Política

Lava Jato vira caricatura de investigação partidária

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Sábado - 13/02/2016 às 13:02



Foto: Redação Piauihoje.com Operação Golpe a Jato.
Operação Golpe a Jato.
 A cobertura política está inteiramente tomada pela Lava Jato, e a Lava Jato virou uma investigação puramente político-partidária, com objetivo de realizar todo o tipo de devassa contra o PT e abastecer a imprensa de vazamentos cuidadosamente seletivos.

De vez em quando, a Lava Jato deixa escapar alguma informação contra a oposição, geralmente contra a vontade, mas nenhuma denúncia feita pelos delatores que não se encaixe estritamente na campanha contra o PT tem continuidade ou recebe atenção maior por parte da força tarefa.

Vários delatores já acusaram Aécio Neves, por exemplo. Mas a Lava Jato prefere investigar o sítio frequentado por Lula...

Hoje, a mesma coisa. As seções políticas dos jornalões vieram cheias de denúncias e ilações contra o PT.

A matéria contra João Santana na Folha é um exemplo típico de jornalismo pistoleiro, feito sob encomenda para atingir um objetivo político, auxiliado, como sempre, pela meganhagem.

Pior: o próprio Sergio Moro se aliou aos meganhas, visto que é o padrinho de uma situação em que as informações do processo são mantidas em conveniente sigilo. Sigilo para o público em geral e para a defesa, mas não para a mídia. O sigilo é fundamental para conferir poder para a mídia montar uma linha narrativa. Aí quando as informações vierem a público, a narrativa já estará consolidada na cabeça da opinião pública.

A reportagem da Folha contra João Santana, um texto repugnante, cheio de ilações, de verbos na condicional, de "suposto isso", "suposto aquilo", tem um objetivo bem claro: alimentar a narrativa golpista da mídia e a ação do PSDB contra as eleições em 2014, no TSE.

Não vai ter golpe.

Os golpistas serão derrotados novamente, antes do primeiro semestre. O golpe via TSE não vingará porque teria de engolfar o PMDB, e seria ainda mais traumática que o impeachment, porque mais covarde, mais autoritário, deixando o país ingovernável.

Para o PT, um golpe hondurenho seria até útil politicamente, porque sairia como vítima - vítima real - de um processo golpista, o que lhe daria uma aura heroica que poderia assegurar seu futuro político por várias décadas.

Mas seria ruim para o Brasil, manchando severamente nossa imagem, construída com tanta dificuldade, de uma democracia sólida, em que o direito político da maioria é respeitado acima de tudo, não sendo violado pelo covardia de meia dúzia de togados intimidados pela meganhagem midiática.

Em artigo malicioso na Folha, Bernardo Mello Franco diz que o TSE terá que escolher entre a tese de Sergio Moro ou a tese da dupla Dilma e Temer.

Não é nada disso.

O TSE terá que optar pelo justo. E o justo é que o resultado das urnas, o voto da maioria, de 54 milhões de eleitores, deve prevalecer sobre qualquer teoria oportunista defendida por derrotados.

A tentativa de tapetão judicial promoveu a união política - meio forçada, mas nem por isso menos sólida e interessante - entre Michel Temer, presidente do PMDB, e Dilma Rousseff. Ambos agora estão no mesmo barco, o que debilita um bocado uma oposição que contava com a divisão das forças governistas para reinar.

Esse é ponto-fraco dos golpistas, quase todos os instrumentos da democracia tendem em favor da defesa do resultado das urnas. Quanto mais os golpistas se agitam, mas eles se afogam no mar de suas contradições.

Eles precisam provocar caos econômico, revolta social. Ou seja, para derrubar a presidente, precisariam se tornar quase revolucionários, mas aí desperteriam forças que eles não querem, de maneira nenhuma, despertar. As figuras mais esclarecidas do grande empresariado já sabem disso. Os americanos, que já viram de tudo em seus mais de três séculos de democracia, sabem disso. Por isso muitos empresários e os americanos, ao contrário de outras épocas, não estão interessados num golpe aqui.

Um golpe abriria uma caixa de pandora que não seria fechada tão cedo. Se vale tudo para derrubar governante, não o faremos para cumprir agendinha neoliberal para beneficiar os nababos, como querem os tucanos. Se for para derrubar o governo, então será para fazer uma revolução de verdade.

Como os conservadores, alçados subitamente ao poder, sem legimitidade, sem votos, poderão conter as massas insatisfeitas?

Para isso existem movimentos sociais organizados, para canalizar e civilizar a revolta, de maneira que ela não se desencaminhe dos trâmites democráticos.

Há muito os movimentos sociais poderiam, por exemplo, pegar em armas.

Mas não. Eles escolhem o caminho das reinvindicações pacíficas, democráticas.

Um golpe romperia brutalmente esse pacto de confiança, delicado, frágil, contraditório, entre as elites e as massas.

Em outros tempos, a oposição teve de apelar para violentíssima repressão, numa onda crescente de truculências, praticando tortura, censura, assassinato político, proibindo qualquer tipo de reunião, aterrorizando a sociedade - sempre com auxílio e apoio das mesmas empresas de mídia que hoje se arvoram, hipocritamente, paladinas da liberdade.

Se a oposição repetir essa fórmula, explodirão o país, e nos transformarão em motivo de vergonha para o resto do mundo, após os anos em que fomos o orgulho do planeta, sob a gestão Lula, por causa do admirável e acelerado processo de ascensão social que promovemos.

Não, não podem fazer isso, porque não combina com os dias de hoje, mais transparentes em tudo.

A tese de Temer, que é a mesma de Dilma, é simples e lógica como uma rocha: as doações de campanha para Dilma foram registradas, carimbadas, protocoladas. É caixa 1. Criminalizar o caixa 2, tudo bem. Agora... criminalizar o caixa 1, é ridículo.

Ainda mais que Aécio recebeu ainda mais dinheiro, das mesmas empreiteiras às quais se acusa de terem doado ao PT como propina.

Como assim, propina? As empreiteiras sabiam que o PT venceria as eleições presidenciais? Não.

Além do mais, a tese embute um teoria absolutamente bizantina, para não dizer surreal: a de que as empreiteiras estavam mancomunadas para manter o PT no poder ad eternum.

Ora, a própria imprensa já vazou que executivos de algumas empreiteiras postavam mensagens nas redes sociais em favor de Aécio Neves.

As empreiteiras doam dinheiro para ambos os lados, tentando manter as boas relações com o vencedor das eleições, seja qual for.

Apenas o risco de golpe já provoca imenso estrago na economia, e a culpa recai, mais uma vez, numa imprensa historicamente golpista e que, em caso de golpe, terá feito justiça à sua fama, aliada aos meganhas da hora, um punhado de procuradores ultracoxinhas, com apoio expresso de um juiz ultratucano, sob o olhar intimidado ou cúmplice de outros juízes.

A "força-tarefa" da Lava Jato está prevaricando, manipulando uma investigação para agir de maneira criminosa, pautando a mídia a partir de "indícios" sem base alguma.

É óbvio que, na atual conjuntura, apenas a publicação da matéria já é uma condenação política em si.

Fonte: Miguel do Rosário

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