha, o mote da nossa campanha é construir uma Teresina para a classe trabalhadora. A gente vê uma contradição muito grande na nossa cidade. Duas cidades em uma. A cidade dos ricos, onde tudo funciona, a cidade dos condomínios de luxo, dos prédios de luxo, onde tem iluminação pública, você não vê esgoto a céu aberto, os filhos dos ricos têm direito a uma educação de qualidade, embora privada, mas de qualidade, saúde também, e nós temos a cidade da periferia, onde mora a maioria da classe trabalhadora daqui de Teresina, onde nós não temos saneamento básico, não temos pavimentação, não temos iluminação pública, o transporte público é muito precário, a juventude sofre com a violência, e nós dizemos isso: basta de governar pros ricos, tá na hora de construir uma Teresina para a classe trabalhadora.
 

Luciane e Douglas Bezerra, candidato a vice-prefeitoLuciane e Douglas Bezerra, candidato a vice-prefeitoFoto: Paulo Pincel

Quais seriam as propostas do PSTU?

Nós precisamos barrar o pagamento da dívida que o município tem com a União, que a gente sabe que o município já pagou várias vezes, nós precisamos fazer uma auditoria nas contas do município, saber com o que de fato é investido, se o orçamento público do município é investido mesmo no serviço público porque se fosse, a gente não teria duas Teresina, teria uma Teresina onde todos viveriam bem. E outra coisa, nós do PSTU defendemos uma gestão apoiada nos conselhos populares, onde as populações dos bairros da periferia digam onde deve ser investido o orçamento público. Porque só quem tem condição de dizer o que a Santa Maria da Codipi precisa, que é uma região com mais de 200 mil habitantes, são os moradores de lá. Quem é o prefeito Firmino Filho, quem são os vereadores que só aparecem de 4 em 4 anos para pedir o voto da população para dizer o que é que a periferia precisa? Nós é que sabemos do que nós precisamos. Então precisamos construir um governo apoiado nos conselhos populares onde a população define no que vai ser investido o orçamento público. E não devemos destinar nenhum centavo do orçamento pro empresariado. A partir do momento que você faz uma gestão para todos em que você diz que da pra governar e pro grande empresariado. E ai eu não estou falando da senhora que tem uma mini fábrica de calcinhas no fundo da casa ...

A questão da segurança e da saúde...

Um dos nossos motes também é discutir a questão do desemprego, mulheres e segurança. Muitos candidatos colocam as suas propostas para resolver o problema da insegurança em Teresina é colocando mais policiais nas ruas. É criando pelotões mirins nas escolas, é militarizando as escolas.  Mas é algo mais profundo. Falar em violência é falar em tudo aquilo que foi negado à juventude da periferia. Se o prefeito tem uma política de fechamento de vagas de creche onde a maioria esmagadora das crianças que estão na fase escolar de 0 a 5 anos de idade da periferia está fora da escola, como é que você não vai querer que essas crianças sejam alvo da violência, do tráfico?.

As creches que havia foram fechadas...

Eu moro no Jacinta Andrade, lá é um residencial com 4 mil famílias e não tem uma creche. Lá, a única escola que existe é dividida entre o município e o estado. O estado cedeu algumas salas. Os filhos da classe trabalhadora não têm direito nem à educação. Então, só colocar a polícia nas ruas não vai resolver. Nós precisamos de esporte, lazer, cultura, nós precisamos é de emprego para esses jovens, nós precisamos de qualidade, de jovens que consigam se deslocar para ir pras suas escolas, porque muitos não conseguem nem ir pra escola. Tudo isso passa, todos esses investimentos passam no combate à violência. Não tem nenhum lugar no mundo onde não se investe em área sociais e só se coloca a polícia, e se resolve o problema violência.

A saúde também vai mal, apesar da fama de Teresina de ser referência em saúde. E é, mas em saúde privada.

