Economia

Lei e pressão médica mantêm idade de 40 anos para realização de mamogr

Piauí Hoje

Segunda - 23/11/2009 às 02:11



A partir dos 40 anos ou só depois dos 50? A cada dois anos ou anualmente? Depois que os médicos da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos recomendaram a realização da mamografia (1) preventiva depois dos 50, com intervalo bianual entre os exames, a polêmica foi instalada. A controvérsia norte-americana chega ao Brasil às vésperas do Dia Mundial de Combate ao Câncer, comemorado na próxima sexta. No país de Barack Obama, o governo se apressou em dizer que a nova orientação não vai alterar a política de saúde, que prevê exame a partir dos 40 anos.No Brasil, a cartilha do Instituto Nacional de Câncer (Inca) recomenda o mesmo que a Força-Tarefa americana. Mas grande parte dos médicos e a Sociedade Brasileira de Mastologia discordam e batem o pé em defender o rastreamento do câncer por mamografia anualmente e a partir dos 40 anos. Em 2007, segundo dados do Inca, a doença tirou a vida de 2.741 mulheres com idade entre 50 e 59 anos, no Brasil. Número não muito maior do que as mortes ocorridas na faixa dos 40 a 49 anos: 2.051.Enquanto o Inca usa os efeitos provocados pelos exames confirmatórios e o estresse "desnecessário" causado pelos casos de falsos positivos, médicos se agarram à chance de salvar mais vidas para não seguir a diretriz oficial. E se apoiam, inclusive, na Lei Federal nº 11.664/08, que entrou em vigor em abril deste ano e garante a realização do exame a todas as mulheres, a partir dos 40 anos. Alguns médicos chegam a defender o exame preventivo ainda mais cedo: aos 35. Usam as experiências em consultório, onde percebem um aumento de mulheres jovens com câncer de mama, para justificar a antecipação.Redução de custosEstima-se que quase 50 mil casos da enfermidade surgiram no país em 2008. O que está em jogo nesta discussão é a prescrição da mamografia para mulheres que não apresentam nenhum sintoma, como nódulos paupáveis, e nem fazem parte do grupo de risco para desenvolver a doença. Nos Estados Unidos, onde a polêmica começou, um médico resumiu o pensamento de muitos especialistas da área: "A ideia de que se pode salvar apenas uma vida em meio a quase 2 mil mulheres examinadas não significa nada até essa única mulher salva ser você", disse o diretor de ginecologia do Hospital Roosevelt, Jacques Moritz, em entrevista ao jornal americano The New York Times.Na avaliação da médica radiologista Janice Lamas, que atua desde 1977 no diagnóstico de câncer, a reformulação do sistema de saúde americano, proposta pelo presidente Obama, implicará na redução de custos. "Isso inclui, entre outras medidas, limitar os procedimentos mais complexos desencadeados pela detecção de achados anormais nos exames mamográficos de rastreamento", afirma Janice, proprietária de uma das clínicas de radiologia mais experientes de Brasília.Segundo a médica, que realiza, em média, 60 mamografias por dia, o argumento de que a investigação por meio de mamografia em mulheres acima dos 40 anos contribui para a detecção de tumores que nunca poderiam trazer efeitos sobre a saúde da mulher "vai contra o atual conhecimento da biologia tumoral."1 - Método eficazRealizada em aparelhos específicos para avaliação das mamas, a mamografia é um tipo de radiografia especial que detecta em homens e mulheres o desenvolvimento de câncer. O procedimento é considerado a melhor oportunidade de identificar precocemente qualquer alteração nas mamas antes até que o paciente ou médico possam notá-la ou apalpá-la. Segundo o FDA, órgão norte-americano de vigilância sanitária, o exame pode detectar um câncer de mama até dois anos antes de ele ser palpável.Intuição e númerosEm maio de 2007, a gerente administrativa Aparecida Araújo, 43 anos, descobriu um pequeno nódulo na mama esquerda graças à mamografia. Paciente da médica Janice Lamas, ela realizou seu primeiro exame aos 41 anos. "Desde então, já fiz cinco vezes. Mas não é maligno", diz. Aliviada com o diagnóstico, a moradora da Colônia Agrícola Vicente Pires condena a recomendação americana para se submeter ao exame somente depois dos 50. "A não realização pode representar prejuízos às mulheres, sobretudo às mais jovens."Diferentemente dos Estados Unidos, onde biópsias mamárias e exames complementares são utilizados como ferramentas para defesa de processos judiciais - o que aumenta o número de procedimentos -, no Brasil, essas indicações estão atreladas ao aspecto da lesão mamária. "Verificamos fatores de risco e que devem enquadrar-se nos critérios da classificação internacional", observa Janice, que afirma que as taxas de câncer de mama são semelhantes em mulheres sem queixas ou sintomas de doença mamária, acima e abaixo de 50 anos, submetidas a rastreamento: 8,6 e 8,7 para cada grupo de mil.Segundo o sanitarista e oncologista clínico da Divisão de Apoio à Rede de Atenção Oncológica do Inca Ronaldo Corrêa, o exame para rastrear o câncer de mama na população de 50 a 69 anos tem a capacidade de reduzir em até 30% a mortalidade causada pela doença. Na faixa etária dos 40 aos 49, esse percentual cai para 10% a 15%. Corrêa alega que é preciso analisar a matemática do benefício do exame (diminuição da mortalidade e redução da mutilação da mama com o diagnóstico precoce) versus o malefício (repetição da mamografia, exames radiológicos, punções e estresse em casos em que não há doença ou apenas um tumor benigno).

Fonte: Agências

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