O Firmino abre a boca pra dizer que investe 33% do Orçamento Municipal em saúde. Só diz saúde, não revela que saúde é essa? Se é saúde pública ou  privada. Se ele, de fato, investisse 33% do orçamento em saúde pública, nós não teríamos filas quilométricas nas unidades de saúde, onde nós,  mulheres, mães, precisamos acordar 3 horas da manhã para chegar ao posto de saúde, conseguir uma vaga para espera eletrônica. Elas chegam, adentram ao posto de saúde, lá elas se dirigem ao pessoal que trabalha no Sami, na recepção, e  ainda entra numa lista eletrônica, para passar 4, 5, 6 meses sem conseguir marcar. E muitas morrem, não conseguem falar cm uma especialista, então se de fato fosse investido esse montante que ele diz, nós não teríamos problemas de tanta microcefalia no município de Teresina, porque nós que somos da periferia, temos que conviver com os esgotos a céu aberto, somos infectadas com o zika vírus, nossos filhos nascem com microcefalia, e o estado ainda fecha as portas pra isso. Então, qual a proposta do pstu com relação a saúde? É não investir nenhum centavo a mais do orçamento que é destinado a saúde para a saúde privada. Teresina é um polo na saúde e é reconhecida nacionalmente... privado!  Você vê hospitais privados, mas a saúde pública agoniza. Porque quando você vai num hospital desses, você tá com dor de cabeça, é dipirona, você tá com convulsão, é dipirona, problema na coluna, é dipirona, você tá quase dando um AVC, é dipirona. Injetam dipirona na população, manda embora e vá procurar um especialista!

Essa relação “promíscua” entre a prefeitura e a Câmara Municipal contribui com os problemas na saúde, segurança, educação?

Ele vem com um blocão aí, né, pra disputar as eleições do município...

São mais de 20 vereadores apoiando Firmino na Câmara...

Pois é, e se a gente deixar, vai aumentar mais ainda essa relação promíscua. Nós, do PSTU, defendemos a criação de conselhos populares justamente pra população dizer para os vereadores que se dizem representantes do povo dizer: olha, nós estamos precisando disso, estamos mandando para a câmara de vereadores um projeto de lei nesse sentido que vai beneficiar a população. Como é, vocês vão votar contra?

Foi assim com a climatização dos ônibus. Não passou.

Pois é, a climatização dos ônibus, eles votaram contra. Se ali tivéssemos um representante, de fato, a serviço da luta dos trabalhadores, eles teriam recuado, teriam voltado atrás. Se tivéssemos um prefeito estivesse preocupado com o bem estar da população, os vereadores teriam recuado. Mas não. Eles não recuaram. E por que? Porque o único interesse deles é garantir os lucros dos grandes empresários, do Setut. Não é para garantir o bem estar da população e nem o direito de ir e vir.
 

Movimento Mulheres na LutaMovimento Mulheres em LutaFoto: Divulgação/MML


Um breve currículo de Luciane Santos...e uma palavra para o eleitor de Teresina.

Professora da rede municipal. Diretora licenciada do Sindserm. Militante do movimento Mulheres em Luta. Estamos nos colocando como alternativa pra classe trabalhadora, a gente entende que não dá pra governar pra todos. Ou você governa para os trabalhadores, ou você governa para o grande empresariado. O interesse de classe entre os donos do meio de produção é muito diferente da classe trabalhadora. Por isso nos colocamos como alternativa. Nós precisamos construir uma Teresina para a classe trabalhadora. A gente não recebe financiamento de empresários, nós fazemos a nossa campanha a partir da ajuda voluntária dos trabalhadores. E para além de nos ajudar, fazemos um chamado a todos os trabalhadores que estão cansados de serem explorados pela grande burguesia, pelos ricos, a entrarem no PSTU, a reforçarem nossas fileiras de luta, nossa organização. Contra burguês, vote e lute, Luciane 16.

Fonte: Roberto Araújo / Paulo Pincel

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